sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Que posso eu pedir mais?


O registo fotográfico do atleta bejense Fernando Mamede cortando a meta na prova de 10 000 metros (Estocolmo, 1980), quando bateu o recorde mundial desta distância, figura na sede do Núcleo Sportinguista de Beja.

Texto e foto Firmino Paixão


Uma homenagem singela, mas com muito significado. A direção do Núcleo do Sporting Clube de Portugal, em Beja, aproveitou a presença do presidente do clube para, entre outros atos, distinguir o atleta que, durante 15 anos, foi detentor da melhor marca mundial dos 10 000 metros planos. Um gesto bem recebido pelo antigo atleta, já medalhado pelo município de Beja, a sua cidade, também por Lisboa, e pelo Governo de Portugal, com as medalhas de mérito, de honra ao mérito e uma Ordem de Comenda. Isto além das merecidas distinções do movimento associativo a que sempre esteve ligado e, igualmente importante, da atribuição do seu nome ao complexo desportivo da sua cidade, numa cerimónia que ocorreu em 3 de junho de 2001, testemunhada pelo mestre Moniz Pereira, era, à época, José Manuel Carreira Marques o presidente do município de Beja.
A decisão não foi bem recebida por alguns “velhos do Restelo” desta urbe, que não se coibiram mesmo de destruir as placas toponomásticas do próprio complexo (que até hoje não foram recolocadas). No seu livro O Recordista (uma biografia de Jorge Vicente editada em 2004 pela Sete Caminhos) Mamede confessa ter sabido da existência de alguma controvérsia pelo facto de nunca ter corrido em Beja.
Neste seu regresso, quatro anos depois da última visita, ausência tão alargada por motivos de saúde, Mamede não concorda com o que, às vezes, se diz da sua cidade, que é “ruim mãe e boa madrasta”. “Acho que não”, disse o antigo atleta. “Comigo nunca foi, nunca tive razões para sentir que a cidade me era madrasta, gostei sempre da minha terra natal e quando daqui saí para competir foi porque na época não existiam clubes federados, nem existia uma associação de atletismo. Um desgosto que sempre senti foi o facto de nunca me ter sido possível correr na minha cidade, mas nem sequer existia uma pista, como existe agora, onde eu pudesse correr”. Mas os tempos são outros: “Sim, tenho acompanhado, mas as coisas, não só aqui, como a nível nacional, não estão tão bem como antigamente, pelo menos no que diz respeito ao meio fundo e fundo. Observei alguns atletas que despontaram ali em Alvito, mas eles foram uns marotos, não quiseram saber do atletismo, foram embora precocemente, ainda como juniores e juvenis. Estavam sob minha observação e queria levá-los para o Sporting, mas eles não quiseram”.
As homenagens devem ser feitas em vida dos seus destinatários, concordou Fernando Mamede. “É verdade, e foi aquilo que eu disse relativamente ao professor Moniz Pereira depois de ele ter falecido, havia pessoas que lhe queriam fazer mais homenagens, em vida sim, as pessoas reconhecem, no meu caso já sou comendador, tenho a medalha de mérito da minha cidade, tenho o complexo com o meu nome, o que posso eu pedir mais?”. Talvez saúde, essa é que tem faltado, não é Fernando? “Sim! Os últimos quatro anos foram complicados, o meu sistema nervoso foi abaixo mais uma vez, mas agora foi um pouco mais profundo, mas felizmente pus-me melhor antes de o professor Moniz Pereira falecer. As coisas correram melhor para mim, mas correram pior para ele, infelizmente”, concluiu Mamede.

Fonte: http://da.ambaal.pt

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