sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Uma camisola muito especial...


João Gonçalo Ferreira Letras nasceu na vila de Cuba, há 23 anos, uma terra com tradições na modalidade, onde cresceu a ver o pai e o irmão a pedalarem pela vitalidade do Centro de Ciclismo de Cuba.

Texto e foto Firmino Paixão


Fez-se homem em cima da bicicleta e agora tornou-se campeão. Nasceu na terra que foi “berço do desporto distrital” com a sua pista de ciclismo edificada em 1904, primeira a sul e terceira em todo o território nacional, conforme relato de Melo Garrido na sua História do Desporto no Distrito de Beja. Não admira que naquela terra se nutra tanto entusiasmo pelo ciclismo, como não admira que João Letras, atual corredor da Casa do Benfica de Almodôvar, se tenha tornado campeão ibérico de elites amadoras, numa prova disputada recentemente em La Palma del Condado (Huelva).
“Esta foi uma época extraordinária”, relatou o jovem ciclista, adiantando: “Foi a minha melhor época, nunca tinha ganho tanta prova num só ano, mas isto deve-se em grande parte ao apoio dos meus amigos e da minha família, e, sobretudo, ao apoio dos meus colegas de equipa, a quem agradeço, porque tiveram um papel fundamental no meu sucesso. Sem eles seria impossível, trabalharam muito para que eu pudesse erguer os braços no final das provas”. Mais treino e mais motivação são as receitas para o sucesso, mas o cubense diz também: “O meu irmão apoia-me muito, é uma espécie de ‘treinador principal’, ele manda e eu faço, a confiança que ele me transmite tem sido fundamental para a minha preparação e para o meu bem-estar físico e emocional. Por outro lado, tenho a felicidade de ter uma namorada muito especial, que me ajuda e apoia bastante e isso deu-‑me ainda maior motivação nesta época”.
Porém, João Letras não esquece a primeira camisola que vestiu após a sua saída de Cuba: “Estou muito grato ao Centro de Ciclismo do Cartaxo pela oportunidade que me deu, talvez o apoio não tenha sido suficiente para eu crescer, mas agradeço a José Nicolau a oportunidade que me deu de representar o seu clube, mas este ano tive mais apoio da equipa, do diretor desportivo, do treinador, senti que as coisas foram diferentes. Alguma coisa mudou em termos de carinho e incentivo e que me fez crescer a vontade de lutar”, assumiu. Ou seja, a camisola da Casa do Benfica de Almodôvar começa a ser talismã: “É uma camisola muito especial, guardá-la-ei toda a minha vida com muito carinho, um dia, quando de lá sair, terei muitas saudades destes amigos, somos uma família, somos uma equipa ganhadora, muito unida, com muito espírito de equipa que é essencial para aparecerem as vitórias e isso tem sido assim na Casa do Benfica de Almodôvar, não só este ano, sei que vem do passado”.
No final de uma época brilhante, Letras referiu ainda: “Fiz muitas provas em Portugal e tive a oportunidade de correr algumas em Espanha. Ganhei a 2.ª etapa da Volta Ciclista a Sevilha, onde estavam grandes equipas, por exemplo a da Fundação Alberto Contador. Em Huelva ganhei o Campeonato Ibérico, não da forma que eu pretendia, não foi vitória absoluta, venci no meu escalão, estava forte mas houve uma fuga e isso afastou-me dessa possibilidade”.
Vestido com o jersey com as cores de Portugal e Espanha, o corredor cubense confessou: “Senti uma alegria enorme, um grande orgulho, nunca esperei, é mais um triunfo para o meu currículo, mais um momento para recordar com os meus filhos e com os meus netos”. Um sucesso preparado na Volta aos Açores? “Sim, ganhei três das quatro etapas, perdi a camisola amarela numa etapa de montanha, na Lagoa do Fogo, não sou trepador, mas depois ganhei mais duas etapas, só que não deu para a recuperar. Foi uma experiência muito positiva, nunca tinha competido nos Açores”. Por isso, João Letras já revela mais e maior ambição: “Para o ano gostava de evoluir, subir para outros patamares. Vamos ver se esta época me deu alguma visibilidade e se surgirá algum convite, senão, tentarei entrar em contacto com algumas equipas para procurar essa oportunidade. Seria a realização de um sonho e quem sabe um dia correr uma Volta a Portugal, o meu segundo sonho porque o primeiro é tornar-me ciclista profissional”.
A camisola almodovarense? “Bem, se não conseguir nada que corresponda ao meu desejo de valorização, certamente que continuarei na equipa de Almodôvar, sou bem tratado, parece que já estou naquela estrutura há muitos anos”. Sim, porque o Centro de Ciclismo de Cuba, onde se iniciou: “Já teve melhores dias, atualmente não há jovens para correr, o dinheiro também é escasso. Gostava que o meu exemplo servisse para motivar alguns jovens para que o clube da minha terra se mantivesse em atividade, foi onde iniciei o meu percurso de ciclista”, concluiu.

Fonte:  http://da.ambaal.pt/

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