quinta-feira, 27 de abril de 2017

Memórias


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José Saúde


As inóspitas clausuras que o tempo ousou armazenar levam o homem a exercitar memórias que transmitem fulgor à geração atual que vive o presente e desconhece, presumivelmente, as raízes da existência do universo desportivo. E é nesta base de argumentos que elaboro narrativas que visam enaltecer crenças passadas que interferem com a evolução do fenómeno no presente. Recorro a imagens hermeticamente guardadas no espólio dos mais antigos que sugerem mirar ditosas aventuras que faziam do desporto um hino à liberdade, não obstante o grau “artístico” que a proeza impunha numa sociedade que se via maniatada a débeis preconceitos regimentais. A minha praia foi sempre o futebol, mas não escondo, porém, que outras circunstâncias havia que preenchiam vidas de jovens que se dedicavam efusivamente a um prodígio onde se sentiam endeusados. Falemos de uma das vertentes da patinagem que se afirmou na velha Pax Julia e que conhece agora eloquentes prazeres competitivos a que acresce o profícuo desenvolvimento de infraestruturas próprias: o hóquei em patins. Conheci o tempo em que o exíguo ringue do jardim público de Beja concentrava um leque de atletas cuja finalidade era a prática da modalidade. Em noites quentes de Verão o espaço concentrava um catálogo de gentes que se regalavam a presenciar os desafios citadinos, assim como o refrescar de corpos sedentos para um merecido descanso após mais uma árdua jornada de trabalho. O lago, ali mesmo ao lado e onde o “tio” Augusto era o seu timoneiro-mor, expelia viçosas ondas de frescura que o breu da noite agradecia. No interior do ringue a rapaziada esboçava mais uma jogada de ataque com um artesanal stick que entretanto se afigurava como uma arma crucial para o evoluir da jogatana. Sob uma iluminação ténue, as equipas entregavam-se à luta e o final do dérbi remetia o abnegado espetador para o campo da imprevisibilidade. Numa brochura espiada sobre as equipas que nesse tempo se defrontavam, destacamos o Ateneu, o Pax Julia e o Despertar. Memórias que a idade humana jamais esquecerá!

Fonte: http://da.ambaal.pt/

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