quarta-feira, 7 de março de 2012

"Perdi a confiança no actual executivo da Câmara de Beja"


TEXTO: Carlos Pinto
O atraso no pagamento dos subsídios ao clube por parte da Câmara de Beja levou Mariano Baião a pedir a demissão da presidência do Despertar. Para trás ficam 18 anos de muitas alegrias e algumas conquistas!
"Perdi a confiança no actual executivo da Câmara de Beja"
Mariano Baião Guerreiro, presidente demissionário do Despertar Sporting Clube, 67anos, natural de Castro Verde
Alguma vez imaginou que iria deixar a presidência do Despertar desta forma? Não, de maneira nenhuma. Sabia que um dia teria de sair, mas nunca esperei ser no decorrer de um mandato. Fiquei muito magoado por ter de ser assim, mas as circunstâncias assim o obrigaram. Esgotei completamente as hipóteses, perdi a confiança no actual executivo da Câmara de Beja e não tinha condições para continuar nem mais um dia.
  
   Porque razão critica tanto o executivo da autarquia bejense? Devido a um conjunto de enganos, situações que se prometeram e não se cumpriram, outras que estavam programadas e não aconteceram. A última gota de água que fez com que tomasse esta decisão foi ter andado junto da Câmara, nomeadamente da vereadora com o pelouro das finanças [Cristina Valadas], dois meses e meio a pedir-lhe 5.000 mil dos 33.000 euros que estão por receber de 2011 para pagar o IVA às Finanças. Mas não consegui, apesar de ter alertado dos perigos e dos inconvenientes que isso trazia.
   ? Houve falta de sensibilidade da autarquia? Houve total falta de sensibilidade, porque foi explicado "tintim por tintim" o que se pretendia e para que se destinava o dinheiro.
  
   Como garantiu o clube o dinheiro necessário para pagar às Finanças? O Despertar andou pedindo a pessoas e algumas instituições para arranjar o dinheiro, o que se conseguiu. E ao mesmo tempo acabámos por não pagar à equipa de seniores e aos treinadores dos escalões de formação o subsídio referente ao mês de Janeiro. Ora isto é dramático para a minha pessoa! Não consigo lidar com uma situação destas e não tinha minimamente condições para estar à frente do clube e encarar as pessoas nos olhos sabendo do incumprimento em que estava.
  
   Depois deste pagamento efectuado às Finanças, o Despertar tem meios para garantir o dinheiro de que necessita até final da época? Dos patrocinadores vamos agora receber dinheiro que dá para pagar o mês de Fevereiro, que será Janeiro. Mas estão quase esgotadas as fracções que temos a receber dos patrocinadores e a partir de Abril já não temos nada para cobrar. Na Câmara disseram-me que, provavelmente, só iria haver algum dinheiro do ano de 2011 no mês de Maio. Ora se só arranjaram três, quatro ou cinco mil euros, evidentemente que iremos ficar mais alguns meses sem pagar ao pessoal.
  
   Este cenário coloca a viabilidade do clube em risco? A viabilidade não está risco, mas o Despertar vai sentir um abanão grande e alguns retrocessos.
  
   Que tipo de retrocessos? Vai haver cortes a vários níveis… A equipa de seniores para o ano, a continuar isto como está, ou deixará de existir ou será como a do Desportivo de Beja, com os jogadores a jogarem pelo amor à camisola. A nível dos jogadores de fora, provavelmente a próxima direcção ainda irá fazer um corte maior, porque se gasta muito em combustível.
  
   Está fora de hipótese a possibilidade de se recandidatar? De maneira nenhuma, senão não tinha pedido a demissão [risos]. Até porque tenho a certeza absoluta de que depois de ter denunciado este conjunto de situações, se continuasse no Despertar iria haver represálias. Porque falei demais! E em defesa do clube, é impensável fazer novamente parte dos seus órgãos sociais, quanto mais liderar uma futura direcção.
  
   Que balanço faz dos 18 anos em que foi presidente do Despertar? Faço um balanço super-positivo.
  
   Qual foi a maior alegria que teve no âmbito das suas funções? Foram muitas, foram muitas… Se calhar, o momento mais marcante – e que depois acabou por ser um bocado decepcionante – foi a inauguração da sede. Porque pela primeira vez em Beja um secretário de Estado [da Juventude e Desporto, Laurentino Dias,] veio assistir a uma inauguração de uma entidade, digamos assim, particular. Isso valorizou muito a inauguração e o nosso prestígio, mas depois o senhor [secretário de Estado] borrou a opa toda.
  
   Porquê? Porque tivemos o cuidado de não lhe pedir nada durante esse dia, pois quando se está em festa e convidamos alguém não é para estar a pedir isto ou aquilo. Mas sua excelência, porque estávamos em pré-campanha eleitoral e sem que ninguém lhe pedisse nada, fartou-se de oferecer "mundos e fundos". Acabou por não cumprir nada do que prometeu.
Fonte:  http://www.correioalentejo.com

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