terça-feira, 26 de maio de 2015

Sub-19: Horta e Dalcio, exemplos de crescimento sustentado

Os internacionais sub-19 Dalcio Gomes e André Horta explicaram ao fpf.pt como contornaram obstáculos e aproveitaram as oportunidades que tiveram para jogar na Liga NOS desta época. Na Ronda de Elite, garantiram, Portugal vai ter ambição máxima.
Futebol Sub-19
André Horta e Dalcio Gomes têm vivido os últimos anos com grande intensidade. Aconteceram muitas coisas nas suas vidas, mas duas foram especialmente marcantes nos seus percursos desportivos: a estreia como internacionais e subida às equipas principais dos respetivos emblemas. E as particularidades comuns não se ficam por aqui, como se notou na conversa com o fpf.pt. A propósito da polivalência de Dalcio, que disse não se importar de fazer qualquer lugar do meio-campo para a frente, embora esteja mais habituado a jogar nas alas, André Horta interrompeu prontamente o amigo e colega de seleção com uma frase taxativa: "Sim, polivalente, tudo bem...mas a concorrência no meio-campo da seleção é muito forte!", atirou. Dalcio não se deu por vencido, embora tenha adotado um tom mais conciliador: "Não te preocupes, não te vou roubar o lugar, até acho que somos compatíveis."
Ficou dado o mote para uma conversa interessante com duas personalidades fortes. Vamos conhecê-las.

André Horta, o criativo que se quer distinguir da sua principal referência

Pode parecer contransenso, mas não é. Afinal, ser alvo de comparações sucessivas com outra pessoa pode não ser a melhor coisa do mundo. E quando a "outra pessoa" é o irmão, apenas dois anos mais velho e com a mesma profissão, é preciso estofo. André Horta parece tê-lo: "Confesso que às vezes é complicado, sofremos sempre comparações e Ricardo [Horta, jogador dos espanhóis do Málaga] já está num patamar elevado. Há pessoas que perguntam sempre quando é que vou ter com o meu irmão! Como não temos grande diferença de idade, é difícil que as comparações não surjam. Ainda para mais tivemos um percurso semelhante, mas eu estou completamente focado no meu trabalho e quero tentar mudar essa imagem do "irmão do Ricardo", até porque somos jogadores muito diferentes. Eu sou mais cerebral, pauto o jogo da equipa, faço o último passe e ele é mais um homem mais rápido e de finalização fácil", explicou, para logo a seguir contestar o julgamento do senso comum: "Dizem que ele finaliza melhor do que eu, mas não concordo nada com isso! Ele marca mais golos, é  verdade, porque tem o chamado 'faro goleador', é mais instintivo. Para além disso, é óbvio que marca mais golos que eu pela posição que ocupa em campo. Eu sou o homem que tenta aparecer a finalizar à entrada da área, nas 'segundas bolas'. É diferente! Mais uma vez, vou ter de provar o que estou a dizer."

Não é difícil imaginar uma casa a respirar futebol com dois jovens que cedo procuraram os caminhos do desporto-rei. Para além da aptidão natural, André Horta lembra que os dois irmãos viveram tardes épicas de futebol no seu próprio quinta, facto que lhes proporcionou dar asas à paixão pelo jogo: "Tivemos a sorte de ter casas com algum espaço para brincarmos, para jogarmos à bola. Lembro-me quando os meus pais nos diziam para não irmos jogar à bola com mau tempo ou mesmo quando nos alertavam para a eventualidade partirmos alguma coisa, algo que aconteceu por diversas vezes! E quanto mais velhos e com mais força, pior. Uma das coisas de que me lembro melhor é que tínhamos uma baliza desde tenra idade e ficámos com ela durante dez anos...até ficar totalmente partida, destruída. Aguentou tudo! Foi com tristeza que a substituímos, mas lá teve de ser. Asseguro que as outras se partiram muito mais facilmente. Também por isto, um dos maiores sonhos da minha carreira é conseguir jogar ao lado do meu irmão." 


A Seleção Nacional e a Liga NOS apareceram quase em simultâneo para o centrocampista do Vitória de Setúbal, que tem trabalhado nos últimos meses tanto com os juniores como com os seniores da equipa sadina, somando já alguns minutos no principal campeonato do futebol português. A receção dos colegas mais experientes e dos treinadores não podia ter sido melhor: "Fui muito bem recebido e a equipa era mesmo muito unida. Já fui aposta de três treinadores da equipa principal do Vitória FC e a verdade é que, antes desta época, tinha como objetivo trabalhar com a equipa principal. Não foi isso que se passou ao início, mas depois fui chamado várias vezes e já fiz seis jogos pela equipa principal. Tem sido uma experiência fantástica, até porque o ritmo é completamente diferente e os jogos têm uma grande intensidade. Estive presente no jogo frente ao Arouca, em que conseguimos os objetivos a que nos propusemos durante a época, e foi uma sensação incrível."


A Seleção Nacional, sendo o reconhecimento  máximo para um jogador de futebol, também foi alcançada com a "ajuda" do irmão: "Sempre confiei muito em mim e nas minhas capacidades, sabia que podia chegar onde queria. Depois, o exemplo do meu irmão também foi fundamental para pensar que os meus sonhos não estavam assim tão distantes. Ele também foi muito importante nesse sentido. Tinha um exemplo em casa e esforcei-me bastante", frisou, desvendando ainda um dos princípios que adota muitas vezes, especialmente ao serviço da Seleção: "Nunca me vejo como um indiscutível ou como uma pessoa que tem alguma coisa garantida. Sempre que cá venho, é quase como se fosse a primeira vez. Tento trabalhar no máximo para mostrar que quero aproveitar a oportunidade."


Dalcio Gomes, o rapaz que dormia com a bola encara muito a sério a sua profissão

O ano de 2015 tem sido de ouro para Dalcio Gomes. Para além de se ter tornado internacional português, o jogador do Belenenses foi inscrito na Liga NOS em janeiro último. Deixemo-lo explicar todo o processo em discurso direto, porque é delicioso: "Eu sei que também tive sorte. O meu 'Belém' [tratou o seu clube desta forma carinhosa ao longo de toda a entrevista] tinha alguns jogadores indisponíveis e houve juniores a treinar com a equipa principal. Um dia, um dos responsáveis do clube chegou ao pé de mim e perguntou-se se eu queria tentar a minha sorte tendo em vista uma possível inscrição no mercado de inverno, mas eu vinha de uma lesão e ainda não me sentia a cem por cento. Nem podia, eu não treinava há três semanas! Mas pronto, lá fui e nunca mais voltei aos juniores desde que fui inscrito no campeonato. O meu primeiro jogo, frente ao Gil Vicente, não me vai sair da memória", confessou. Não se pode é dizer que antes de entrar em campo as sensações tenham sido as melhores: "O que eu suava! O treinador mandou-me aquecer e eu a partir daí todo eu era nervos. Até tremia, mas depois de entrar em campo foi tudo muito tranquilo, até porque já estávamos a vencer por dois golos de diferença."

Dalcio Gomes não tem uma família especialmente ligada ao futebol, por isso podemos falar em paixão completamente genuína pelo jogo. Nada lhe foi inculcado, mas deu-lhe forte: "Contam-me sempre que eu até dormia com a bola! Desde miúdo que eu nem queria brinquedos, só queria que me dessem uma bola para os pés. Passei em diversos clubes a pensar só em divertir-me até que cheguei a uma certa idade e encontrei um treinador que me mudou completamente a mentalidade. A partir daí comecei a levar o futebol mesmo muito a sério, foquei-me mais, trabalhei no duro todos os dias e agora sou internacional. A recompensa por esta mudança de postura foi ótima, mas esforço-me por me lembrar que faço o que gosto e procuro desfrutar do jogo, não perdendo competitividade. Isso deixa-me mais à vontade. Quando vou para os jogos, a minha forma de me concentrar é estar a brincar com os meus colegas."


A possibilidade de jogar de Quinas ao peito surgiu naturalmente, como quase tudo na vida desportiva de Dalcio: "Logo que percebi que tinha possibilidades de ser convocado, trabalhei de uma forma ainda mais forte. É claro que tem um grande significado para mim vestir esta camisola, mas sinceramente não pensei que o conseguisse tão cedo. Quando saiu a convocatória com o meu nome foi uma sensação incrível! Já tenho dois golos em cinco jogos, mas até acho que podia ter marcado mais. Há que querer sempre o melhor para a equipa."

E, afinal, com tantas mudanças, o Dalcio internacional português continua a ter a mesma essência? "Claro!O Dalcio fora do campo gosta, sobretudo, de estar com a família. A família e os amigos são a minha prioridade. Gosto sobretudo de estar a conviver na rua, ao ar livre. São eles que me fazem evitar ver demasiado futebol e entrar numa certa obsessão. É tudo uma questão de equilíbrio."


Discurso ambicioso para a Ronda de Elite

Na véspera da partida da Seleção Nacional sub-19 para a Geórgia, onde vai disputar a Ronda de Elite de acesso ao Campeonato da Europa, Dalcio Gomes e André Horta não divergiram no discurso.

O médio do Vitória FC foi muito esclarecido: "Só se ficarmos em primeiro lugar é que nos apuramos, por isso temos de pensar necessariamente em ganhar, que é aquilo a que estamos habituados. Vamos à Geórgia com ambição de vitória em todos os jogos porque uma eventual presença no Europeu significaria muito para nós. Vamos dar o máximo para assegurarmos a presença na Grécia, em julho!"

O avançado do Belenenses alinhou pelo tom audacioso: "Queremos o primeiro lugar, embora saibamos que vamos defrontar equipas mesmo muito difíceis. A Espanha é realmente uma equipa muito forte, ao nosso nível, mas não nos podemos esquecer que também vamos defrontar os melhores jogadores da Geórgia e da Turquia. Não será uma tarefa fácil, mas temos muita confiança no nosso trabalho e tentaremos colocar em campo as ideias que a equipa técnica nos passar."

Os sub-19 viajam para a Geórgia esta terça-feira. A partida está marcada para as 15h45, no aeroporto da Portela.

Clique aqui para consultar o dossier de imprensa da Seleção Nacional sub-19.
Clique aqui para conferir o mapa de internacionalizações dos jogadores convocados.
Fonte: FpF.PT

Sem comentários:

Enviar um comentário