José Saúde
A história do futebol em Beja é digna de
enlaces colossais. O jogo da bola desbravou caminhos que o homem soube
sempre dar- -lhes novos contornos. Sob a sua hábil entrega ao cosmos
desportivo, subscreveu páginas de glória numa modalidade onde não foi
personagem de revelo no interior das quatro linhas, mas fora delas.
Aliás, a entusiasta empatia com os clubes que o acolheram revelou-se
incessantemente em áreas subjacentes. O centenário do Luso e do
Desportivo de Beja, clubes umbilicalmente ligados pela data de fundação
do primeiro, 6 de junho de 1916, remete--nos para parâmetros admiráveis.
É lícito que nas narrativas avulsas que envolvem os festejos sejam
também preenchidas com personagens que muito contribuíram para a
evolução do futebol na envelhecida Pax Julia. Falo de João Nobre Franco,
o popular “tio” João Salgado. Figura proeminente no mundo da bola, o
“tio” João Salgado foi um dedicado encarregado dos equipamentos do Luso e
supremo guardião-mor do estádio Condeça d’ Avilez. Todavia, após a
fusão entre o Luso, o União e o Pax Julia, 8 de setembro de 1947, e que
originou a fundação do Desportivo, o pacato homem exerceu as funções de
massagista na novel agremiação. Fidalgo de rústicos conhecimentos
clínicos entretanto adquiridos, o “tio” João Salgado fabricava a célebre
“boqueja” trabalhada manualmente por sua conta e risco e que visava dar
alento físico aos craques. Os ingredientes utilizados na feitura do
miraculoso remédio era um segredo dos deuses e que só ele o sabia. A
finalidade passava por massajar as pernas dos jogadores. Conheci o
cheiro horroroso emanado pela mixórdia e o seu efeito nas “gâmbias” da
rapaziada que saíam da terapia com os membros inferiores dolorosamente
inflamados. Ainda hoje o pessoal da bola de outrora, em tertúlias de
amigos, não refutam em trazer à tona da conversa as milagrosas massagens
feitas às sextas--feiras. “Tio” João Salgado, uma antiga referência que
justamente trago à liça nos 100 anos que contemplam insofismáveis
crónicas.
Fonte: http://da.ambaal.pt
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