sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Uma aljustrelense na seleção


“Como jogadora, certamente, mudará alguma coisa, acho que vou crescer imenso, os estágios foram momentos em que aprendi bastante e me fizeram crescer como guarda-redes. Mas enquanto pessoa não mudará nada, a minha mãe está sempre a recordar-me tenho que ter os pés bem assentes na terra”. Foi com esta simplicidade que a jovem aljustrelense Ana Beatriz Arranhado, 15 anos, comentou a sua chamada à seleção nacional feminina, no escalão de Sub 17.

Texto e foto Firmino Paixão

A equipa nacional defrontou esta semana a sua congénere húngara, em Gouveia (terça-feira) e em Seia (ontem), em jogos amistosos que visam a qualificação para o Campeonato da Europa da categoria, em 2018.
A guarda-redes do castrense confessou mesmo que “ainda não acredito bem no momento que estou a viver. Senti a convocatória da selecionadora nacional, Marisa Gomes, como um voto de confiança, sinceramente que não estava à espera, fiquei muito feliz”. No seio da família, adiantou Ana Beatriz, “ainda ficaram mais surpreendidos do que eu. Na altura fiquei um bocadinho em choque, mas os meus pais e o meu avô, principalmente o meu avô, ficaram completamente radiantes”.
Inspirada pelo avô e pelo irmão mais velho, antigos jogadores do Mineiro, a Ana Beatriz é aquela jovem que nos habituámos a ver saltar a vedação do Municipal de Aljustrel para dar uns toques no intervalo dos jogos: “Tinha esse hábito, saltar logo para o campo a correr sem perder nenhum minuto do intervalo, para ir jogar com outros miúdos”. Praticou outros desportos, mas “na altura de decidir, privilegiei o futebol”. Apesar de se ter iniciado como jogadora de campo nos escalões de formação do Aljustrelense, com os técnicos Paulo Serrão e Nuno Martins, mais tarde sentiu vocação para jogar à baliza: “Neste momento acho que não me encaixava em nenhuma outra posição dentro do campo”. E hoje, o seu treinador na equipa feminina do castrense, Ruben Lança, garante que “a Ana tem muita qualidade, organiza muito bem a defesa, porque fala muito com as colegas e é forte a sair dos postes. Tem trabalhado cada vez mais e esta convocatória é um tributo muito merecido ao seu esforço”.
Quatro épocas na formação do Mineiro, até à idade limite para jogar em equipas mistas, lançaram-na para um projeto diferente, a equipa feminina do castrense, onde chegou ainda demasiado jovem, mas não desistiu, conta Ruben Lança: “Quando veio para cá não tinha idade para jogar e desmotivou-se um pouco, mas voltou no ano passado porque acreditou no nosso trabalho. Desde então tem vindo a trabalhar connosco, como tantas outras que já passaram pelo castrense e outras que continuam cá, todas com muita qualidade para chegarem a seleções nacionais”.
A Ana reconhece que “fui muito bem recebida no castrense. Sentia alguma ansiedade, alguma timidez inicial, não sabia se me iria ambientar e integrar-me bem no grupo mas, graças a Deus, correu tudo bem”. No entanto “o Ruben foi uma pessoa que nunca desistiu de mim, ele podia achar que eu era muito nova mas nunca me deixou para trás, motivou-me, ralhou-me muitas vezes quando eu me desleixava e tinha razão, mas felizmente, dei-lhe sempre ouvidos, só tenho a agradecer-lhe. Se estou hoje onde estou, e onde espero continuar, foi também graças a ele, às minhas colegas e ao Futebol Clube castrense”.
Dividida entre dois clubes que distam entre si cerca de duas dezenas de quilómetros Ana confessou que “o castrense é o meu clube neste momento, mas sinto, desde pequena, uma enorme paixão pelo Mineiro. É o meu clube de coração, sem dúvida nenhuma”.
Entretanto, a jovem recordou que “o meu grande sonho era chegar onde cheguei, já lá estou e espero continuar, porque não é nada fácil, mas a parte mais difícil, que era ser chamada, já a ultrapassei, agora, o resto é trabalhar muito e bem para me manter. Depois, se surgir um grande clube será importante, ficarei bastante surpreendida porque estou a viver algo que, embora desejasse, não esperava que acontecesse tão cedo”.
Para já, “espero vestir a camisola nacional, será a minha primeira internacionalização. Se acontecer será uma grande emoção porque desde pequena que sempre disse que o meu objetivo seria chegar à seleção nacional, representar o meu país na modalidade que pratico com enorme paixão. Mais tarde, se conseguir chegar à seleção principal, será um grande orgulho representar Portugal”.
Por ora, e porque o futebol tem sempre um prazo de validade curto, Ana Beatriz estuda no décimo ano da Escola Dr. Manuel Brito Camacho, na vila mineira, arquitetando uma futura licenciatura em desporto. Até lá, torceremos para que a sua internacionalização seja uma realidade.
Fonte: http://da.ambaal.pt

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