sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Bola de trapos, edição de 29 de dezembro no Diário do Alentejo Tradições

José Saúde
Num exercício feito à dócil substância desportiva, eis-nos perante uma expedita veracidade onde as tradições de outrora atestam originalidades de lugares cujas gentes defendiam acerrimamente os tradicionais costumes caseiros. Levados pelas mágicas ondas que nos transportam para o persuasivo mapa de memórias, desbravamos os escarpados silêncios e partimos para conteúdos que dantes conhecemos. Debruço-me, neste contexto, sobre as tradições que fizeram do prodígio desportivo um feito deslumbrante. Acreditava-se implicitamente no alforge de atletas da terra. Hoje, reconhecesse que as tradições de ontem já não são o que eram. E se é verdade que as novas subsistências não se moldaram aos espólios legados, assiste-se, por outro lado, a maquiavélicas presunções que rompem inequivocamente com decisões persecutórias que esbarram num pressuposto vazio. Somos uma das muitas criaturas que identificaram as virtualidades do passado. Recentemente, numa conversa com um amigo de longa data sobre o cosmos futebolístico da região de Beja, lá veio à baila a problemática linha orientadora sobre a forma como se desvirtuam exatidões do antigamente. Sejamos imparciais e coloquemos sobre o tampo da mesa de jogo um fortuito joker que esbarra, por vezes, na complexidade das apreensões. Recordo a distinta capacidade de dirigentes antigos que faziam finca pé para manter ativa a sua afirmação no palco diretivo onde o objetivo prioritário passava por dar continuidade às usadas tradições. Os plantéis, preparados com severidade, mantinham-se fiéis a princípios que honradamente gizavam objetivos prioritários. Apostava-se na prata-da-casa. Na secretaria, administrada por homens idóneos, traçavam-se as linhas mestras para a construção de grupos que visavam, com decência, a chamada à equipa principal de jovens valores conhecidos em território local, ou naqueles que no seu percurso de formação se afirmavam como promissores valores. Na tesouraria ponderava-se o deve e o haver. Não se entrava em insólitas euforias. A honra tinha um preço e chamava-se dedicação. Ninguém cobrava um avo. O lanche era uma granada com carne de porco preto engordado numa pocilga da povoação, ou uma feijoada regada com o famoso líquido dos deuses fermentado em talhas de barro. Os orçamentos enquadravam-se com os proveitos calculados. Nada falhava. Os jogadores, peças fundamentais para que toda a componente desportiva funcionasse, eram compensados com pequenos dádivas e tudo caminhava sobre rodas. Presentemente, perdeu-se a mística e os clubes, alguns, são recheados com contingentes de "armadas forasteiras". Houve um tempo em que o dinheiro era esbanjado desalmadamente. Presentemente o risco tem um custo. Poucos arriscam. Concluo invocando: se o sonho comanda a vida deixem-me então sonhar, presumindo, ainda que futilmente, um regresso às velhas tradições.
Fonte: Facebook de Jose saude.
 

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