Em 2018-2019 o caminho da formação do Mineiro Aljustrelense é só um:
ser campeão distrital e regressar aos campeonatos nacionais, assume o
treinador da formação tricolor. Em entrevista ao "CA", João Candeias
fala sobre os objectivos desta temporada e compara os adeptos do seu
clube aos hinchas do Real Madrid!
"Equiparo os adeptos do Mineiro aos do Real Madrid, porque ganhar por
5-0 não chega. Tens de ganhar por 5-0 e jogar bem, não podes ter um erro
em campo. Eles são bastante exigentes e isso é bom, pois também nos
obriga a trabalhar e a exigir mais de nós", diz.
O Mineiro Aljustrelense está obrigado a ser campeão este ano?
[risos] O Mineiro propôs-se a um objectivo, definimos qual era o caminho
e o caminho é ser campeão! Mas agora temos de trabalhar para isso, só
dizer que queremos ser campeões não chega.
Todos apontam o Mineiro como grande candidato ao título. Sentem essa "pressão" exterior?
Nós temos conhecimento dessa realidade, mas o nosso foco é no nosso
trabalho, nas nossas ideias e seguir isso à risca. Tentamos abstrair-nos
ao máximo disso, mas sabemos que em certos jogos certamente que os
adeptos vão ficar mais satisfeitos, noutros nem tanto
Mas isso faz
parte do caminho.
Há muito tempo que o clube não passava duas épocas consecutivas no
distrital. Tem noção que os adeptos vão "cobrar" a subida à equipa?
Tenho a certeza que sim! Equiparo os adeptos do Mineiro aos do Real
Madrid, porque ganhar por 5-0 não chega tens de ganhar por 5-0 e jogar
bem, não podes ter um erro em campo. Eles são bastante exigentes e isso
é bom, pois também nos obriga a trabalhar e a exigir mais de nós.
Sabemos que temos alguma qualidade, mas temos de trabalhar muito. Os
adeptos têm de perceber que isto faz tudo parte de um processo e que é
um projecto de futuro.
Estão decorridos dois meses de temporada: está satisfeito com o
rendimento da equipa até ao momento? Está dentro do que eram as vossas
expectativas iniciais?
Sim, sim
Na Taça de Portugal sabemos como foi o caminho, o curto
caminho. Penso que não fomos felizes a calhar logo com uma excelente
equipa como é o Anadia, candidata à subida [no Campeonato de Portugal].
Mas sabíamos que a Taça de Portugal valia pelo factor financeiro, mais
nada! A não ser que calhasse aqui uma equipa da I Liga, não tinha mais
nenhum interesse para além do factor financeiro. Na Taça de Honra
optámos por dar minutos a todos os jogadores, para estarem todos ao
mesmo nível. No campeonato claro que já não é assim! Sabemos que temos
soluções, mas é o nosso principal objectivo e não podemos facilitar,
porque é um campeonato tão curto que ao mínimo deslize a outra equipa
está em cima de ti.
Olhando para o plantel, registou-se a saída de três "históricos":
Carlos Estebaínha, Nuno Alves e Nelson Raposo. Foi vontade desses
atletas ou uma opção do clube?
Foi tudo opção deles. Tudo na vida tem princípio e fim. Foi o fim de um
ciclo e o Mineiro tem de estar eternamente grato a esses grandes homens.
Neste momento o Mineiro está a seguir um caminho, na minha opinião,
muito inteligente. Estão a fazer-se inovações a nível de estrutura da
direcção, a nossa equipa técnica é composta por quatro elementos, com
mais um massagista e fisioterapeuta. Acho que esse é o caminho de
futuro, porque o futebol está a dar passos muito largos e temos de
acompanhar essa realidade. E se realmente a ideia é sermos campeões
distritais para irmos para o nacional, temos que acompanhar a evolução
do futebol.
Serem profissionais dentro do amadorismo?
Exactamente!
Em 2018-2019 temos um campeonato distrital da 1ª divisão a 11. Isso aumenta a competitividade ou retira interesse à prova?
Na minha opinião não retira interesse nenhum. Para já, todas as equipas
que se reforçaram estão mais fortes. Veja-se o caso do Aldenovense, que
no ano passado andou sempre cá em baixo e este ano reforçou-se bem e de
forma inteligente. Acho que as equipas estão todas mais fortes e como
são tão poucos jogos, ao mínimo deslize as equipas ficam todas muito
próximas umas das outras e isso pode ser um risco. Por isso temos que
encarar cada jogo como uma final, porque toda a gente quer ganhar ao
Mineiro.
Além do Mineiro, quem poderá também entrar na luta pelo título? FC Castrense, Milfontes, Almodôvar?
Penso que andará por aí
Mas acho que há equipas que poderão tornar-se
muito "chatas" e, possivelmente, vão roubar pontos às equipas
teoricamente mais fortes.
Falámos de um campeonato a 11, fruto das circunstâncias que sabemos,
mas que espelha também a realidade da formação no distrito, onde há
muito que não há um campeonato de juniores com mais de cinco ou seis
equipas. Sente que o futuro do futebol no distrito de Beja está em
risco?
Parece-me que é preocupante, porque
Porque
Acho que há vários factores para isto acontecer. Um deles é o
associativismo estar a acabar. E depois e não estou a dizer que não há
expecções, pois trabalhei com muitos directores-pais se calhar não é
tão benéfico haver directores-pais, treinadores-pais
O que eu quero
dizer é que as pessoas estão no associativismo por interesse, porque
estão lá os filhos. E neste momento os clubes têm de se sujeitar a isso,
porque não há mais ninguém. Esse é um factor principal para mim. O
outro tem que ver com o facto de a sociedade estar a mudar. Os jovens
têm cada vez mais escolhas, mais opções para fazer desporto
E acho
sinceramente que tem de ser fazer alguma coisa para combater o abandono
do futebol. Também me parece que o facto de os jogadores começarem tão
cedo [no futebol] também os faz abandonar cedo, daí não haver juniores. E
não havendo juniores isso pode ser preocupante, pois é deste escalão
que podemos retirar alguma qualidade sem ter necessidade de ir ao
Algarve ou a Setúbal como nós fomos buscar jogadores de qualidade.
Acredito que aqui há qualidade, mas não podemos deixar os miúdos
abandonarem o futebol. No ano passado, quando comecei com os juvenis,
tínhamos uma equipa que, toda a gente via, era limitada. Esses miúdos,
se calhar, no ano passado é que aprenderam verdadeiramente coisas sobre o
futebol, tanto a nível técnico como táctico. Tinha miúdos que não
sabiam fazer dois passes, isto é verídico! E no fim acabaram por
disputar a final de uma taça. Mas isto dá tudo muito trabalho e eu fui
buscar várias vezes jogadores a Ourique, a Beja, todos os
fins-de-semana, para irem jogar. E as pessoas também têm de pensar
nisto: se realmente querem, tem de se fazer um esforço grande e tem
quase de ser por amor à camisola. Se não, não se vai conseguir
Assim se explica que, excepção feita ao Moura AC, há muito que uma
equipa do distrito não consegue fazer duas épocas consecutivas no
nacional?
Exactamente! E o nosso projecto passa mesmo por aí: à imagem do que o
Mineiro fez há 10 anos atrás, construir uma base para depois irmos
buscar dois ou três jogadores de foram com qualidade acima da média,
para conseguirmos a manutenção nos nacionais. De outra forma não
conseguimos!
É a segunda vez que o João Candeias inicia a temporada como treinador
principal do Mineiro Aljustrelense. Sente-se hoje melhor preparado para
este desafio do que estava em 2015-2016?
Sim, sem dúvida! Não é que não me tivesse sentido capaz na outra altura,
mas hoje vejo-me e temos que ser realistas mais capaz, com uma
bagagem maior, com mais experiência e, principalmente, a saber aquilo
que quero. Tenho o caminho bem traçado, estou rodeado de pessoas que sei
que me apoiam e acho que estamos no caminho certo.
Tem 33 anos. Acalenta a ambição de subir patamares enquanto treinador, ter uma carreira profissional?
Sem dúvida que sim! Não ponho isso fora de hipótese, pois no futebol
basta a oportunidade. Sei que é bastante difícil, porque há cada vez
mais jovens a quererem ser treinadores, mas não deixo de sonhar com
isso.
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