sábado, 30 de abril de 2016

“Saio pela porta grande”


O Despertar Sporting Clube conquistou o título de campeão distrital da 2.ª Divisão da Associação de Futebol de Beja e na próxima temporada disputará o campeonato principal, mas, tudo indica, com novo treinador.

Texto e foto Firmino Paixão

Acabado de conquistar o título distrital e a subida de divisão para o que diz ser o clube do seu coração, Jorge Palma (“Martelo”), 40 anos, anunciou a sua saída do emblema bejense. Licenciado em Educação Física e docente no Agrupamento de Escolas de Moura, o treinador não assume, para já, qualquer outro compromisso mas qualifica de irrevogável a sua decisão de abandonar o Despertar, clube onde ganhou tudo o que teve ao seu alcance e onde nas últimas duas épocas liderou o projeto de fazer subir a equipa sénior ao escalão principal.


“Quem porfia sempre alcança” e o Despertar conseguiu nesta época o título da 2.ª Divisão e a subida ao primeiro escalão distrital.Na verdade isto não foi só o trabalho de um ano, nem de dois, falámos sempre em dois, porque foi a primeira vez que nos juntámos em seniores. Mas este trabalho começou quando alguns destes atletas tinham cinco anos e andavam nas escolinhas. O bom deste título, e o gozo que nos dá, é precisamente 90 por cento destes jogadores serem da formação do Despertar. Fomos vencendo as provas da AF Beja, fomos para os campeonatos nacionais e depois de chegados aos seniores, no primeiro ano, conseguimos a Taça de Honra e no seguinte, com uns ajustes no plantel, conseguimos o título distrital. Estamos todos de parabéns porque é o trabalho de muita gente dentro deste clube, que é enorme, e este título é para eles todos.


Um título pleno de justiça. O mérito é inquestionável?Controlámos sempre a primeira fase, a nossa série foi muito difícil, com saídas muito complicadas para campos tradicionalmente difíceis, Amareleja, Cabeça Gorda e até Mina de São Domingos, clubes com adeptos que são ferrenhos e apoiam muito as suas equipas. Por isso, fomos sempre gerindo a nossa posição relativamente à passagem à segunda fase, com uma boa gestão do plantel para, numa segunda fase, termos todos os jogadores disponíveis e satisfeitos, mantendo os 20 jogadores que tinha no plantel. Quando nos qualificámos para a segunda fase, foi de uma forma justa e hoje, sem qualquer dúvida, somos uns campeões com letra maiúscula.


Um título que serve de pedagogia para os atletas da formação…E essa é a visão que eu tenho da formação dentro do Despertar. O clube não precisa de ir buscar jogadores fora, nem pagar vencimentos altíssimos, para apresentar equipas competitivas. Estamos preparados para as nossas mais-valias saírem para outros clubes que paguem, isso faz parte da evolução deles, mas o Despertar tem muita sustentabilidade e até os juniores que sobem no próximo ano e que não tenham mercado na 1.ª Divisão ou no Campeonato de Portugal farão a adaptação ao futebol sénior na equipa do clube que os formou. A equipa do Despertar tornar-se-á competitiva e será capaz de atingir os objetivos na 1.ª Divisão, que será a manutenção nos tempos mais próximos e, quando houver outro tipo de condições, o Despertar, com a qualidade que tem nas suas camadas jovens, conseguirá um dia chegar ao título da 1.ª Divisão distrital.


Que ideias tem para o futuro? O que mudará relativamente à realidade atual do futebol sénior do clube?Relativamente ao Despertar, não sei. Estamos à beira de eleições e não sei se entrará, ou não, uma nova direção. Quanto à minha condição de treinador, o meu compromisso era ficar nesta equipa dois anos. Após o jogo da Cabeça Gorda em que assegurámos o título, comuniquei de imediato a minha saída do Despertar, foram 14 anos neste emblema, e nós temos que saber sair, acho que chegou essa altura. Quando ganhamos tudo o que há para ganhar na formação e ganhamos também nos seniores tudo o que esteve ao nosso alcance, fica na hora de sair por cima e, neste momento, entendo que devo sair.


Uma decisão irrevogável ou nem por isso?É irrevogável. A decisão está tomada e já foi comunicada ao presidente do clube, antes mesmo de conseguirmos o nosso título, e divulgada aos jogadores logo após o jogo de Cabeça Gorda, para que o soubessem por mim e em primeira mão. Temos que saber afastar- -nos. Sei que, no futuro, não ganharíamos com a regularidade a que o grupo de trabalho está habituado. As críticas iriam aparecer, não que eu tenha medo, nunca terei medo de críticas, mas acho que um clube a quem devo tanto, devo tudo porque me formou, não merece que eu me ande a arrastar. Merece, sim, que eu saiba sair pela porta grande, que deixe saudades e que os títulos que ganhámos nestes anos todos sejam algo de positivo para que as pessoas se recordem de mim.

Fonte:  http://da.ambaal.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário