José Saúde
O ser humano vive encarecidamente de memórias.
Memórias que o tempo jamais ousará abolir de uma vida que lhe concede
créditos para trazer a público altivas imagens dantes conhecidas. Revejo
craques que me insuflaram crenças inabaláveis. Beja, cidade que conheço
há cerca de 60 anos, guiou-me para a sinuosidade de díspares prazeres
desportivos. O futebol sempre norteou uma inquestionável vivência que me
levou a conhecer fidalgos do jogo da bola. Num pulverizar de memórias,
viajo pelo antigo Estádio Frederico Ulrich, mais tarde Flávio dos
Santos, em Beja, e revejo magníficas equipas do Desportivo atulhadas de
convincentes deuses. Evoco, com elegância, Filipe António Serra Machado,
um cidadão que nasceu a 20 de setembro de 1943 na freguesia do
Salvador, de Beja, e que numa panóplia de dotados bebeu ensinamentos de
António Feliciano, uma das três “torres” de Belém, sendo ele um
admirável atleta que se distinguiu no Belenenses em finais de 1940.
Filipe, em meados da década de 1950, integrou uma escola de futebol
orientada por Feliciano, então treinador da equipa sénior do Desportivo,
mas que se dedicou também à descoberta de novos valores. Desse felino
olhar do mestre destacaram-se, entre outros, este grupo de miúdos: Nói e
Joaquim Madeira, Diogo Mendonça, Lagancha, Diogo Barrocas, Rousseau,
Viriato, Rosa, Carlos Alvito e Carocinho. Como central de distinta
eleição, e como sénior nos idos de 1960, logo os holofotes da fama se
acenderam com estrondoso fulgor. Comentou-se, em tertúlias desportivas,
que a direção do Desportivo de Beja ter-lhe-á sonegado uma proposta
vinda do Benfica que pretendia a sua contratação, visto que o objetivo
dos dirigentes do clube da Luz davam a jovem promessa como contratação
segura numa dinastia de centrais que a história do grémio encarnado
literalmente ovacionava. Com o rotundo não dos senhores que comandavam a
coletividade bejense, o Sport Lisboa e Benfica virou-se para Luciano,
jogador do Olhanense, para colmatar a vaga deixada entretanto em aberto
pelo astro alentejano. Mas os dotes futebolísticos de Filipe galgaram
fronteiras, sendo que nesta fase de enorme brilho entrou na corrida pela
sua aquisição o Vitória de Guimarães, mas o craque recusou. Dissecando a
carreira do génio, e os boatos que circularam na cidade que o davam
como certo no Lusitano de Évora, a verdade é que tal viagem não se
concretizou porque os lusitanistas recusaram pagar os 30 contos de
“luvas” exigidos, dinheiro que se destinava à compra de um automóvel,
mas garantindo o vencimento de 1 500 escudos mensais e um emprego.
Filipe, uma lenda do futebol e cuja subtileza futebolística usada a
população paxjuliana jamais esquecerá.
Fonte: http://da.ambaal.pt/n
Podem seguir o seguinte endereço eletrónico que fala do Clube Desportivo de Beja. A foto da equipa da Época de 1962/63, representa um feito histórico, que foi a Subida à Segunda Divisão Nacional de Futebol.
ResponderEliminarhttp://cdbeja.weebly.com/centenaacuterio.html