O Centro Popular de Trabalhadores – Clube Atlético Operário nasceu em 1974, embalado pelo espírito da Revolução de Abril. Mais do que um polo de associativismo, o clube tem uma missão junto do agregado populacional mais ocidental da cidade – o bairro do Pelame.
Texto e foto Firmino Paixão
Uma sede modesta, acolhedora e funcional, onde o convívio é fraterno e maior o desejo de afirmação de uma coletividade que pretende consolidar o seu estatuto no universo associativo do concelho. O bar refresca a mente, na parede da sala de convívio a foto dos fundadores retrata a memória do que foram os tempos em que aproveitavam os intervalos das suas atividades de operariado para se reunirem no campo do Seminário a jogarem futebol e a cantarem o seu Alentejo. O bairrismo está latente, mas a população não ultrapassará mais do que o meio milhar de almas, mesmo depois das novas construções. Um quilómetro exato abaixo da ponte sobre o caminho de ferro, uma estrada térrea e estreita leva-‑nos à sede do Operário. Hoje existem outros caminhos, mas este é o mais direto, além da alternativa pedonal de atravessamento da linha que serve de fronteira entre as denominadas Alcaçarias e o Pelame. O espaço social foi cedido pelo município. Amplo e multifuncional, inclui um espaço de terra batida delimitado por duas balizas, onde os miúdos ensaiam lances e aperfeiçoam técnicas. Está ali quase tudo para um polidesportivo, falta o olhar e a vontade de quem decide e pode executar.
Os anfitriões foram Nuno Estevens, presidente do clube, Luís Lebre, responsável pela área desportiva, e António Azedo, um dos fundadores do Operário, que lembrou outros parceiros que puseram a obra de pé, como os irmãos Lobo, o Lemos, o Freitas, Zé Barata, Zé Galandinho, Monteiro, Rodrigues, Francisco Azedo, o Casaca, enfim, todos eles operários empreendedores de uma obra que ainda hoje perdura, albergando 118 associados e oferecendo prática desportiva a cerca de duas dezenas de jovens atletas, numa função social que Nuno Estevens considera “extremamente importante porque promove uma boa interação entre os miúdos, permitindo que convivam e desenvolvam as suas competências desportivas e humanas”. O dirigente assume que “somos verdadeiramente um clube de bairro, uma coletividade onde se respira muito bairrismo, não se fecha a porta a ninguém, mas a nossa atividade é, essencialmente, dirigida às pessoas deste bairro e é com elas que temos desenvolvido o clube”. Estevens explica que as maiores dificuldades “são as limitações financeiras para a nossa logística; temos duas carrinhas que já não são novas e precisam de alguns arranjos, é a manutenção, são os seguros, uma panóplia de encargos que não para de aumentar”. Os apoios, revela “são escassos, menores que as dificuldades. Temos a exploração do bar que é a única receita fixa, e os apoios institucionais, entre eles o do município”. O futebol é, de momento, a única prática desportiva do clube, formando sem olhar a resultados. “O importante é oferecermos a possibilidade dos miúdos praticarem desporto e promover o seu desenvolvimento enquanto atletas e homens”, assegura.
O Clube Atlético Operário passou por um período de inatividade e em 2003 foi reativado, lembra Luís Lebre, o diretor desportivo e treinador dos miúdos. Nessa altura “andámos alguns anos com uma equipa sénior a jogar no Campeonato do Inatel, mas isso era financeiramente incompatível com os nossos recursos, porque treinávamos no bairro da Conceição e tínhamos que pagar a taxa de ocupação do campo (27 euros hora/dia e 40 euros hora/noite), eram valores insuportáveis para as nossas disponibilidades e terminámos essa atividade”. Viraram-se então para a formação, constituindo uma equipa de Infantis a competir na AF Beja, mas o treinador sublinha que “atualmente não temos miúdos que cheguem para uma equipa; temos uma campanha de captação aberta por toda a cidade, para ver se conseguimos recrutar alguns jogadores. Trabalhar com os miúdos a custo zero, não cobramos rigorosamente nada, damos todas as condições, pagamos inscrições, seguros, equipamentos, almoçam connosco, sem qualquer encargo para os pais, a quem agradecemos a confiança que depositam em nós para cuidarmos dos seus filhos e proporcionar-lhes uma prática desportiva”. Um espaço para dinamizarem a atividade é uma das prioridades, porque, acentua Luís Lebre, “é difícil andarmos com a trouxa às costas, é quase uma vida de caracol, nunca sabemos se podemos treinar, estamos muito condicionados à disponibilidade dos espaços e à meteorologia”. E é por isso que confessa: “os miúdos são os verdadeiros campeões; embora os resultados sejam negativos, é uma alegria ver a garra e a forma como sentem a camisola do clube e o orgulho de aqui jogarem”. Razões de sobra para o fundador, António Azedo, sentir “um orgulho enorme do Clube Atlético Operário”. “Valeu a pena termos fundado este clube, infelizmente, nem todos os fundadores continuam entre nós, mas a continuidade desta obra é, também, uma homenagem à sua memória”, conclui.
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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