sábado, 8 de maio de 2021

“O padel exige muito trabalho e muita dedicação”

O Clube Beja Padel nasceu há quase três anos pela mão do antigo comissário de bordo, também praticante de ténis, Guilherme Gaivão, oferecendo à cidade de Beja uma nova, e muito dinâmica, modalidade.

 

Texto Firmino Paixão

 

Guilherme Gaivão é um antigo comissário de bordo que trabalhou em diversas companhias aéreas, entre elas a Hi-Fly; também ex-tenista que, por razões profissionais e familiares, chegou a Beja, cidade onde descobriu que existia uma oportunidade ainda não aproveitada neste território. Assim nasceu, no Complexo de Ténis da Zona Azul, o Clube Beja Padel. “A partir desse momento, deixou de ser um sonho e, em cerca de dois meses, tornou-se uma realidade. Com a paixão que fui adquirindo por este desporto, rapidamente abdiquei da profissão que tinha, dediquei-me a isto e descobri, aos meus 30 e tantos anos, que é mesmo disto que eu gosto e quero fazer”, confessa.

 

O Padel Beja é um clube privado que se abre à comunidade ou tem a pretensão de integrar o movimento associativo local?

 

Temos uma parceria com o Desporto Escolar de onde vem, cerca de três vezes por semana, um determinado número de alunos… essa é uma das aberturas à sociedade e, antes da pandemia, estávamos com uma parceria com a Buganvília e com a Casa Pia para os miúdos poderem praticar aqui esta modalidade, gratuitamente. Isso faz parte da minha peugada cívica, é algo que quero deixar. Naquele pouco que posso fazer, farei, porque acho que é o meu dever. Mas, com esta história da pandemia, deixámos de o fazer, não por nós… é uma coisa que eu quero que, rapidamente volte a acontecer. Sinto-me muito bem a treinar aqueles miúdos e a dar-lhes oportunidades que podem vir a aproveitar, ou não. Isso, depois, será uma decisão deles.

 

O padel é uma variante do ténis com especificidades próprias? Na sua essência está lá o ténis?

 

Sim. O padel é uma modalidade muito mais fácil de jogar. As pessoas que vêm jogar pela primeira vez jogam, gostam e divertem-se. Como tenista que fui, e competi durante alguns anos, sei que a grande dificuldade do ténis, ao contrário do padel, é a iniciação. No ténis é muito difícil a pessoa ir ao primeiro treino e trocar duas bolas. Aqui, no primeiro dia, sem treino absolutamente nenhum e, muitas vezes, sem nenhuma base de ténis, conseguem trocar 10, 15 ou 20 bolas. E esta é a grande novidade que faz o padel diferente do ténis. O padel, a nível competitivo, teve um crescimento absolutamente acima de tudo o que se esperava e, nesta cidade, também se tem sentido um grande entusiasmo das pessoas.

 

É um jogo para todas as idades? E financeiramente acessível?

 

Joga-se em todas as idades e é das poucas modalidade em que uma mulher ganha facilmente a um homem, porque a componente física não é tão importante como nas outras modalidades. Só se consegue impor a qualidade física se tiver muita qualidade técnica. Tem-se muito a tendência de dizer que é uma coisa elitista, mas não é nada disso. Os preços que temos, no período da tarde, são um bocadinho mais elevados mas, durante a manhã, são quase gratuitos. Queremos promover mais o período da manhã e emprestamos as bolas e as raquetes, para potenciarmos novos praticantes. Estamos num espaço muito agradável, praticamente no centro da cidade, recebemos as pessoas de braços abertos e a resposta da comunidade tem sido muito positiva.

 

Quais os benefícios do padel além, naturalmente, da atividade física que lhe está associada?

 

Tem uma grande vertente social, ao contrário de outras modalidades individuais, porque é uma modalidade que só dá para jogar em dois contra dois. E sim, é um ótimo anti-stress e tem uma componente física muito boa, num jogo de hora e meia queimam-se muitas calorias, mas num modo de divertimento. E só têm a noção da quantidade de calorias que queimaram no fim do jogo.

 

A modalidade tem diferentes graus de aprendizagem e deve ter um nível competitivo?

 

A Federação Portuguesa de Padel criou legislação para nivelar os praticantes. O nível quatro é o mais baixo e a escala vem progredindo para três, dois e um. No primeiro nível já temos jogadores profissionais, que vivem, apenas e só, para isso. Depois, temos os mesmos níveis, mas em feminino. Em Portugal, daqui a cinco ou seis anos, vamos ter mais alguma dimensão, porque vão aparecer jogadores, apenas e só, do padel, miúdos que não treinaram nem possuem a escola do ténis.

 

Qual a perspetiva de existirem praticantes do Beja Padel em competições nacionais?

 

Por uma oportunidade que não criámos, mas que adveio da pandemia, face ao impedimento dos desportos coletivos, apareceram-nos muitos miúdos de outras modalidades. Sei que, quando isto voltar à normalidade, muitos deles regressarão às antigas modalidades, mas alguns vão ficar. Surgiram aqui miúdos com muita qualidade e temos uma série de oito a 10 que, se quiserem trabalhar, irão mais adiante. Depois, temos cá professores de alta qualidade e, além do clube, estamos totalmente dispostos a apoiar a forma de eles conseguirem competir.

 

Parece satisfeito com o rumo que este e projetou tomou?

 

O percurso tem sido muito gratificante. A modalidade exige muito trabalho e muita dedicação, liberta-nos pouco tempo mas fazemos as coisas com gosto. Se me mandassem voar estas horas todas, provavelmente não iria… estar aqui, das oito da manhã às 10 da noite, é uma coisa em que sinto que o tempo flui. Não conto minutos, isso só acontece, às vezes, porque precisava de mais alguns e não os tenho.

 

Que expectativa tem para o crescimento desta modalidade?

 

Temos um projeto para cobrir os quatro campos, aguardamos só a decisão do município, temos tudo preparado, e o crescimento surgirá. Continuamos a ser um clube ‘outdoor’ num espaço muito bonito, mas as pessoas, a partir de um certo nível, exigem jogar ‘indoor’, para não se sentirem privadas de jogar por questões de meteorologia.

 

Teve que sentir uma paixão enorme pela modalidade, para trocar uma profissão tão fascinante pelo Clube Beja Padel?

 

Inicialmente, a ideia era continuar a voar e ainda o fiz durante seis meses, mas comecei a sentir falta disto, diariamente, depois interroguei-me: porquê estar a pagar a uma pessoa, quando posso ser eu a fazer aquilo de que realmente gosto, sem limite de tempos e vestindo, integralmente, a camisola? Mas há outra coisa: é que eu adoro jogar isto.

Fonte:  https://diariodoalentejo.pt

 

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