sexta-feira, 3 de junho de 2016

Tio” João Salgado

José Saúde

A história do futebol em Beja é digna de enlaces colossais. O jogo da bola desbravou caminhos que o homem soube sempre dar- -lhes novos contornos. Sob a sua hábil entrega ao cosmos desportivo, subscreveu páginas de glória numa modalidade onde não foi personagem de revelo no interior das quatro linhas, mas fora delas. Aliás, a entusiasta empatia com os clubes que o acolheram revelou-se incessantemente em áreas subjacentes. O centenário do Luso e do Desportivo de Beja, clubes umbilicalmente ligados pela data de fundação do primeiro, 6 de junho de 1916, remete--nos para parâmetros admiráveis. É lícito que nas narrativas avulsas que envolvem os festejos sejam também preenchidas com personagens que muito contribuíram para a evolução do futebol na envelhecida Pax Julia. Falo de João Nobre Franco, o popular “tio” João Salgado. Figura proeminente no mundo da bola, o “tio” João Salgado foi um dedicado encarregado dos equipamentos do Luso e supremo guardião-mor do estádio Condeça d’ Avilez. Todavia, após a fusão entre o Luso, o União e o Pax Julia, 8 de setembro de 1947, e que originou a fundação do Desportivo, o pacato homem exerceu as funções de massagista na novel agremiação. Fidalgo de rústicos conhecimentos clínicos entretanto adquiridos, o “tio” João Salgado fabricava a célebre “boqueja” trabalhada manualmente por sua conta e risco e que visava dar alento físico aos craques. Os ingredientes utilizados na feitura do miraculoso remédio era um segredo dos deuses e que só ele o sabia. A finalidade passava por massajar as pernas dos jogadores. Conheci o cheiro horroroso emanado pela mixórdia e o seu efeito nas “gâmbias” da rapaziada que saíam da terapia com os membros inferiores dolorosamente inflamados. Ainda hoje o pessoal da bola de outrora, em tertúlias de amigos, não refutam em trazer à tona da conversa as milagrosas massagens feitas às sextas--feiras. “Tio” João Salgado, uma antiga referência que justamente trago à liça nos 100 anos que contemplam insofismáveis crónicas. 

Fonte:  http://da.ambaal.pt

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