sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Um debate inesgotável


Há 40 anos o povo português foi chamado a votar livremente para eleger os seus representantes nos órgãos de maior proximidade – os municípios, as assembleias municipais e as assembleias de freguesia.

Texto e foto Firmino Paixão

Ganhou forma, através do voto em liberdade, a primeira expressão do poder local democrático que, desde então, recuperou a sua autonomia e foi, progressivamente, adquirindo competências e consolidando conquistas.
A edição do “Diário do Alentejo” do dia seguinte ao ato eleitoral de 12 de dezembro de 1976, à época, efetivamente, com tiragem diária, e regressado às bancas após uma ausência de 14 meses, fez manchete com os resultados das eleições para as câmaras municipais do distrito – FEPU (9), PS (4) e PSD (1).
Henriques Pinheiro, médico bejense, dirigia o jornal, que tinha o preço de capa de quatro escudos, e assinava um editorial intitulado “O Alentejo votou em liberdade!”. De então para cá, nestas quatro décadas de vivência democrática, muitas têm sido as reflexões e os debates em torno do papel do poder local nas múltiplas intervenções dirigidas à qualificação do território, à consolidação da democracia e valorização das pessoas. O contributo do poder local para o incremento e desenvolvimento do desporto nas suas múltiplas vertentes é um debate recorrente, mas inacabado, porque inesgotável. As exigências crescem na proporção direta da valorização do desporto e das atividades de lazer. As autarquias vão, sucessivamente, reformulando e atualizando o seu papel de parceiras no contributo pelo acesso das pessoas à prática desportiva. Como? Veremos mais adiante.
Voltando à edição n.º 13 185 do “Diário do Alentejo”, percebia-se a pouca relevância dada ainda ao fenómeno desportivo, que ocupava menos de um quarto da última página, na secção “Notícias em poucas linhas”.
As notícias sobre desporto eram normalmente editadas ao sábado, projetando as jornadas do dia seguinte, com o rescaldo estampado à segunda-feira. Ali se dava conta que, à época, o Vasco da Gama de Sines, o União de Montemor, o Juventude e o Lusitano, os dois emblemas eborenses de maior relevo, militavam na 2.ª Divisão Nacional. No terceiro escalão competiam o Moura, o Odemirense, o União de Santiago, o Aljustrelense, o Reguengos e o Desportivo de Beja.
Com a vivência da liberdade surgiram novos conceitos de cidadania e diferentes hábitos de vida, estimulados pelos ideais do associativismo, pilar inquestionável da massificação verificada no pós Revolução de Abril de 1974, sobretudo nos territórios de menor densidade.
Quantos clubes e associações existiam nessa altura? Quantos campos de ténis existiam nessa época? Quantas piscinas e polidesportivos? Quantos pavilhões e pistas de atletismo? Quantos circuitos de manutenção e pistas de pedestrianismo? Quantos campos de futebol e ginásios? Quantos espaços de prática multidisciplinar, como o andebol, o basquetebol, o hóquei e a patinagem artística e de velocidade, a pesca desportiva, o remo, a natação, o judo, etc…?
Um exemplo que bem ilustra a primeira questão é o indicador de que entre os 44 clubes filiados, nesta época, na Associação de Futebol de Beja, 20 deles nasceram em data posterior a 1976. Um segundo exemplo: os dois clubes mais representativos na modalidade de andebol nasceram após a Revolução de Abril. Os mais representativos nas modalidades natação, basquetebol e hóquei em patins são da mesma época.
A proliferação de clubes suscitou também a criação de associações que tutelassem as modalidades, e à Associação de Futebol de Beja, acabada de assinalar o centenário, juntaram-se estruturas regionais para o atletismo, andebol, patinagem, xadrez, pesca desportiva, tiro e caça, voleibol e judo. E, citando o provérbio popular de que “a necessidade aguça o engenho”, ao aparecimento de novos clubes e aumento do número de praticantes foi o poder local correspondendo sempre, e em tempo oportuno, com a construção e melhoria de equipamentos desportivos e de lazer, apoiando financeiramente a atividade regular dos clubes e proporcionando um apoio determinante à mobilidade dos praticantes entre os diversos palcos regionais, numa região com a extensão territorial que se conhece, mas também para os seus compromissos nacionais.
Todo este conjunto de respostas que o poder local deu às necessidades do movimento associativo e, de uma forma mais determinante, na ampla cobertura das suas freguesias e concelhos, com uma diversidade de instalações para a prática desportiva mais ou menos formal, em alguns casos criaram até nefastas dependências, inapropriadas acomodações que, em alguns momentos, puseram em causa a exequibilidade dos projetos e da vocação que estiveram na sua génese.
A reflexão é sempre atual e o debate inesgotável. O poder local tem sido, ou não, determinante no desenvolvimento desportivo nestes 40 anos que tem de existência democrática?

Fonte:  http://da.ambaal.pt

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