sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Vergonha

José Saúde


Não pretendo, tão-pouco ouso, assumir o papel de advogado do diabo em causas que considero demasiado fúteis, ou seja: a linguagem miserável, pobre, deslavada, insípida, rude, grosseira, vezeira, entre outros desajustados endereços que se ouvem sistematicamente nos recintos desportivos quer no interior das quatro linhas quer nas zonas limítrofes. A vergonha atingiu os píncaros e o uso abusivo dos palavrões tornou-‑se coisa banal. Escuto, amiúde, vozes de revolta sobre a textualização dos palavrões vernáculos que alguns dos protagonistas do espetáculo desportivo, leia-se, atores da jogatana, utilizam quando a coisa corre para o torto. As leis do jogo, ao que sei, são explícitas e punem os virtuais prevaricadores. Só que alguns dos juízes de campo não cumprem as regras à risca e vai daí os impropérios que o vocabulário auscultado presenteia um público que se vê vilipendiado, e ultrajado, pelos sistemáticos trocadilhos obscenos levados ao rubro pelos craques. Não sou santo, todavia ao longo da minha atividade desportiva jamais me deparei com os usos e os costumes que proliferam hoje no universo futebolístico. Descrevo, com senso, a nossa competição regional. Falo do que vejo e oiço, isto é, daquilo que me é dado observar ao vivo. Oiço impropérios inimagináveis. Obscenidades feridas de ética. De respeito para com o próximo. Vozes vibradas não vacilam perante a tremenda asneira auscultada. Repetem a graça. O companheiro do lado não se faz rogado e toca a imitar o confrade. A vergonha galgou fronteiras. O público, sobretudo feminino, ouve iníquas palavras vergonhosas que deixa o herói vaidoso. Imagina-‑se um deus. Rei de um trono onde a matéria prima é feita de barro. Não! Não pode ser. Vamos procurar minimizar essa linguagem improfícua que semanalmente flagela um de futebol. O repto, literalmente evidente, é direcionado para quem de direito. Acaba-se com esta vergonha, suplico. 

Fonte:  http://da.ambaal.pt

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