O
Lusitano de Évora, um dos históricos clubes do Alentejo, que nos anos
50 e 60 permaneceu 14 épocas na primeira Divisão, atravessa uma crise
sem precedentes ao ponto de este ano ter suspendido o futebol sénior.
A
cerca de dois meses de completar 100 anos de existência, o Lusitano
está com uma dividida 800 mil euros e, como se não bastasse, não possui
património. “Fruto da gestão das duas direcções anteriores o Lusitano
não tem neste momento nem dinheiro nem património” esclarece Manuel
Porta, presidente da direcção dos verde-e-brancos. Segundo Manuel Porta,
a situação do clube é muito grave. “O Campo Estrela, onde a grande
história do nosso clube foi sendo escrita ao longo dos anos, já não é
nosso e o Campo da Silveirinha pertence a uma sociedade que é a
Evoraurbe”. Recorde-se que o Campo da Silveirinha foi construído por
ocasião do está- gio de preparação da Selecção Nacional antes do Mundial
da Alemanha, entrando o Campo Estrela como contrapartida para um
negócio imobiliário.
Manuel Porta vê-se agora a
braços com uma divida de quase um milhão de euros e a poucos dias de
celebrar o centenário o Lusitano corre o sério risco de desaparecer do
espectro desportivo.
“Não sou
céptico ao ponto de dizer que o futuro passa pelo fechar de portas, mas é
bom que os sócios tenham a noção de que a situação é muito grave”,
acrescenta Manuel Porta.
“Nós
pedimos a colaboração a especialistas de gestão que nos apontassem o
caminho certo e enquanto não tivermos na nossa posse o resultado desse
estudo não poderemos chegar a nenhuma conclusão. Gostava, no entanto, de
no dia 11 de Novembro apresentar alguma solução aos sócios”, refere o
dirigente.
O Lusitano Ginásio Clube
terminou a época passada no segundo lugar da Divisão de Honra da
Associação de Futebol de Évora, contudo esta época “não foi possível
encontrar orçamento e decidimos suspender este escalão”, o que acontece
pela primeira vez em 99 anos.
Com
cerca de 2800 sócios, dos quais apenas 900 pagam habitualmente as
quotas, o Lusitano tem aproximadamente 200 atletas em diversos escalões
de formação.
A Escola de Futebol
do clube desenvolve toda actividade de uma forma autónoma na Herdade da
Silveirinha, enquanto que os restantes escalões treinam e jogam no Campo
Estrela. “É uma forma de tentar cativar novamente os associados”, diz,
esperançado, Manuel Porta.
A pouco dias de completar cem
anos de existência, o Lusitano de Évora está à beira desaparecer do
espectro desportivo nacional, mergulhado em dívidas e o primeiro reflexo
desta situação é a ausência do clube das competições sénior.
Fundado a 11 de Novembro de
1911, já participou em todas as provas do futebol português, sendo de
destacar as catorze épocas consecutivas no Campeonato Nacional da 1ª
Divisão nos anos 50 e primeira metade da década seguinte onde alcançou
um quinto lugar, bem como uma presença nas meias-finais da Taça de
Portugal, entre outras classificações.
O cenário de glória deu agora
lugar à tristeza e ao desapontamento. “É triste recordar a nossa
presença na 1ª Divisão e ver o clube à beira do precipício”, diz Carlos
Falé, um dos jogadores que disputou o escalão maior do futebol luso com a
camisola do Lusitano. Este defesa-central, agora com 78 anos, não tem
dúvidas em afirmar que o clube “tem os dias contados. Já foi um grande
clube e agora é o que se sabe. A presença da Selecção Nacional em Évora
deu cabo do Lusitano devido aos negócios que se fizeram”, afirma o
antigo jogador.
Sempre disponível em colaborar
com os dirigentes do clube, Falé acredita que com o regresso dos
escalões de futebol ao Campo Estrela fará com que os adeptos e os
simpatizantes voltem ao clube. “Se tal não suceder então o clube acaba
aos 100 anos”, significando uma grande perda para o desporto local e
para o património histórico da cidade e da região.
Depois dos anos onde um grupo de
empresários se mostrou disponível a levantar o clube até aos escalões
superiores, que levou inclusive à presença nos órgãos directivos de João
Manuel Nabeiro, filho do Comendador Rui Nabeiro e presidente da Delta
Cafés - após a experiência do Campomaiorense na 1ª Divisão - as
tentativas de trazer o “velho Lusitano” de volta foram-se esvanecendo,
chegando à situação crítica em que hoje se encontra - sem uma luz ao
fundo do túnel.
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