sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Crianças


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José Saúde

O mundo das crianças sempre enterneceu o meu ego. Comove-me a sua jovialidade e crença desportiva. Correr atrás de uma bola transporta-os para um desejo infinito. Revejo imagens que me conduzem para os tempos de criança sendo o sonho um universo fantástico. A bola alimentava uma fantasia literalmente infindável. Nós, putos, ansiosos pelos chutos na trapeira, cruzávamos as ruas da urbe, os seus bairros, e pedíamos despique aos parceiros que não abdicavam de uma boa jogatana. Acabávamos aos 10, mudávamos de campo aos cinco e no final os vencedores deliravam com o feito alcançado.
Os espaços livres eram notáveis palcos para uma peleja domingueira. Alguns descalços, não obstante as irregularidades do terreno e as adversidades físicas que o mesmo abarcava – vidros, pedras e cardos eram assíduos companheiros – outros cujas meias solas dos sapatos, ou botas, propunham mais uma ida ao sapateiro, deixavam patente que esses princípios desportivos faziam prever um amanhã auspicioso. Depois vinha a competição oficial. Muitos ficavam pelo caminho, é certo, outros vingavam num cosmos sempre hábil em surpresas.
Com o evoluir dos tempos os clubes criaram novas estruturas que propuseram modernas posturas, o que levou o fator da formação a uma incontornável realidade. Os ideais das crianças são veracidades conhecidas mas que os adultos isoladamente desprezam, fazendo dos modelos juvenis um irrefutável atropelo. Direi que os paradigmas por ora públicos transportam-nos para quiméricas decisões onde as sentenças de alguns mentores destroem angélicas vontades de crianças que, a troco de nada, vão sendo enganadas por clubes que lhes propõem o céu e acabam no inferno.
Alertemos para o desenfreado pesadelo que atualmente se vive no futebol juvenil bejense, onde os poderosos abrasam parceiros modestos que são encurralados num beco sem saída. Repugna este tipo de maldade saloia. Parafraseando uma estrofe do fado “Os Putos” de Carlos do Carmo: “E a força de ser, criança/Contra a força dum chui, que é bruto.”


Fonte: http://da.ambaal.pt/

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