sexta-feira, 9 de março de 2018

Bolas de trapos, edição no Diário do Alentejo de 9 de março de 2018 Bola de trapos

José Saúde
Apolinário
“Nesses tempos jogávamos descalços… Não havia as condições que hoje se deparam aos jovens… As primeiras botas de futebol que calcei tinha 18 anos”, eis-nos perante uma brevíssima resenha vivida por um antigo jogador que despontou para o prodígio futebolístico na aprazível localidade de Sines. José Rodrigues dos Santos Apolinário nasceu a 8 de fevereiro de 1932 na urbe sineense. Num olhar longínquo sob a imensidão de um encantado Atlântico que enquanto criança lhe alvitrou fidalgos sonhos e onde o tumultuar crispado das ondas arrebatou eloquentes histórias de audazes navegadores, Apolinário iniciou-se no futebol no Sport Lisboa e Sines, filial do Benfica, agremiação que mais tarde se uniu com o Clube de Futebol “Os Sineenses”, filial do “Belenenses”, sendo que dessa união resultou a fundação do Vasco da Gama Atlético Clube no ano de 1966. Numa observação feita aos conteúdos desportivos de uma terra que convive de paredes-meias com as águas azuladas de um Oceano gigantesco, Apolinário recorda uma afável certeza que lhe vai na alma: “Sines foi sempre um grande viveiro de jogadores. Nesses tempos havia perto de 20 sineenses espalhados pelo futebol nacional, uns na primeira, outros na segunda divisão. João Martins, que foi internacional pelo Sporting, os Paixões, o meu irmão, Amaral, Larguinho, Zé Machado que jogava no Portimonense e muitos outros”, são exemplos explícitos dessa inquestionável realidade. A elegância como Apolinário tratava a bola, bem como a forma tácita como se posicionava em campo, derrapou para um rol de comentários que deixavam antever um futuro promissor. Um belo dia o professor Ilídio, natural de Ferreira do Alentejo, habitual frequentador de Sines e que lecionava na Escola Agrícola de Évora, indicou-o ao Lusitano. Na época de 1952/1953 ei-lo a assinar contrato com o grémio eborense. O treinador era o Piza e no plantel proliferavam excelentes craques. Vital, Patalino, Martelo, Soeiro, Madeira, Paulo, Zé Pedro, Paixão e os argentinos Vale, Pepe, Duarte e Di Paola, eram alguns dos deuses da bola que defendiam as cores lusitanistas. Porém, nem sempre a sorte vinga para um jovem atleta que está numa fase de afirmação. Apolinário, no período de férias de Verão e numa praia que muito bem conhecia, a de Sines, prontificou-se para uma peladinha na areia mas contraiu uma grave rotura muscular. A lesão mexeu com a sua condição de atleta, seguindo-se a rescisão do contrato e o seu ingresso no Desportivo de Beja na temporada de 1953/1954. Com uma excelente visualização dos lances, a que acresce o fator frieza no momento em decidir a jogada, aperfeiçoavam estilos natos que abalizavam os valores do seu ADN. Guarda com ele uma tristeza que marcou a sua carreira na coletividade bejense: “Num jogo disputado no Estádio do Bonfim, em Setúbal, disputámos uma final para apurar o campeão nacional da terceira divisão frente aos Leões de Santarém e perdemos por 7-2”. Com 30 anos, e já afastado então do futebol, o polivalente jogador regressou ao Desportivo e ajudou o emblema para mais uma subida à segunda divisão nacional. Com um aspeto físico invejável, não obstante a sua condição de octogenário, é comum ver o Apolinário a passear-se pelas ruas da cidade de Beja.
Fonte: Facebook de JOse saude

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