O Judo Clube de Beja tem o seu ‘dojo’ encerrado. A atividade está suspensa, face ao continuado estado de emergência que o país tem vivido. Os ‘tatamis’ aguardam o regresso à normalidade e à atividade regular.
Texto e Foto Firmino Paixão
A mais do que provável perda de jovens praticantes, a diminuição de receitas financeiras e a suspensão de competições são os efeitos mais perversos desta crise epidemiológica, transversal à sociedade, ao desporto em geral, e do judo propriamente dito, contrariedades que Francisco Gaitinha, presidente do Judo Clube de Beja, identifica num desporto praticado face a face, logo de risco de contágio elevado, num ano em que o Campeonato da Europa da modalidade se disputará em Lisboa.
A atividade suspensa e o ‘dojo’ encerrado devido aos efeitos da pandemia. Para quem, desde muito jovem, abraçou a prática e o ensino desta modalidade, tem sido angustiante?
Sim, esta situação que se vive é uma tristeza para todos os judocas. As coisas estão complicadas… quando existiu o primeiro confinamento fechámos dois meses. Reabrimos em junho e os miúdos voltaram em muito menor número, uns 10 ou 12, dos mais de 30 que tínhamos a praticar.
Ainda assim, nesse período, foi possível desenvolver alguma atividade?
Fizemos alguns jogos, mantivemos a atividade física, sempre com as medidas de segurança aconselháveis para o efeito. Compreendemos o receio dos miúdos e dos próprios pais, mas os miúdos vinham regressando gradualmente. Agora, com este segundo confinamento, tivemos que suspender, de novo, as atividades e encerrar o ‘dojo’, com a incerteza de quando será possível o regresso à normalidade. As previsões apontam para o regresso nos meses de abril ou de maio, vamos ver.
Os atletas seniores, de alta competição, mantém a atividade porque, este ano, existem compromissos internacionais?
Claro, a seleção continua a treinar. Em abril está prevista a realização do Campeonato da Europa, em Lisboa, vamos ver se será possível concretizar-se, e depois teremos os Jogos Olímpicos. Portanto, esses judocas têm que manter o seu programa de treinos. Alguns atletas nas categorias de cadetes e juniores que queiram treinar e tenham possibilidades de se deslocar a Coimbra poderão fazê-lo, fazem o teste de despistagem à covid-19 e treinam em segurança mas, face à distância, é pouco viável que isso suceda.
O judo é uma modalidade de risco muito elevado, existe um contacto próximo e muito intenso entre os atletas…
Claro, mas estes atletas são sujeitos a testes com muita frequência, estão confinados numa unidade hoteleira para não existirem contactos de risco e treinam duas vezes por dia. Aqui não seria possível praticarmos essas medidas, porque acarretam custos financeiros elevados. Os atletas têm algum receio de treinar e preferem esperar que a situação melhore.
A ausência de competições, sobretudo ao nível da formação, tem desmotivado os praticantes?
Os miúdos, ao nível dos benjamins, iniciados e juvenis, gostam imenso de competir. Nós organizávamos anualmente competições em Beja, nomeadamente a Taça Cruz Martins, no mês de maio, que assinala o nosso aniversário. Vamos ver se será possível organizá-la ainda este ano. Mas também participávamos noutras provas em diversos locais para onde éramos convidados e, não existindo essa possibilidade, é evidente que os miúdos sentem falta desses convívios.
Sem atividade, as dificuldades financeiras avolumam-se?
Tem sido muito complicado. No que diz respeito ao Judo Clube de Beja esperamos que não nos cortem o apoio que habitualmente nos é concedido pela Câmara de Beja, senão não teremos como pagar a renda, a água e a eletricidade. Ficaríamos numa situação muito complicada. Mas esperamos que esses apoios se mantenham, não só para nós, como ao associativismo em geral.
A Federação Portuguesa de Judo e a Associação de Judo de Beja têm podido ajudar de alguma forma?
A federação dá uma determinada verba às associações regionais para apoio aos clubes, mas em termos de inscrições e para o apoio na logística de algumas provas onde possamos estar presentes. As verbas são sempre insuficientes.
Este é um ano importante para o judo nacional. O Campeonato da Europa em Portugal e os Jogos Olímpicos Tóquio/20 serão dois momentos para conquistarmos medalhas?
Conseguimos apurar 10 atletas para os Jogos Olímpicos, competição onde, naturalmente, irão conquistar medalhas. Temos um campeão do mundo, o Jorge Fonseca, e a Telma Monteiro, que foi campeã da Europa. Temos vários atletas de quem esperamos bons resultados.
O Campeonato da Europa será um evento importante, realiza-se em Portugal pela segunda vez, a primeira em 2008, e o Francisco Gaitinha vai estar lá como árbitro de elite que é?
Sim, vou estar presente como árbitro e também na qualidade de presidente da Associação de Árbitros de Portugal. Estarei lá com muito orgulho, gostando do judo como gosto. Estar presente nestes eventos é algo que tem muito significado para mim e para o Judo Clube de Beja.
Confiante no regresso à normalidade muito em breve?
Sim, mas será um regresso gradual, vamos ter alguns problemas, é um processo que levará cerca de um ano até voltarmos ao nível em que estávamos antes da pandemia… terá que decorrer o processo de vacinação, ganharmos imunidade de grupo, mas estamos confiantes.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt/
Sem comentários:
Enviar um comentário