José Saúde
Não pretendo, tão-pouco ouso, assumir o papel de
advogado do diabo em causas que considero demasiado fúteis, ou seja: a
linguagem miserável, pobre, deslavada, insípida, rude, grosseira,
vezeira, entre outros desajustados endereços que se ouvem
sistematicamente nos recintos desportivos quer no interior das quatro
linhas quer nas zonas limítrofes. A vergonha atingiu os píncaros e o uso
abusivo dos palavrões tornou-‑se coisa banal. Escuto, amiúde, vozes de
revolta sobre a textualização dos palavrões vernáculos que alguns dos
protagonistas do espetáculo desportivo, leia-se, atores da jogatana,
utilizam quando a coisa corre para o torto. As leis do jogo, ao que sei,
são explícitas e punem os virtuais prevaricadores. Só que alguns dos
juízes de campo não cumprem as regras à risca e vai daí os impropérios
que o vocabulário auscultado presenteia um público que se vê
vilipendiado, e ultrajado, pelos sistemáticos trocadilhos obscenos
levados ao rubro pelos craques. Não sou santo, todavia ao longo da minha
atividade desportiva jamais me deparei com os usos e os costumes que
proliferam hoje no universo futebolístico. Descrevo, com senso, a nossa
competição regional. Falo do que vejo e oiço, isto é, daquilo que me é
dado observar ao vivo. Oiço impropérios inimagináveis. Obscenidades
feridas de ética. De respeito para com o próximo. Vozes vibradas não
vacilam perante a tremenda asneira auscultada. Repetem a graça. O
companheiro do lado não se faz rogado e toca a imitar o confrade. A
vergonha galgou fronteiras. O público, sobretudo feminino, ouve iníquas
palavras vergonhosas que deixa o herói vaidoso. Imagina-‑se um deus. Rei
de um trono onde a matéria prima é feita de barro. Não! Não pode ser.
Vamos procurar minimizar essa linguagem improfícua que semanalmente
flagela um de futebol. O repto, literalmente evidente, é direcionado
para quem de direito. Acaba-se com esta vergonha, suplico.
Fonte: http://da.ambaal.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário