quinta-feira, 2 de maio de 2013

O Departamento de Formação do S.C. Farense. Entrevista com José Carlos.



Num ano em que tudo parece correr de feição ao S.C. Farense, tanto no futebol sénior, como no futsal e no basquetebol fomos falar com José Carlos que, a poucos dias de receber as 16 equipas que vão participar no Torneio Internacional Traquinas 2013, nos falou sobre a estrutura de Formação do clube e sobre o torneio que vai reunir em Faro cerca de 250 atletas e dirigentes de equipas nacionais e da vizinha Espanha.
O torneiro, que se realizará nos dias 4 e 5 de Maio, no Estádio de São Luís, conta com a presença de equipas como o SL Benfica, Sporting FC, Vitória de Setúbal, Académica, Recreativo de Huelva, Mérida, Badajoz.
É uma organização do Departamento de Formação que contou com o envolvimento de instituições e empresários da cidade.

jF- O departamento de Formação do S.C. Farense não é um projeto que tenha acompanhado desde sempre a vida do Clube?
Neste caso em particular o Departamento de Formação é um projeto apenas com 3 anos de existência e que se destina a crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 13 anos. A estrutura é constituída por mim, pelo Hugo Costa, pelo Pedro Gonçalves e pelo Victor. A pouco e pouco fomos fazendo crescer a estrutura a nível de treinadores e de delegados.
Neste momento é constituída por um departamento médico que funciona na Penha, em permanência, um departamento financeiro, e um departamento administrativo que garantem as condições necessárias para fazer crescer o S.C. Farense.
O departamento mantem um vínculo com o clube mas é autónomo. Gera receitas, angaria apoios e patrocínios que são empregues na sua própria estrutura e não no futebol sénior.

jF – Neste momento quantos miúdos é que estão envolvidos nas equipas de formação?
A Formação do S.C. Farense conta com 250 miúdos a treinar até ao escalão dos infantis. Cada escalão tem um mínimo de 2 treinadores e 2 diretores.
O que é curioso é que os pais que tinham abandonado o S.C. Farense, pela razão óbvia de não haver no clube esses escalões, agora estão a regressar.

jF – A vosso objetivo é apenas criar campeões ou também privilegiam uma dimensão social?
A formação humana é importante e é por isso que nos debatemos. Tivemos sempre a preocupação de arranjar soluções para que crianças de famílias com manifestas carências financeira não deixem de integrar as equipas. O nosso esfoço também vai no sentido de proporcionar a prática desportiva a todos aqueles que assim o desejem.
Importa realçar que qualquer miúdo que queira praticar desporto terá sempre essa oportunidade no F.C. Farense. Muitas vezes ficamos prejudicados com isso, por causa do espaço, mas não recusamos ninguém.

jF- Que problemas é que ao longo destes 3 anos têm sido mais difíceis de contornar?
O espaço como acabei de referir tem sido um problema. Debatemo-nos desde a primeira hora com constrangimentos por não termos um campo reservado unicamente para os nossos atletas. Essa circunstância tem determinado um défice na sua formação. É um problema antigo que se estende não só ao Farense mas a outras coletividades.

jF – A competição também é importante nestes escalões iniciais?
È um facto e por isso para além de temos o cuidado de formar mas também temos o cuidado de dar alguma competição ao S. C. Farense. Como o clube mais representativo da região assim o merece. Temos sempre 2 equipas por escalão mas no caso dos Benjamins B temos 3 equipas. Uma que integra os miúdos mais evoluídos naquele momento, e mais duas que permitem que os miúdos desenvolvam a atividade desportiva e ao mesmo tempo adquirir competências para integrarem a primeira equipa.

jF – Em termos competitivos em que lugar é que essas equipas se encontram na tabela de classificação?
Neste momento todos os escalões de formação estão na fase de apuramento e encontram-se no primeiro lugar. Alguns já estão mesmo garantidos para a fase seguinte. Isso é o que menos nos importa mas não deixa de ter importância. Para um clube como o Farense não deixa de ter o seu relevo.

jF – Um relvado sintético resolvia a situação?
Isso é um assunto que já foi discutido muitas vezes. Colocar um relvado sintético no estádio de São Luís é muito dispendioso. Fala-se nessa opção para a Penha, no campo de atletismo.

jF – Há perspetivas de ver jogadores das esquipas de formação a integrar o plantel de sénior do S. C. Farense?
Ainda é muito cedo para fazer avaliações. Este projeto só agora é que começa a mostrar resultados. Os iniciados que subiram ao nacional são fruto do primeiro ano de formação. Esses miúdos são o resultado do nosso primeiro ano de trabalho. A entrada de jogadores dos escalões de formação nas equipas seniores é uma lacuna que afeta a maioria dos clubes, até do Campeonato nacional e não é só em Portugal. Ainda não conseguimos criar uma linha de orientação que permita, por exemplo, criar uma filosofia de jogo dentro do clube que seja transversal a todas as equipas. Começando nos escalões de formação e acabando na equipa principal.

jF – Essa circunstância não constituiu uma fratura dentro do clube?
Em qualquer clube há o futebol profissional e o amador, por assim dizer. A experiência que temos é que integram normalmente o plantel principal 2 ou 3 jogadores dos juniores. Nós, apesar de estarmos na direção do futebol juvenil fazemos parte da direção do clube. O que significa que há uma aposta séria por parte do S.C. Farense na formação. Essa fratura não existe. Somos uma estrutura com autonomia mas que faz parte da estrutura do S.C. Farense.

jF – Apostar na formação também poderá ser um investimento bem sucedido no caso um jogador das escolas de formação vir a ter uma carreira de sucesso no futebol profissional?
Essa é uma situação que está estipulada. Um jogador que tenha passado pelas escolas de formação de um clube até aos 23 anos pode reclamar uma parte das verbas envolvidas em contratos futuros pelos direitos de formação. Temos o exemplo do Bruno Alves que esteve no S.C. Farense e depois de passar pelo Porto assinou um contrato milionário com o Zenit.
Isso é uma situação que pode vir a acontece. Para já o nosso objetivo é que qualquer jogar que se destaque no sul integre as equipas do S. C. Farense. Neste momento temos estrutura para os receber.

jF- Mas nem sempre foi assim o que deu espaço a que se desenvolvessem alguns negócios à volta da formação aproveitando a apatia do clube?
Isso são situações que no meu caso particular não me afetam. Nós estamos preocupados em criar estruturas. Houve um tempo em que não conseguíamos ter treinadores. Hoje a situação inverteu-se. Temos bons jogadores, bons técnicos. Orgulhamo-nos de não dever nada a ninguém e saldar os nossos compromissos nos termos acordados e dentro dos prazos estabelecidos. Este ano conseguimos comprar duas carrinhas para o clube e esse esforço é feito sempre tendo em atenção as dificuldades de algumas famílias que devido a conjuntura económica muitas vezes são obrigadas a arrastar e mesmo a falhar o pagamento das mensalidades.
A estrutura de Formação vive desse dinheiro e se falta as coisas complicam-se. Até agora tem-nos sido possível contornar essas situações sem fechar a porta a esses miúdos e ao mesmo evitar que a falta desse dinheiro ponha em causa a própria estrutura.
Contamos muito com o apoio dos pais. Como são muitas crianças há sempre o pai de alguém que tem uma empresa ou trabalha em algum lugar onde é possível recorrer em caso de dificuldade.

jF – Como é que surgiu a ideia de organizar o Torneiro Internacional Traquinas 2013?
A ideia surgiu numa conversa de café, por assim dizer. Queríamos dar ritmo competitivo aos miúdos e criar um envolvimento com a cidade. Uma circunstância determinante para a realização do torneio foi o envolvimento do professor Fidalgo Antunes. É uma pessoa muito conceituada no meio. A sua credibilidade e o trabalho que desenvolveu no contato com os outros clubes foi essencial. Ter clubes desta dimensão requer muitas negociações e o professor Fidalgo Nunes conseguiu fazendo os convites pessoalmente. É de justiça frisar que foi um trabalho voluntário sem qualquer tipo de contrapartida que não fosse a realização pessoal pelo contributo que estava a prestar ao S.C. Farense e à cidade.

jF- O que é que implica a realização de uma prova desta dimensão?
Na fase inicial estipulamos uma estratégia e definimos 4 comissões. Uma comissão diretiva, uma comissão técnica, uma comissão de alojamentos e transportes e uma comissão de receção. O professor Fidalgo “entrou em campo” e conseguiu um quadro de equipas muito competitivas. Para o torneio se realizar era necessário o apoio logístico da autarquia que conseguimos. É disso exemplo o serviço de transporte que a autarquia disponibilizou para ir buscar algumas equipas. Depois fomos à procura de parceiros para suprir a questão da alimentação e do alojamento.

jF – Cada comitiva tem 15 pessoas. Para receber todas as equipas foi necessário fazer “muita ginástica”?
Nem todas as equipas necessitam de alojamento. No entanto foi necessária arranjar camas para 9 equipas. Foi uma conquista. Recorremos ao colégio do Alto. O Moto Clube está sempre aberto a estas iniciativas. O Hotel Afonso III também disponibilizou quartos para uma equipa. O que aconteceu de curioso é que assim que os hotéis confirmaram o apoio ao Torneio os familiares e amigos das equipas que instalaram começaram de imediato a reservar quartos.
Quando enviamos o regulamento para as equipas fizemo-lo acompanhar de um plano da cidade com a indicação das unidades hoteleiras que nos apoiaram na organização. Foi uma maneira de retribuir a ajuda que nos deram.
Na parte hoteleira foi complicado. Ouve muitas recusas. Tivemos que recorrer ao Seminário, às instalações da Santa Zita, à Casa dos Rapazes e à Direção Regional de Agricultura, à Escola de Hotelaria e Turismo.
Para as refeições a Câmara Municipal providenciou o transporte e todas as equipas serão recolhidas e levadas para a Escola Hoteleira onde lhes será servido o pequeno-almoço.
Para as refeições o processo foi idêntico mas com maior adesão dos empresários da restauração. Contamos com o apoio do Chelsea, do Belle Époque, do MacDonald`s, da Casa dos Rapazes, da Bella Itália, do Centenário. Em termos de refeições a situação ficou salvaguardada.

jF – O torneio terá continuidade ou é uma iniciativa pontual?
Este é o primeiro mas é nossa intenção dar-lhe continuidade. Até porque tivemos contatos muito próximos com equipas como o Liverpool e o Manchester City. Por questões de orçamento não foi possível incluí-las no Torneio. São equipas que estão noutro nível e para as trazer cá é necessário o envolvimento de outros organismos como a Região de Turismo do Algarve e haver patrocínios de outra ordem. Ouve entidades que foram contactadas e que não nos negaram ajuda mas tudo tem o seu tempo e é muito provável que para a próxima edição possamos ter essas equipas em Faro

Fonte: http://www.jornaldefaro.comapio Eduardo Roque

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