Os 90 anos da Associação de Futebol de Beja e os 20 anos de formação em Educação Física e Desporto na Escola Superior de Educação de Beja foram assinalados com um seminário sobre formação de jovens.
Texto e fotos Firmino Paixão
Um auditório repleto e atento, um painel de oradores de grande qualidade. Paulo Leitão e Aurélio Pereira, da Academia do Sporting, António Simões, ex-jogador do Benfica, e o selecionador nacional de futebol feminino, Francisco Neto, apresentaram vários modelos de formação para os jovens futebolistas. Vários caminhos, destino comum, com uma opinião transversal: “Os jovens devem jogar para aprender, em vez de aprender para jogar”. A ideia foi deixada pelo técnico que descobriu Cristiano Ronaldo. Mas também ficou registada a ideia de “modelar os níveis de desempenho” ou a dicotomia lançada pelo antigo extremo do Benfica.
Antes de “querer ganhar” os miúdos têm de “saber jogar”, uma regra que nem sempre é bem aceite nos clubes. António Simões diz: “É fruto da sociedade onde vivemos, não resistirmos à tentação de crermos ter algo, antes de sermos alguma coisa, e esse é o grande desafio que hoje se coloca, sobretudo aos jovens. Fazê-los entender que têm toda a legitimidade para terem qualidade de vida, terem sucesso e realizarem-se materialmente, mas nunca sem que a paixão pelas coisas de que gostamos não esteja presente em cada um de nós. Terão de perceber esta mensagem de humildade e também de nobreza. É perfeitamente possível ter sucesso tendo paixão por aquilo que se faz”. É que no seu tempo, sem tantas oportunidades formativas, sobressaíam mais talentos.“É a pressa de se fazer algo sem se olhar a regras. Deixemos os miúdos jogar, eles têm muito tempo para ganhar, temos de os ensinar a competir com competência e com um bom relacionamento com a bola e com o jogo”, sugeriu a antiga glória do Benfica, manifestando a sua disponibilidade para partilhar aquilo que aprendeu ao longo da vida, lembrando, no entanto, que também sabe “ouvir os outros”. Confrontado com a realidade de que o Benfica é o clube com mais jogadores nas seleções jovens, e quase não tem portugueses na primeira equipa, Simões explicou: “Esse é o outro grande desafio, para que tenhamos mais portugueses a competir ao mais alto nível, temos de criar condições para que o nosso jogador evolua, mas, sobretudo, que tenha espaço para se afirmar”.
Espaço para afirmação não falta na Academia do Sporting, por isso Aurélio Pereira recordou que “é um clube que desde sempre teve uma veia formadora, apesar das dificuldades que tinha com infraestruturas, e lutou muito para chegar a este patamar”. “Foi a paixão das pessoas e um trabalho alicerçado pelo conhecimento e pela experiência que nos levaram a desenvolver e a aperfeiçoar um trabalho de formação de jogadores”. Concordou, porém, que a montante existe a deteção dos talentos: “Essa é a parte decisiva, tem de existir qualidade acima da média, depois é saber trabalhá-la e dar oportunidades aos jogadores, o que nem toda a gente faz”. Um conceito segundo o qual foi descoberto e potenciado o talento de Cristiano Ronaldo. “Sentimos sempre o reconhecimento de que valeu a pena trabalharmos para o ir buscar, valeu a pena apoiá-lo nos momentos bons e, fundamentalmente, nos maus, desenvolver as suas qualidades técnicas, táticas, físicas e psicológicas, acima de tudo foi uma mais-valia para o clube. Honra-nos todo o seu trajeto e tudo aquilo que já conquistou”, concluiu.
José Luís Ramalho, presidente da Associação de Futebol de Beja, concordou que foram lançadas boas sementes para o futuro, lembrando: “Tivemos um painel de excelentes oradores, alguns que foram praticantes dos melhores que Portugal teve e que nos deixaram uma mensagem muito enriquecedora”. E antecipou as conclusões: “Ficou claro que os miúdos de idade mais tenra devem jogar futebol por prazer, como diversão própria da idade e que se deve acabar com a tendência que existe de tentar formatar, não formar, jovens muito cedo. Deixemo- ‑los brincar primeiro”.
Fonte: http://da.ambaal.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário