sexta-feira, 13 de abril de 2018

Bolas de trapos, edição no Diário do Alentejo de 13 de abril de 2018

José Saúde
Até sempre, Xico Pratas!
Morreu o Xico Pratas, um dos ícones do jornalismo desportivo alentejano, mormente no “Diário do Alentejo” (“DA”) onde trabalhou ao longo de vários anos. Com ele dissequei esplêndidas recordações que outrora marcaram o panorama existencial do futebol em Beja. A sua imagem corporal apontava para uma vida onde o fim se visualizava num horizonte já bastante delicado. O Xico nasceu na velha Pax Júlia a 16 de agosto no longínquo ano de 1928. Numa das minhas últimas visitas à sua residência o seu estado de saúde deixava antever inquietações num corpo deliberadamente débil e onde se ocultavam 89 primaveras. O tom de voz acusava irremediáveis ausências de dicção. Teimava coordenar memórias de inigualáveis acontecimentos desportivos que lhe foram dantes literalmente triviais. Recordava os gloriosos tempos do Desportivo de Beja, clube do qual era o sócio n.º 4, falou de momentos áureos do emblema do seu coração e de excelentes equipas que protagonizaram épocas inolvidáveis. Mencionou nomes de magníficos craques que tiveram como berço a urbe bejense e enalteceu jovens que dantes suscitaram interesses de clubes de grande dimensão nacional. Articulámos nomes de garotos oriundos do Desportivo e Despertar, que transitaram para o Benfica, Sporting, Belenenses, Vitória de Guimarães e de Setúbal, entre outros, e concluímos que essa bênção é agora temática doutras eras. Viajámos por estreitas vielas e olhámos infalivelmente uma componente que analisada à lupa nos deixava atónitos e sobretudo desolados: a falta de infraestruturas próprias do histórico Desportivo. Mirámos a certeza e mergulhámos na atual veracidade. Avocámos que o heráldico símbolo do passado é agora quase um ilustre desconhecido. A pesada herança legada aos vindouros por senhores que casualmente geriram a agremiação é assustadora. O Desportivo é agora um clube com uma mão cheia de nada. Na sede, sita na Rua do Sembrano, resta a contemplação dalguns troféus conquistados. Por outro lado, lobrigámos a verdade infraestrutural levada a cabo por outras coletividades da cidade, Despertar, Zona Azul e Centro de Cultura e Desporto do Bairro Nossa Senhora da Conceição, que construíram, atempadamente, um património que lhes permite respirar de alívio. Do passado fascinante do Desportivo resta a elementar melancolia e pouco mais sobra. Falámos do trabalho desenvolvido pelos atuais responsáveis que a muito custo lá vão fabricando omeletes sem ovos. O Xico foi sempre um homem do desporto e a patinagem uma modalidade que muito o cativou. No “DA”, com a arte da sua maleável pena, subscreveu crónicas ilustres. Mas, tudo na vida tem um princípio e um fim. O Xico, não obstante o seu desejo em viver, foi impotente para regatear mais uns anitos de vida. Morreu no pretérito 9 de abril. Fica a eterna amizade construída no percurso da nossa existência e a justa homenagem a um homem que trabalhava, com altivez, o malabarismo da narrativa . Até sempre, Xico Pratas!
Fonte: Facebook de Jose saude

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