Unidos por uma causa

Um Airbus 320 da TAP descolou de Lisboa rumo a São Paulo. Aos comandos da aeronave o comandante Filipe Campêlo e o piloto Pedro Silva. O avião voava à velocidade de 350 nós, com altitude de 9800 pés, quando o Ultra Trail dos Escoteiros de Beja foi arquitetado. Ficção? Talvez sim, talvez não…

Texto e fotos Firmino Paixão


Filipe Campêlo é o chefe do Grupo 234 de Beja da Associação de Escoteiros de Portugal, fundado em 18 de janeiro de 2009, também dia de aniversário do comandante Campêlo. A necessidade de angariar fundos para as obras de recuperação da nova sede, instalada na arquibancada do Estádio Flávio dos Santos, associada à celebração do aniversário do grupo, suscitou a realização de uma prova desportiva – uma maratona foi a primeira ideia. Mas Pedro Silva, triatleta que em setembro disputará na Austrália o Campeonato do Mundo de Ironman e copiloto do comandante Campêlo, sugeriu um trail e explicou como, do ar, se projetou uma prova desportiva no coração do Alentejo: “Durante um voo para São Paulo começámos a falar no planeamento. Dei-lhe os tópicos e prometi ajudá-lo na organização, o Filipe aproveitou a oportunidade e desenvolveu este trail que resultou numa organização fabulosa”.
Comprometido com este evento o piloto prometeu regressar na próxima edição, ele e outros membros da mesma tripulação que disse serem “fanáticos das corridas”. Entre eles, estiveram em Beja as assistentes de bordo da TAP Portugal, Aida Remtula e Filipa Elvas – a última, a voar nas asas da notoriedade, após ter sido a vencedora e única mulher a concluir a Maratona da Muralha da China 2013, vencedora da Maratona Polar na Gronelândia, e 3.ª na Maratona do Deserto de Atacama. Com uma invulgar simplicidade e afabilidade, Filipa Elvas confessou: “Foi uma grande alegria estar aqui, porque por detrás de uma corrida está associada uma causa solidária e é por isso que aqui vim. Adorei estar em Beja, foi com grande orgulho que vim ajudar os escoteiros locais”.
O sucesso do Ultra Trail e o prestígio que a sua tripulação acrescentou à prova foram razões bastantes para Filipe Campêlo estar feliz. “Bastante feliz. Projetámos uma prova para 100 participantes e tivemos 180, foi excelente, depois, aquelas coisas que eram importantes, o abastecimento, o percurso, tudo correu bem, os miúdos escoteiros fizeram um trabalho extraordinário, além de que estiveram aqui campeões nacionais e internacionais, por exemplo o Pedro Silva que está qualificado para o Mundial de Ironman e veio cá especialmente porque gosta de nós e nem está muito habituado a fazer trail, foi muito bom”, confessou.
O chefe do Grupo 234 dos Escoteiros sublinhou que “a organização de eventos nos escoteiros é normal, temos experiência de grandes atividades, sabemos fazer a logística, a parte desportiva foi a primeira vez, mas o resultado final foi francamente positivo, portanto o grupo está de parabéns, todos os miúdos, todos os pais, porque eles também foram fundamentais”. “Foi mais fácil do que fazer descolar um avião?”,  questionámos. “Depende da meteorologia”, brincou Filipe Campêlo. Associado a duas causas, a angariação de fundos e o 7,º aniversário do Grupo 234, o evento também deu a conhecer a região: “Vários atletas disseram-me isso e dirigiram-se-nos, não enquanto organização, mas enquanto escoteiros, referindo que vieram pela causa. Por isso, deixamos aqui o nosso agradecimento a todos os que estiveram presentes, mas também estiveram atletas de outras partes do País, dois espanhóis, que tornaram a prova internacional, e alguns deram-me nota que os percursos eram excelentes, é uma região tão fantástica, e esse também foi outro dos objetivos que atingimos, divulgando Beja e a sua potencialidade, entre outras coisas, para a prática desportiva”. O próximo voo, perdão, o próximo Ultra Trail será no dia 21 de janeiro de 2017.


Vencedores: Trail Curto 13 km: 1.ª Cristina Gonzalez (Farmácia Palma), 1.10.07h; 1.º Filipe Mocho (Furões do Alentejo), 58.38’. Trail Longo 22 km: 1.ª Andreia Neves (Tu e Eu), 2.10.13 h.; 1.º Pedro Silva (TAP), 1.27.11 h. Ultra Trail 47 km: Isabel Moleiro (SS CGD), 4.35.19. 1.º Miguel Brites (Individual), 4.03.24h.
Fonte:  http://da.ambaal.pt