sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A meia laranja

José Saúde

Numa pesquisa aos usos e costumes que outrora proliferaram no meio, remeto o leitor para a inalterável certeza que poucas eram as terras da região que não usufruíssem de um espaço onde à tona da conversa surgissem as espontâneas tertúlias desportivas. Aliás, eram trocas de opiniões que se expandiam velozmente no tempo. A meia laranja, em Beja, circunscrita à zona nobre da cidade, Portas de Mértola, era o local favorável para a malta examinar as suas razões sobre a narrativa de eleição, botando amiúde ténues pareceres noutras temáticas embora o fizesse sob o signo da precaução. Na meia laranja, cravada entre a Ginjinha, onde o senhor Secundinho deliciava a rapaziada com as célebres carochas, o lendário Café Luís da Rocha e a Papelaria Correia, dissecavam-se os espíritos clubistas ou a vertente desportiva que cada um dos comparsas partilhava. Estávamos no mês de agosto, época de canícula, e recordo as horas passadas naquela nostálgica tribuna onde as novidades emergiam em catadupa. O dia de São Lourenço, 10, data da tourada anual inserida na feira de agosto, era também uma oportunidade para os cavaleiros de elite passarem por ali e mostrarem-se previamente a um público que vivia com o êxtase o fidalgo momento. Recordo, que a meia laranja era, simultaneamente, a montra para os novos craques do Desportivo de Beja se apresentarem à cidade. Lembro a azáfama domingueira por uma ida ao local de “culto” para mirar os craques que entretanto visitavam a velha Pax Júlia. Pela meia laranja desfilaram personagens cuja dinâmica impunha ordem ao povo que delirava com a circunstância deparada. Falava-se de tudo. Cruzavam-se ideias, debatiam-se ideais e a diversidade de temas tratados era ajustada a supostas discussões. Dialogava-se sobre a questão das aquisições, das transferências e da ida do jogador fulano tal para um dos emblemas mais sonantes do futebol lusitano. Tudo se dispersava a contento dos defensores da causa. Como eram elevados esses tempos passados na meia laranja!

Fonte: http://da.ambaal.pt/

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