Tiago Cordeiro nasceu em A-do-Pinto (Serpa). O enriquecimento curricular da licenciatura em Educação Física e Desporto, que abandonou no 3.º ano, fê-lo enveredar pela carreira da arbitragem.
É profissional de Polícia de Segurança Pública há três anos, numa esquadra da Amadora, depois de ter estado nas fileiras do Exército Português. O juiz alentejano reparte a sua vida entre a grande Lisboa, onde reside, e o Alentejo, onde tem a base da sua carreira desportiva. Um vaivém de 400 quilómetros semanais que faz por gosto pelo futebol. Concluir a licenciatura em Educação Física e Desporto, diz Tiago Cordeiro, “é uma porta que ainda está entreaberta, porque a formação nunca é demais, é sempre uma boa ferramenta de trabalho”.
Que significado tem para si esta nomeação de “árbitro do ano”?
Acho que é o reconhecimento de um trabalho que tem vindo a ser feito com muito sacrifício e aqui cabe uma palavra de agradecimento à minha esposa, porque ser mulher de um polícia não é fácil, ser mulher de um polícia e de um árbitro menos fácil é ainda. Se é merecido não me cabe a mim avaliar. Os meus colegas, os jogadores e os treinadores é que dirão, mas estou muito contente e isto só me dará cada vez mais motivação para continuar a trabalhar.
Numa autoavaliação ao seu desempenho nesta temporada cabe esta distinção? Era uma meta que perseguia?
Há por aí tantos bons árbitros, se calhar melhores do que eu, mas este ano quem avalia decidiu assim. Claro que errei como todos erram, tento errar o menos possível, quem entendeu que eu deveria ser melhor decidiu assim e eu estou muito feliz por isso. O objetivo de todos os árbitros é chegar lá acima, eu também penso assim, devemos querer sempre mais para nós e eu sou muito ambicioso, enquanto existir um lugar para mim trabalharei e lutarei todos os dias por o alcançar.
Reparte o mérito com a sua equipa de auxiliares?
Como é óbvio, isto é um trabalho de equipa. O árbitro não dirige o jogo sozinho, é árbitro mas não era ninguém sozinho dentro do relvado. Não temos equipas certas, variamos todos os fins de semana e todos eles têm um pouco de merecimento nesta distinção.
Há trabalho muito específico ao longo da semana que as pessoas nem se apercebem…
Hoje em dia quem pensar que ser árbitro é chegar ao fim de semana, agarrar no saco e ir para um campo de futebol está muito longe da realidade. Ser árbitro exige um treino diário, chegar do trabalho e ter que estudar as leis de jogo ou visionar vídeos, trabalhar a movimentação em campo com outros colegas, enfim, é um esforço grande. Chegar ao fim de semana e ir atrás do apito não chega, as equipas estão cada vez mais fortes e nós temos que estar à altura.
Como se define como árbitro?
Gosto de ver jogar futebol. Procuro que se aproveite ao máximo o tempo de jogo. Falo com os capitães antes dos jogos e peço-lhes sempre que os jogadores se respeitem a eles próprios, mas que respeitem também os adversários, os árbitros e os espetadores. Se isso acontecer o árbitro só terá que fazer cumprir as leis de jogo.
Que metas tem no seu horizonte de árbitro de futebol?
Tenho perfeita consciência que já não sou um jovem e que na arbitragem já não será fácil chegar lá acima, mas enquanto existir uma oportunidade lutarei por ela. A curto prazo quero ficar apto nas provas de acesso ao nacional e depois terminar na época entre os oito melhores, o lote que será promovido à categoria seguinte. Enquanto não me disserem que não, lutarei por isso.
Um polícia e um árbitro têm em comum zelar pelo cumprimento das leis…
Temos que gerir psicologicamente todo o trabalho da carreira policial, sou polícia na Amadora, que não é uma zona fácil, mas isso só me dá estofo para aplicar aqui as leis dentro do campo. Se as duas coisas atrapalham um pouco, bom… trabalho tantas vezes na sexta-‑feira à noite e depois venho apitar aos sábados de manhã, mas com espírito de sacrifício tudo se consegue.
Tem o hábito de reconhecer os seus erros?Claro que sim. Valorizo muito a humildade. Todas as pessoas devem saber assumir os seus erros. É uma forma de evoluirmos, a arrogância nunca fez bem a ninguém e a prova disso é tão evidente.
A arbitragem bejense está no rumo certo?
A arbitragem distrital está num grande caminho. O conselho mudou, o anterior já vinha a fazer um excelente trabalho, mas este ano noto uma equidade maior ao nível das nomeações e uma maior aproximação dos conselheiros aos árbitros. Têm sido criadas grandes oportunidades aos árbitros e melhoradas as condições de trabalho.
Acabou de apitar a final da Taça Distrito de Beja. Vai dormir descansado esta noite?
Durmo sempre descansado porque a minha consciência está sempre tranquila e, quando assim é, só temos que ter um bom sono e dormir descansados.
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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