sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
Um ato de coragem
Sarando feridas e tapando buracos escavados pelos garimpeiros do passado, o percurso de sobrevivência do Clube Desportivo de Beja, uma nobre instituição centenária, não tem sido fácil nos tempos que correm.
Texto e fotos Firmino Paixão
O que lhe tem faltado em meios sobra em coragem de um grupo de voluntários, atletas, técnicos e dirigentes que vão fazendo muito com tão pouco. João Mansinhos, treinador da equipa que disputa o Campeonato Distrital da 1.ª Divisão de Beja, é um desses missionários, que já foi buscar a equipa ao patamar mais baixo do futebol regional e procura mantê-la na divisão principal. Por isso, acredita que melhores dias estão para chegar.
A equipa está um furo acima da zona de despromoção É o lugar possível. Quando tomei conta da equipa em outubro, alguns amigos disseram--me que esta equipa não faria um ponto. Já temos sete pontos, acho que realmente valeu a pena ter aceitado este desafio que, estou consciente, é muito, mas mesmo muito difícil.
E a produção da equipa tem vindo a melhorar?É uma realidade. Quando cheguei aqui encontrei uma equipa que não sabia estar dentro do campo. Os espaços eram mal ocupados, foi um trabalho muito duro, um obstáculo que estamos a conseguir ultrapassar porque a nossa organização está muito melhor do que estava e com as rotinas que adquirimos conseguimos tornar a equipa mais forte. Já temos a certeza de que podemos ganhar jogos, o que não acontecia aqui há uns meses atrás. Entrávamos em campo logo derrotados, agora já lutamos pelos pontos e isso é um bom sinal.
Entretanto, têm chegado novos jogadores?Chegou um miúdo que nos ofereceu alguma tranquilidade, mas que, infelizmente, estamos na iminência de perder devido a fatores que nos são estranhos. Não fomos contactados, mas já sabemos que esse atleta estará de abalada para o campeonato nacional de seniores. Mas eu tenho muito respeito por todos os meus jogadores, dão o que têm e não têm. Há outros que podiam aqui estar e não estão, foram para outros clubes, mesmo sem ganhar dinheiro, mas aqui não quiserem estar.
Quando não existe dinheiro falta tudo, é difícil recrutar jogadores, é difícil contratar treinadores...A situação é difícil, mas eu aceitei treinar o Desportivo de Beja por amor ao clube. Mas é preciso ter muita coragem. Depois de ter visto esta equipa jogar, como vi, e mais tarde aceitar vir treiná-la, foi um verdadeiro ato de coragem. Mas é um desafio, acho que o mais difícil da minha vida desportiva. Se conseguirmos, será um feito inesquecível, não só meu, mas também do departamento de futebol sénior do clube e, naturalmente, dos jogadores.
Quando alguém está caído, poucos são os que o ajudam a erguer. É o que acontece com este clube?É verdade. Estávamos num buraco muito fundo e agora já conseguimos pôr a cabeça de fora, mas alguém, por meios que eu me escuso aqui a referir, está a tentar empurrar- -nos de novo para baixo, empurrar-nos para o fundo, mas eu tenho a certeza de que este clube, mais cedo ou mais tarde, voltará a ser a referência do futebol no nosso distrito. E espero que, para essas pessoas que agora nos estão a prejudicar, as portas fiquem fechadas e sempre fechadas, pois são pessoas sem caráter, que andam no futebol de má-fé.
O Clube Desportivo de Beja não morrerá…Tenho a certeza disso. Com a dedicação e a vontade das pessoas que estão à frente do clube ele não morrerá, levará algum tempo a reerguer-se, mas um dia acontecerá. O clube caiu no descrédito, a cidade abandonou o Desportivo, que não merecia que as forças vivas de Beja lhe voltassem as costas. Se existisse algum apoio seria mais fácil, assim torna-se mais difícil, mas acredito que o clube voltará a ser o Desportivo de Beja que nós todos conhecemos e de que tanto nos orgulhávamos.
Trouxe o Desportivo da 2.ª para a 1.ª divisão distrital e agora cabe-lhe tentar segurá-lo neste escalão. O João surge nos momentos difíceis?É um desafio muito difícil, muito ousado, mas se conseguirmos esse objetivo será uma alegria enorme para todos. Tenho um orgulho muito grande neste clube, foi aqui que comecei a minha carreira e tenho grandes recordações. Estou aqui por paixão, se as coisas estivessem bem eu apoiaria por fora, mas como estão mal, estou cá dentro dando a cara, fazendo sacrifícios, como fazem os atletas. Este clube ensinou-me a ser jogador e preparou-me para a vida, estou-lhe muito grato, nunca lhe poderia voltar as costas. Nunca aqui joguei quando havia muito dinheiro, isso foi para outros que nunca ajudaram o Desportivo como está atualmente. É uma pena, mas é aquilo que temos.
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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