“Não direi que sou um símbolo da terra. Não sinto isso, nem vou por aí. Jogo por gosto, tento ajudar o clube que sempre me apoiou, retribuo o carinho dos adeptos e colaboro com os treinadores e dirigentes. Senti sempre o apoio de todos os técnicos que por aqui têm passado. Sempre trabalhei muito, demonstrando que gosto e que quero ajudar a equipa do Moura Atlético Clube”.
Texto e foto Firmino Paixão
Uma afirmação de António Miguel Cuco Borralho, Tó Miguel, um diminutivo pelo qual é conhecido no futebol e carinhosamente tratado pelos adeptos mourenses. Tó Miguel é o único jogador “da terra” titular indiscutível no plantel do clube que, há várias épocas, disputa o Campeonato de Portugal.
“Sem dúvida, é um grande orgulho. Mas tenho pena que não sejamos mais e que tenha que se ir buscar jogadores de fora com outra qualidade. Nós temo-los cá, mas muitos deles não querem seguir esta carreira. Há miúdos com muita qualidade, mas que não têm querido continuar. Eu gosto daquilo que faço, sinto algumas dificuldades porque trabalho por turnos, algumas vezes à noite, é muito complicado, mas sacrifico-me imenso”, revelou o atleta.
Tó Miguel está consciente de que tem trabalhado muito para merecer o lugar: “Sem dúvida, sem puxar a brasa à minha sardinha, admito que tive que deixar algumas coisas para trás. Isto já vai pesando, mas tento aproveitar bem o meu tempo para descansar para que ao fim de semana consiga dar o melhor contributo à equipa”. No entanto, recusa a condição de exemplo para os atletas mais jovens: “Só espero que eles vejam aquilo que eu tenho feito. O que tenho demonstrado e o que tenho dado a este clube. Vejam-me como exemplo, mas muito mais por essa vertente”.
Nascido em Safara, há 39 anos, é atualmente o jogador mais velho do plantel, mas revela, invariavelmente, uma grande disponibilidade física para jogar a este nível, justificando: “Se quer que lhe diga, às vezes, eu próprio fico surpreendido, não sei se é o facto de fazer aquilo que gosto, de gostar de jogar e de correr, se o facto de querer ajudar e de me sentir útil ao coletivo. Por vezes consigo ir buscar recursos onde menos penso e as coisas dão certo. Surge sempre uma força extra, mas sinto-me bem, a idade, na verdade, já ajuda pouco, temos dias bons, outros maus, mas, com um bom espírito de entreajuda, conseguimos sempre chegar mais além”. O atleta sabe, também, que “a ternura dos quarenta não tem conta nem medida”, por isso, garante: “Enquanto me mexer bem e sentir esta enorme vontade, enquanto puder conciliar a minha vida profissional e familiar com o futebol, vou fazê-lo. Mas nunca me deixarei arrastar. Quando sentir que já dei o que tinha para dar ao futebol, pelo menos a este nível, então aí as coisas acabarão”. Em Moura, ou noutro clube, o final de carreira não andará longe: “Se tivesse que acabar aqui porque a equipa estava num patamar em que eu já não tinha condições para dar o meu contributo, seria o ideal mas, em todo o caso, a minha vontade é, realmente, terminar a carreira no Moura Atlético Clube”. Mas o desejo é, também, que o emblema que usa ao peito fique “O mais acima possível”. “Temos uma equipa recheada de jogadores de grande valor, com muita qualidade, gostava de deixar a equipa mais em cima”, diz.
A sua carreira começou nos juniores da terra natal, representou o Moura, o Amarelejense, o Piense e o Barrancos antes de regressar, definitivamente, a Moura. O futebol da “margem esquerda” tem sido a sua praia: “Comecei a trabalhar muito cedo, tinha 16 anos. Os meus pais também foram sempre pessoas de trabalho, deram-me uma boa educação, não me deram bens materiais, mas deram-me outras coisas que eu lhes agradeço muito e eu fiquei por aqui, conciliando o trabalhinho com aquilo que sempre gostei de fazer, que é jogar futebol”.
Tó Miguel tem conhecido imensos treinadores, mas na hora de identificar um que o tenha marcado, sublinha a boa interação que sempre teve com todos e o respeito pelas suas decisões, recordando apenas o “mister Fernando Piçarra, com quem trabalhei muitos anos, um técnico mourense, que me ajudou bastante”. Mas lembra: “Sempre trabalhei muito para conseguir o meu lugar”.
Uma carreira cheia de futebol, de bons momentos e de algumas tristezas. Participou em jogos contra grandes equipas e já nesta época ajudou a afastar o Gil Vicente da Taça de Portugal. Porém, ficou de fora do jogo seguinte, com o Portimonense: “Foi uma dupla tristeza, nesse dia tinha perdido o meu pai, perdi uma pessoa muito boa, um homem com H grande, uma pessoa que era tudo para mim. Por outro lado, não ter conseguido ajudar a equipa a defrontar o Portimonense foi também algo que me entristeceu, se tivéssemos ganho, talvez fôssemos defrontar o Porto. Só a sensação de entrar naquele estádio seria qualquer coisa única, inimaginável. Mas a vida prega-nos estas partidas e nós temos que as aceitar”, conclui.
Fonte: http://da.ambaal.pt
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