sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Almodôvar respira ciclismo


“Força campeões!” Uma frase estampada nas camisolas de cerca de duas dezenas de amigos e familiares dos dois ciclistas sul alentejanos que correram a 78.ª Volta a Portugal em Bicicleta com a camisola da Efapel.

Texto e foto Firmino Paixão

O estímulo nem era preciso, porque campeões são eles desde sempre, desde que nasceram numa terra de ciclistas, Almodôvar, no interior do Alentejo, a meio caminho entre a planície transtagana e as serranias do Algarve. Lutaram e sofreram por um lugar no pelotão nacional. O ciclismo é uma modalidade de sofrimento e glória.
Daniel Mestre nasceu no primeiro dia de abril de 1986, é tido como um bom contrarrelogista, tem resultados relevantes na Volta à Madeira, Nacional de Contrarrelógio Sub/23 e Nacional de Elites em Linha, Volta às Terras de Santa Maria, Volta a Marrocos e Volta ao Alentejo. Henrique Casimiro nasceu 21 dias depois do conterrâneo. É um trepador com assinaláveis resultados na Volta à Bulgária (2009/2010), no Troféu Internacional Joaquim Agostinho e no Nacional de Contra Relógio, em Elites. Ambos deram as primeiras pedaladas na sua terra natal, até se profissionalizarem com a camisola do Tavira, clube que representaram durante nove temporadas, até se transferirem para a Efapel – Equipa Profissional de Ciclismo do Clube Desportivo Fullracing, de Ovar, cujo corredor principal é Joni Brandão e Américo Silva o diretor desportivo.
Foi com esta camisola, verde fluorescente, que Daniel Mestre venceu neste ano duas etapas (metas em Braga e Setúbal) e andou um dia com o símbolo da liderança. Terminou a prova no 19.º lugar da geral, 2.º na classificação por pontos e assumiu que “a volta correu acima das minhas expectativas, nunca pensei vencer duas etapas e, principalmente, andar com a camisola amarela”. Por isso, diz: “Foi a concretização de um sonho. O principal objetivo, que não conseguimos alcançar, seria termos ganho esta volta com o Joni Brandão, queríamos colocá-lo no pódio final, foi para isso que trabalhámos ao longo destes dias, mas os adversários foram mais fortes”. Envergar a camisola amarela no final da etapa entre Braga: “Foi um momento daqueles de que nunca estamos à espera, embora trabalhe bastante e todos os dias para que isso aconteça, mas ganhei a etapa que chegou a Braga e depois a que terminou em Setúbal e isso foi excelente. É sempre uma sensação especial estar no meio do pelotão com a camisola amarela, são momentos que ficam para a história”.
Daniel Mestre tem o sonho de qualquer ciclista, vencer uma Volta a Portugal, mas sabe que “é muito complicado devido às características das Voltas a Portugal”: “Temos de ser trepadores puros, contrarrelogistas puros, e eu sou um ciclista completo mas não tenho uma especialidade específica e com qualidades natas para ela, trepador ou contrarrelogista”. Ainda assim, e porque nasceu numa terra de ciclistas, “sacrifico-me muito e luto todos os dias para dignificar a minha terra e para dar muitas alegrias aos almodovarenses”.
Henrique Casimiro fez uma prova mais discreta, mas também muito regular, e chegou ao final com um 7.º lugar na geral, razões para afirmar: “A volta correu-me dentro do esperado, o objetivo da equipa era discutir a prova com o Joni Brandão, tentámos tudo, os adversários foram mais fortes, mas em nenhum momento desistimos”. Viu Daniel Mestre ganhar duas etapas e pedalar um dia de amarelo: “Dada a relação que tenho com o Daniel, foram os momentos mais bonitos que vivi no ciclismo desde que me conheço, só espero que seja para repetir no futuro”. Amigos e cúmplices, afinal: “Não somos apenas companheiros de equipa, somos irmãos, demo-nos sempre como irmãos, ele é o meu irmão mais velho [são 21 dias de diferença], por isso, as vitórias dele são as minhas vitórias e vice-versa”.
A ambição de Henrique Casimiro “é chegar ao fim de cada etapa, de cada prova ou de cada época com a consciência tranquila de que dei o meu melhor em prol da equipa e do objetivo, ter a consciência tranquila e saber que o meu dever está a ser cumprido é a ambição maior que levo na roda”, no entanto, ao contrário de outros corredores, gostaria “de competir no calendário estrangeiro, mas representando uma equipa portuguesa. É mais difícil de conseguir do que sair lá para fora, mas é uma coisa que gostaria que acontecesse, de resto, ganhar uma etapa na volta ou discutir a vitória na prova são sempre os objetivos maiores de qualquer corredor. Ao longo dos últimos anos tenho vindo a trabalhar para me tornar um corredor cada vez mais completo e os resultados também estão à vista”, ou não fosse ele também um bom almodovarense: “Almodôvar é uma terra de ciclistas, respira ciclismo e é por todos os nossos conterrâneos que nós procuramos sempre dar algo mais”, concluiu.  

Fonte: http://da.ambaal.pt

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