Foto | Firmino Paixão“Sou um jovem feliz com tudo o que tenho conseguido. Sou uma pessoa simples, focada e muito determinada. Considero que estou a superar-me, estudando em Lisboa e jogando no Campeonato de Portugal com a camisola do Vasco da Gama. Para além de todos os títulos, o futebol deu-me, e ainda dá, grandes amizades. Tem-me feito crescer como pessoa”.
Texto Firmino Paixão
Uma confissão de um jovem atleta a quem o bem-sucedido percurso desportivo não alterou nem o carácter, nem a humildade. Afonso Mira nasceu em Beja na primavera do primeiro ano do século XXI. “Cresci e vivi sempre em Beja, a minha terra natal. Tive uma infância bem vivida, no campo, no seio de uma família muito unida, mas a minha grande paixão é o futebol”.
Trouxémo-lo a este palco pelos seis títulos de campeão que já conquistou na sua carreira de futebolista. Foi campeão regional em todas as categorias em que jogou, entre 2010 e 2021, nos escalões de benjamins aos seniores.
Com a camisola do Despertar Sporting Clube, onde aos sete anos iniciou a sua formação, levantou os troféus de benjamins, infantis, iniciados e juniores. No Sporting Clube de Cuba ergueu o troféu de juvenis e, no seu atual emblema, o Clube de Futebol Vasco da Gama, sagrou-se campeão distrital de seniores.
Nas imagens que retém da sua infância, partilhou, com saudade, “as brincadeiras com a família e com os amigos”. “Desde sempre que vivo num monte, fora de Beja, logo, os animais e a natureza sempre estiveram muito presentes na minha vida, sendo outra das minhas paixões. Para além do futebol, como o meu pai sempre possuiu cavalos, aprendi a montar desde muito novo”.
Mas o futebol é o seu desporto de eleição. “Passava os dias a jogar futebol na escola primária, senti que crescia dentro de mim o desejo de jogar num clube federado, era o ‘bichinho’ pela bola, algo que se mantém até aos dias de hoje”.
A sua ida para o Despertar, referiu Afonso, foi “através de um amigo de infância, o João Gaspar, que já jogava no clube”, e levou-o a treinar para se juntar à equipa. “Não tive influência de ninguém em particular, pois na minha família não tinha ninguém que jogasse futebol. O que mais me influenciou foi o gosto deste desporto”.
Com 15 anos, Afonso interrompeu a sua permanência no Despertar e abraçou um novo projeto no Sporting de Cuba, onde esteve três temporadas. Esta mudança deveu-se ao facto de este clube também estar no campeonato nacional de iniciados.
“Foi uma boa oportunidade, uma vez que tinha uma equipa com grande qualidade, com a qual tive a possibilidade de jogar com vários colegas, no ano anterior, na seleção distrital sub-14. Contudo, neste período, percebi que o futebol não era só um desporto ou um passatempo, mas era mesmo o que eu queria para a minha vida”.
Foi ali que conheceu o seu atual treinador, Ricardo Vargas, e, na época seguinte, ambos ingressaram no emblema bejense. Para Afonso era o regresso às origens, para o treinador, um novo desafio, à frente da equipa júnior do clube.
Afonso Mira conheceu diferentes treinadores e diversos modos de trabalhar, algo que o marcou, naturalmente. “Todos os treinadores que tive, durante o meu percurso, marcaram-me de forma diferente, mas posso agradecer a dois em particular: ao mister Hugo Páscoa, que me acompanhou durante os primeiros anos de competição e me ajudou a crescer como jogador e como pessoa; e ao mister Ricardo Vargas, que me acompanha há oito anos, e que sempre acreditou e confiou nas minhas qualidades e capacidades, tornando-me um melhor jogador em campo e melhor pessoa fora de campo. A confiança entre os dois é clara, pois acreditamos no trabalho um do outro”.
Por outro lado, na autoavaliação como atleta, faz notar: “Sou um jogador bem preparado fisicamente, que nunca dá um lance por perdido. Gosto de jogar de trás para a frente, onde posso usar os meus maiores trunfos, a velocidade e a aceleração”.
Atributos, esses, que coloca em campo quando veste a camisola do Vasco. “Estes últimos anos, no Vasco da Gama, têm sido uma ótima experiência, rodeado de muita qualidade, o que me faz querer fazer mais e melhor”.
Quem sabe se uma ponte para uma aventura mais audaciosa? “Penso que seja uma oportunidade para algo mais, a aventura com que sonho desde criança”. Mas o sonho está lá, certamente. “Sem dúvida que existe o sonho de chegar mais longe no futebol, mas, primeiro do que o sonho, existe o resto da formação, o esforço, a dedicação e alguma pontinha de sorte, que também é sempre necessária”.
A época até está a correr de feição aos vidigueirenses, os resultados têm aparecido e até surpreendido como é que o Vasco da Gama vai fazendo tanto, tendo tão pouco. Afonso Mira, o médio ofensivo da equipa, explicou a razão para esse feito.
“O segredo deste clube é a confiança depositada nos jogadores do Baixo Alentejo, bem como em alguns jogadores de fora. E, claro, a confiança e amizade que há entre todos. Somos um grupo muito unido, em que o trabalho em equipa é priorizado às qualidades individuais de cada jogador. O sucesso também se dá devido ao excelente trabalho de toda a equipa técnica”.
Para Afonso Mira, além do futebol, os compromissos académicos também estão sempre na “ordem do dia”. “Neste momento estou a frequentar a licenciatura de Educação Física e Desporto, na Universidade Lusófona, em Lisboa. Os últimos dois anos foram desafiantes.
Infelizmente, não consigo vir a todos os treinos propostos pela equipa técnica. Treino todos os dias em Lisboa, para chegar ao treino de sexta-feira e o meu rendimento ser o melhor possível, no treino e no jogo”.
A carreira desportiva não é eterna, Afonso Mira sabe-o bem, embora o seu sonho seja o futebol ao mais alto nível. Contudo, o “desporto-rei” está sempre no seu horizonte. “Se um dia mais tarde não conseguir alcançar o meu sonho como jogador profissional, que consiga sempre estar envolvido profissionalmente como treinador, não me afastando da minha grande paixão pelo futebol”.
E, porque estamos no início de um novo ano, momento em que se formulam votos, aqui ficam os desejos de Afonso Mira: “Ao nível do futebol, espero que o Vasco da Gama consiga a sua primeira manutenção no Campeonato de Portugal e que eu consiga atingir os meus objetivos, académicos e desportivos”.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt
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