segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Um treinador do mundo


Nasceu em Beja há 46 anos. Começou a jogar futebol na Zona Azul, cresceu, rumou ao Algarve, fez-se futebolista, diretor técnico e treinador, já trabalhou em clubes de quatro continentes.

Texto e foto Firmino Paixão


Rui Capela iniciou-se na Zona Azul na época de 1978/79, jogou três anos no Desportivo de Beja e rumou ao Torralta, onde chegou a internacional júnior. Farense, Quarteirense, União de Tomar, Moura, Lagos, Praiense, Imortal, Ourique e Lagoa, são outros emblemas que representou como jogador. Depois foi campeão nacional em Marrocos, campeão da 2ª. Divisão no Paraguai, ganhou a Taça do Bangladesh, em suma, jogou na 1.ª Liga Portuguesa e treinou já em quatro ligas mundiais.


O que é feito do Rui Capela? As pessoas lembram-se de ter saído de Beja para jogar no Torralta...Fiz o meu percurso, essencialmente em clubes da 2.ª Divisão, no Algarve, mas tive uma lesão que me afastou dois anos dos relvados e, nessa altura, a minha carreira não teve o impulso que eu queria, mesmo assim, com o amor que tinha pelo futebol, ainda joguei até aos 32 anos. Fiz os cursos de 1.º e 2.º nível antes de terminar a carreira, e comecei a trabalhar como coordenador técnico em vários clubes do Algarve até que, em 2010, surgiu a oportunidade de trabalhar no estrangeiro.


Esse foi o início de um percurso à conquista das Américas?Parti para o Paraguai como coordenador técnico, já com o curso de 3.º nível, mais tarde estreei-me como treinador na 1.ª Divisão do Paraguai, no 3 de Febrero, clube que recordo com muito carinho por me ter dado a oportunidade de ser treinador principal numa liga fortíssima, e lembro que o Óscar Cardozo era jogador daquele clube antes de vir para o Benfica. Mais tarde recebi um convite para treinar o melhor clube do Bangladesh, o Mohammedan, e não hesitei. Fui feliz, ganhei a Taça do Bangladesh, havia meia dúzia de anos que o clube não vencia nenhuma competição e no campeonato fizemos uma boa campanha.


Terminado o contrato não chegaram a acordo para a renovação…Regressei a Portugal e, mais uma vez, recebo o convite de um gigante, o WAC de Casablanca, e como o futebol é feito de oportunidades eu não podia dizer que não ao clube mais titulado do continente africano, onde ia trabalhar com o John Toshak. Voltei à Europa para trabalhar no Kruoja Pakruojis, da Lituânia, um projeto de curta duração, porque os investidores desinteressaram-se do clube. Fiz o curso de 4.º nível UEFA Pro e fui recomendado para trabalhar no Al Khor Radif, do Qatar, clube onde estou atualmente.


Saiu de Portugal rumo à América do Sul, Médio Oriente, voltou à Europa e rumou à Africa?São quatro continentes. O futebol tem uma linguagem universal, mas temos que nos adaptar a cada espaço, porque em cada latitude as características são específicas. E a adaptação tem que ser feita por nós, se não não duramos muito nesse espaço. Temos que nos habituar à cultura, ao clima, à religião, é muito mais do que treinar, temos que nos adaptar aos momentos.

As saudades do seu país devem ser imensas …Sou apaixonado pelo sul de Portugal, fui criado em Beja até aos 16 anos, vivo no Algarve há 30, e quando falo na região, falo no sul do meu País. Tenho família num lado e no outro, e a saudade é sempre enorme, mas esta profissão não nos permite ser saudosistas, temos que nos focar naquilo que é importante, que é o trabalho sério. A saudade é esbatida hoje com as novas tecnologias, mas o coração está sempre com a família e com os amigos.


Existe algum sonho para treinar um grande em Portugal?Já tive esse sonho em tempos, mas já não o procuro, sei que, para além da qualidade dos treinadores, por vezes, é preciso termos agentes que nos permitam entrar no mercado e, estando eu habilitado para esses projetos, não tenho ninguém que me apoie para entrar nessa área. Estou bem no Qatar, tenho condições para fazer um bom trabalho, gostava de voltar à Europa e adorava trabalhar em Portugal, mas na verdade ainda não surgiu nenhum convite, e não estou obcecado. Os treinadores em Portugal têm muita qualidade e a concorrência é grande.


Vai continuar a ser um treinador intercontinental?Prevejo ficar mais alguns anos fora, sou profissional, quero fazer aquilo de que gosto e isto já não tem retorno. São 40 anos ligado ao futebol, como jogador, coordenador técnico, treinador, ainda não parei e sempre numa fase evolutiva ascensional. Este é um mundo em que é preciso ter muita coragem, mas como bom alentejano que sou não viro a cara à luta porque tenho uma força interior muito grande. Não sei onde vou parar, se saísse agora já era um homem realizado, mas quero mais porque sou ambicioso. Já realizei sonhos que, quando era jovem, nunca imaginei atingir. Porquê? Porque luto e tenho agarrado as oportunidades.

Fonte: http://da.ambaal.pt/

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