sexta-feira, 27 de junho de 2014
A humildade é alicerce do sucesso
No primeiro dia do verão de 1983 nascia na freguesia de Nossa Senhora das Neves um bebé do sexo masculino que viria a chamar-se Filipe. Meia dúzia de anos mais tarde, no calor de agosto, veio ao mundo um par de gémeos batizados de Luís e João.
Texto e foto Firmino Paixão
Em comum têm o apelido de Aurélio, o gosto pelo futebol e um início de percurso formativo com o emblema do Desportivo de Beja. O irmão mais velho virou as agulhas para a arbitragem, os gémeos, sobredotados em técnica e criatividade, prosseguiram no jogo da bola e fizeram-se à estrada. O João está no Nacional da Madeira há sete épocas, o Luís em Moreira de Cónegos há dois anos. Comeram o pão que o diabo amassou, mas hoje são bons profissionais de futebol e exemplos de como a humildade e o crer são alicerces da vontade e meio caminho para o sucesso. Juntámo-los numa roda de amigos e percebemos a dimensão do carinho e da cumplicidade que existe entre estes três irmãos.
“O meu principal objetivo, desde que abracei este projeto de pertencer a esta família do futebol, era chegar à 1.ª Liga” lembrou Luís, que joga no Moreirense, recentemente promovido ao primeiro patamar do futebol português. E explicou: “Só o consegui agora por diferentes coisas que foram acontecendo na minha carreira, mas isso é passado, acho que ainda estou muito a tempo de mostrar a minha qualidade a este nível”. Jogou em todas as divisões secundárias e assume que subiu a corda a pulso: “Não tive muitos apoios e, no futebol, para se chegar a este nível tem que se ter algumas ajudas, mas por onde passei ganhei sempre o meu espaço e deixei a minha marca, o que me deixou sempre muito feliz e orgulhoso. Agora, terei que ser ainda muito melhor do que fui, para poder mostrar as minhas qualidades”. Por isso, o próximo jogo entre o Nacional e o Moreirense “será um duelo especial”, afirma Luís Aurélio. “Espero defrontar o meu irmão gémeo, jogar contra ele será um momento muito emotivo, espero que joguemos os dois, seremos adversários, conhecemos o sentimento que existe entre nós mas, naquela hora e meia, o João defenderá o clube dele e eu o meu, ambos somos profissionais”.
João Aurélio, 25 anos, como o irmão Luís, está no Nacional há sete épocas. “Tenho sido muito acarinhado, as pessoas acreditaram em mim, deram-me um voto de confiança expresso nos muitos jogos que tenho realizado e, por isso, sinto-me muito feliz na Madeira”, disse. Um porto franco onde o jogador bejense deixou atracar os seus sonhos, num clube cuja grandeza é sustentada pelas constantes presenças em competições europeias. “Desde miúdo que tinha o sonho de ser profissional de futebol. Não sabia brincar sem correr atrás de uma bola, corri atrás desse sonho e as coisas correram-me bem, por isso, estou feliz e muito grato ao futebol por tudo aquilo que me tem dado”, confessou. O reencontro com o irmão no mesmo retângulo de jogo “será um momento de muita emoçãodesde miúdos que sonhamos jogar juntos mas, não sendo possível, já é bom sermos adversários no patamar mais alto do futebol português. Será um momento muito bonito, cada um a torcer pelas suas cores, mas com muita emoção”, considerou João Aurélio. Melhor ainda se o jogo pudesse ser dirigido pelo irmão Filipe, “isso seria a cereja no topo do bolo, mas sabemos que não é fácil termos árbitros de Beja na 1.ª Liga e as coisas não têm corrido de feição ao Filipe. Seria gratificante que isso um dia pudesse acontecer”, adiantou.
Sem arrependimento de ter trocado a carreira de futebolista pela arbitragem, Filipe Aurélio, 31 anos, disse que “Deus escreveu direito por linhas tortas, quando abandonei o futebol já eles jogavam e parece que o que eu tenho de menos futebolista têm eles a mais, ou seja, são jogadores com muita qualidade, pessoas humildes que trabalham diariamente muito e cujo desempenho dá gosto ver. É por isso que merecem realizar todos os seus sonhos”. Qual deles é o melhor jogador? Uma pergunta difícil, considerou com o olhar repartido pelos gémeos: “São jogadores de posições diferentes, mas numa escala até 10 estrelas eu dou-lhes 20. São jogadores muito bons, o Luís foi à seleção da Madeira, o João foi à seleção nacional, se continuarem a trabalhar assim podem chegar à seleção principal”. O percurso de Filipe na arbitragem, segundo o próprio, teve momentos positivos, outros menos bons: “Sei que não é fácil estar nos nacionais, mexe com muita coisa que não apenas o nosso valor, mas fico contente pelo que tenho feito, o sonho era apitar os meus dois irmãos, mas estou a ver isso cada vez mais longe, os anos vão passando e vou ficando mais longe dessa meta”. Mais gratificante é olhar para a carreira dos gémeos. “Sem dúvida, este ano ainda mais por ter os dois na 1.ª Liga. O Luís teve que ultrapassar obstáculos impensáveis, lutou muito mais que o João, muita gente quis puxar o Luís para trás, mas ele é um miúdo que não desiste e conseguiu vencer essa luta com o apoio da família e dos amigos”, concluiu o irmão mais velho do clã Aurélio.
Fonte: http://da.ambaal.pt
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