sábado, 28 de janeiro de 2023

Carlos Piteira, treinador do Sporting de Cuba, fala do seu passado e do presente no clube

 

Uma grande academia
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

Carlos Piteira é o treinador do Sporting de Cuba desde meados de outubro do último ano. Foi um regresso à sua terra natal. Um compromisso que assumiu com o campeonato em curso, mas com a ambição de fazer o melhor pelo emblema onde se formou como jogador.

 

Texto Firmino Paixão

 

O técnico assegura que o campeonato está competitivo, justificando que “há três ou quatro equipas que conseguiram fugir das restantes. Têm mais recursos, têm outros apoios que nós não possuímos. Mas, entre as outras equipas existe uma grande igualdade”. Piteira quer terminar a primeira fase da prova entre os primeiros seis classificados, por isso, garante: “Faltam- -nos cinco finais, onde teremos que deixar tudo em campo”.

 

O Sporting de Cuba está, atualmente, no 5.º lugar. Certamente que existe ambição para melhorar essa posição…

Pediram-me a manutenção neste patamar e eu disse que, estando no clube da minha terra, o clube onde me fiz jogador, isso era muito pouco, uma meta muito curta. Disse logo que o objetivo que tínhamos que perseguir seria um lugar entre os seis primeiros classificados, garantindo, desde logo, a manutenção e passarmos à fase seguinte entre as seis equipas que vão lutar pela subida.

 

É com essa mensagem que motiva o grupo de trabalho?

Sim, perseguimos essa meta, porque achamos que é um lugar bonito e prestigiante para o nosso clube. O Sporting de Cuba é um emblema histórico, temos 80 por cento de jogadores da nossa terra, estamos a fazer um trabalho muito positivo, vamos lutando jogo a jogo, mas ainda faltam cinco finais para podermos consolidar, ou até melhorarmos, esta posição. Cada jogo será uma final. Não existem jogos fáceis, sabemos que é dentro do campo que se ganham e perdem os jogos. Todos os dias trabalhamos com muita seriedade, com muito compromisso, temos sido muito solidários, temos superado as dificuldades e hoje estamos muito melhor, estamos muito ambiciosos, embora saibamos que os nossos adversários também têm valor para acrescentar a todos os jogos um grau de dificuldade elevado. Mas temos de ter essa esperança e acreditarmos que é possível.

 

O plantel tem qualidade para perseguir essas metas?

Todos os dias passo essa mensagem ao grupo. Nós temos que conseguir esse lugar. Os nossos jogadores têm valor para atingirem esses objetivos. É nisso que temos que pensar diariamente, procurando superar-nos a nós próprios, porque esta equipa tem condições para seguir para a segunda fase entre os seis primeiros classificados. Não será fácil, teremos de lutar até ao último jogo, mas estamos preparados para que tudo corra bem e que a meta seja alcançada.

 

Cuba sempre foi conhecida, e reconhecida, por possuir uma excelente “cantera” de jogadores.

Cuba foi sempre uma grande academia. Mas hoje em dia as condições são diferentes. Os clubes vivem de 10 ou 12 pessoas que se privam da sua vida pessoal e familiar para os ajudar. Os apoios cada vez são menores e mais difíceis de conseguir. E as dificuldades para construir uma equipa são cada vez maiores. No passado, qualquer miúdo gostava de jogar futebol. Hoje em dia têm tantos e tão diferentes apelos de outras modalidades que os retiram do futebol. Quando eu era jovem não dormia para vir jogar futebol e os jovens de hoje, se os pais não os acordarem, não vêm. A paixão pelo futebol nasce connosco e tem de ser alimentada todos os dias. Se não se nascer com ela, será difícil atingir objetivos. Mas sinto-me orgulhoso por ver tantos jogadores da terra a jogarem noutros clubes, com provas dadas, oriundos de um clube que tem um grande palmarés distrital, que enchia sempre o campo, onde nunca era fácil as outras equipas vencerem. Queremos recuperar essa mística, trazer de novo as pessoas para o futebol, mostrarmos que é possível fazermos mais e melhor.

 

Mais difícil ainda quando se “entra no comboio” com ele já em andamento, como foi o seu caso, que não iniciou aqui a época?

Exatamente. É mais difícil, mas, nesse contexto, garanto que encontrei uma equipa solidária. Quero até realçar que apanhei aqui jogadores cujos pais foram meus colegas no Sporting de Cuba. Olho para esta equipa e revejo esses momentos do passado, quando jogava com os pais destes atletas. São momentos que me trazem à ideia as vivências que aqui tive, todos os bons momentos que aqui passei, até aos meus 18 anos. São recordações que nos marcam, que nos emocionam. Joguei em tanto lado, levei o nome de Cuba de norte a sul do País, coisas que às vezes, à época, não damos valor, mas que hoje, quando aqui regressamos, valorizamos com muito sentimento. Foi aqui que nasci, foi aqui que fui criado e me fiz homem. Foi aqui que senti as minhas dificuldades. Queríamos uma bola para treinar, ou uns ténis, e era difícil, não tínhamos grandes condições para os possuir, levávamos os equipamentos para casa para lavar, tudo coisas que nos faziam crescer. Hoje, chegamos cá e temos o nosso saco, com tudo o que precisamos, temos excelentes instalações, não nos falta nada.

 

Pela emoção que revela, acreditamos que foi fácil aceitar o convite para regressar a Cuba.

Foi muito fácil. Nem pensei duas vezes. Aceitei com muito sentimento. Este clube, para mim, é como se fosse uma mãe ou um pai. Vivi aqui até aos 18 anos. O Sporting de Cuba fez-me crescer como jogador e como homem e eu nunca podia dizer que não a este clube. Sinto uma grande paixão por esta terra e por este clube, independentemente de outros voos e de projetos de outra dimensão, mas esta é a nossa terra, estão aqui as nossas origens, as nossas recordações. Treinar o Sporting de Cuba era aquilo que faltava na minha carreira de treinador. Com todo o respeito por este clube, naturalmente que tenho ainda a ambição de dar um passo mais largo, mas isto era uma coisa que me faltava. Quando era miúdo pensava jogar nos seniores deste clube e pensei sempre que, um dia, poderia ser treinador do Sporting de Cuba. Aconteceu e estou muito grato às pessoas que me trouxeram para cá e digo-lhe que temos de fazer algo de diferente neste clube. Ficará sempre um registo, mesmo um pequeno quadradinho a dizer que, nesta época, representámos o Sporting de Cuba, e isso é muito gratificante. Fazêmo-lo com compromisso, com dignidade e, acima de tudo, com muito respeito.

Fonte:  https://diariodoalentejo.pt/

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