sexta-feira, 26 de outubro de 2018

João Candeias assume que Mineiro quer ser campeão

Em 2018-2019 o caminho da formação do Mineiro Aljustrelense é só um: ser campeão distrital e regressar aos campeonatos nacionais, assume o treinador da formação tricolor. Em entrevista ao "CA", João Candeias fala sobre os objectivos desta temporada e compara os adeptos do seu clube aos hinchas do Real Madrid!
"Equiparo os adeptos do Mineiro aos do Real Madrid, porque ganhar por 5-0 não chega. Tens de ganhar por 5-0 e jogar bem, não podes ter um erro em campo. Eles são bastante exigentes e isso é bom, pois também nos obriga a trabalhar e a exigir mais de nós", diz.

O Mineiro Aljustrelense está obrigado a ser campeão este ano?
[risos] O Mineiro propôs-se a um objectivo, definimos qual era o caminho e o caminho é ser campeão! Mas agora temos de trabalhar para isso, só dizer que queremos ser campeões não chega.

Todos apontam o Mineiro como grande candidato ao título. Sentem essa "pressão" exterior?
Nós temos conhecimento dessa realidade, mas o nosso foco é no nosso trabalho, nas nossas ideias e seguir isso à risca. Tentamos abstrair-nos ao máximo disso, mas sabemos que em certos jogos certamente que os adeptos vão ficar mais satisfeitos, noutros nem tanto… Mas isso faz parte do caminho.

Há muito tempo que o clube não passava duas épocas consecutivas no distrital. Tem noção que os adeptos vão "cobrar" a subida à equipa?
Tenho a certeza que sim! Equiparo os adeptos do Mineiro aos do Real Madrid, porque ganhar por 5-0 não chega – tens de ganhar por 5-0 e jogar bem, não podes ter um erro em campo. Eles são bastante exigentes e isso é bom, pois também nos obriga a trabalhar e a exigir mais de nós. Sabemos que temos alguma qualidade, mas temos de trabalhar muito. Os adeptos têm de perceber que isto faz tudo parte de um processo e que é um projecto de futuro.

Estão decorridos dois meses de temporada: está satisfeito com o rendimento da equipa até ao momento? Está dentro do que eram as vossas expectativas iniciais?
Sim, sim… Na Taça de Portugal sabemos como foi o caminho, o curto caminho. Penso que não fomos felizes a calhar logo com uma excelente equipa como é o Anadia, candidata à subida [no Campeonato de Portugal]. Mas sabíamos que a Taça de Portugal valia pelo factor financeiro, mais nada! A não ser que calhasse aqui uma equipa da I Liga, não tinha mais nenhum interesse para além do factor financeiro. Na Taça de Honra optámos por dar minutos a todos os jogadores, para estarem todos ao mesmo nível. No campeonato claro que já não é assim! Sabemos que temos soluções, mas é o nosso principal objectivo e não podemos facilitar, porque é um campeonato tão curto que ao mínimo deslize a outra equipa está em cima de ti.

Olhando para o plantel, registou-se a saída de três "históricos": Carlos Estebaínha, Nuno Alves e Nelson Raposo. Foi vontade desses atletas ou uma opção do clube?
Foi tudo opção deles. Tudo na vida tem princípio e fim. Foi o fim de um ciclo e o Mineiro tem de estar eternamente grato a esses grandes homens.
Neste momento o Mineiro está a seguir um caminho, na minha opinião, muito inteligente. Estão a fazer-se inovações a nível de estrutura da direcção, a nossa equipa técnica é composta por quatro elementos, com mais um massagista e fisioterapeuta. Acho que esse é o caminho de futuro, porque o futebol está a dar passos muito largos e temos de acompanhar essa realidade. E se realmente a ideia é sermos campeões distritais para irmos para o nacional, temos que acompanhar a evolução do futebol.

Serem profissionais dentro do amadorismo?
Exactamente!

Em 2018-2019 temos um campeonato distrital da 1ª divisão a 11. Isso aumenta a competitividade ou retira interesse à prova?
Na minha opinião não retira interesse nenhum. Para já, todas as equipas que se reforçaram estão mais fortes. Veja-se o caso do Aldenovense, que no ano passado andou sempre cá em baixo e este ano reforçou-se bem e de forma inteligente. Acho que as equipas estão todas mais fortes e como são tão poucos jogos, ao mínimo deslize as equipas ficam todas muito próximas umas das outras e isso pode ser um risco. Por isso temos que encarar cada jogo como uma final, porque toda a gente quer ganhar ao Mineiro.

Além do Mineiro, quem poderá também entrar na luta pelo título? FC Castrense, Milfontes, Almodôvar?
Penso que andará por aí… Mas acho que há equipas que poderão tornar-se muito "chatas" e, possivelmente, vão roubar pontos às equipas teoricamente mais fortes.

Falámos de um campeonato a 11, fruto das circunstâncias que sabemos, mas que espelha também a realidade da formação no distrito, onde há muito que não há um campeonato de juniores com mais de cinco ou seis equipas. Sente que o futuro do futebol no distrito de Beja está em risco?
Parece-me que é preocupante, porque…

Porque…
Acho que há vários factores para isto acontecer. Um deles é o associativismo estar a acabar. E depois – e não estou a dizer que não há expecções, pois trabalhei com muitos directores-pais – se calhar não é tão benéfico haver directores-pais, treinadores-pais… O que eu quero dizer é que as pessoas estão no associativismo por interesse, porque estão lá os filhos. E neste momento os clubes têm de se sujeitar a isso, porque não há mais ninguém. Esse é um factor principal para mim. O outro tem que ver com o facto de a sociedade estar a mudar. Os jovens têm cada vez mais escolhas, mais opções para fazer desporto… E acho sinceramente que tem de ser fazer alguma coisa para combater o abandono do futebol. Também me parece que o facto de os jogadores começarem tão cedo [no futebol] também os faz abandonar cedo, daí não haver juniores. E não havendo juniores isso pode ser preocupante, pois é deste escalão que podemos retirar alguma qualidade sem ter necessidade de ir ao Algarve ou a Setúbal – como nós fomos – buscar jogadores de qualidade. Acredito que aqui há qualidade, mas não podemos deixar os miúdos abandonarem o futebol. No ano passado, quando comecei com os juvenis, tínhamos uma equipa que, toda a gente via, era limitada. Esses miúdos, se calhar, no ano passado é que aprenderam verdadeiramente coisas sobre o futebol, tanto a nível técnico como táctico. Tinha miúdos que não sabiam fazer dois passes, isto é verídico! E no fim acabaram por disputar a final de uma taça. Mas isto dá tudo muito trabalho e eu fui buscar várias vezes jogadores a Ourique, a Beja, todos os fins-de-semana, para irem jogar. E as pessoas também têm de pensar nisto: se realmente querem, tem de se fazer um esforço grande e tem quase de ser por amor à camisola. Se não, não se vai conseguir…

Assim se explica que, excepção feita ao Moura AC, há muito que uma equipa do distrito não consegue fazer duas épocas consecutivas no nacional?
Exactamente! E o nosso projecto passa mesmo por aí: à imagem do que o Mineiro fez há 10 anos atrás, construir uma base para depois irmos buscar dois ou três jogadores de foram com qualidade acima da média, para conseguirmos a manutenção nos nacionais. De outra forma não conseguimos!

É a segunda vez que o João Candeias inicia a temporada como treinador principal do Mineiro Aljustrelense. Sente-se hoje melhor preparado para este desafio do que estava em 2015-2016?
Sim, sem dúvida! Não é que não me tivesse sentido capaz na outra altura, mas hoje vejo-me – e temos que ser realistas – mais capaz, com uma bagagem maior, com mais experiência e, principalmente, a saber aquilo que quero. Tenho o caminho bem traçado, estou rodeado de pessoas que sei que me apoiam e acho que estamos no caminho certo.

Tem 33 anos. Acalenta a ambição de subir patamares enquanto treinador, ter uma carreira profissional?
Sem dúvida que sim! Não ponho isso fora de hipótese, pois no futebol basta a oportunidade. Sei que é bastante difícil, porque há cada vez mais jovens a quererem ser treinadores, mas não deixo de sonhar com isso.

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