José Saúde
Zezinho
Generoso na sua entrega ao jogo,
atleta que no interior das quatro linhas encarnava o dito popular “antes
quebrar que torcer”, sendo a lealdade uma das suas portentosas armas,
Zezinho rubricou páginas fulgentes no futebol e o seu “fair play” foi
francamente inexcedível. José Martins Eugénio nasceu em Beja a 4 de
dezembro de 1939 e pertenceu a uma geração onde o futebol se assumia
como a modalidade rei. Nesses tempos integrou o grupo que a moçada
apelidou como os rapazes do Chico Pereira, um homem que possuía uma
taberna na rua Poça da Lã, sendo que seu pai, ao início dessa mesma
artéria, tinha uma drogaria situada nas proximidades do Café Vitória,
vulgo Café do Carocinho, local frequentado por homens que
clandestinamente lutavam contra o regime ditatorial imposto. Zezinho
lembra os seus princípios no mundo futebolístico. “A malta para jogar à
bola formava grupos de acordo com as zonas onde morava. Eu pertencia ao
grupo do Chico Pereira. O nosso campo era atrás do jardim público, pois
nessa altura só havia casas até ao Café Lumiar”. Num outro desabafo
ei-lo, sinteticamente, a comentar como era o antigo estádio de Beja:
“Nesse tempo o estádio estava protegido por latas e quem lá jogava era o
União, o Luso, o Pax Júlia e o Despertar”. Cruzando géneses da
história, existe uma inquestionável realidade que nos remete para finais
da década de 1940. “Comecei a jogar no Despertar porque o Desportivo
não tinha camadas jovens. O presidente era o Francisco Assunção e
disse-lhe que só jogaria com a carta na mão. Mas ele não fez caso da
conversa. No dia em que me montei no autocarro para partirmos para
Olhão, transmiti-lhe que só ia se me fosse passada a carta de
desobrigação. Perante a minha exigência mandou o condutor esperar, saiu e
quando regressou já vinha com a carta assinada por três diretores.
Seguimos viagem e foi contra o Olhanense que fiz a minha estreia pelo
Despertar, onde estive três épocas, duas como júnior e uma como sénior.
Como sénior fui campeão e disputámos o campeonato da 2ª Divisão
Nacional, Zona Sul, com o Silves, União de Montemor e o Portalegrense”.
Após cumprir o serviço militar obrigatório, ficando no seu cadastro uma
comissão em Angola, regressou a Beja e em 1964 deu-se a transferência
para o Desportivo. “Foi o Luís do Rosário que me convidou e me levou à
sede onde já lá estava o Palma Inácio, o Amílcar Seis Dedos e o
treinador Valentim Alexandre. A minha estreia foi no campo do Farense.
Ganhámos por 2-0”. Num recurso ao seu ego desportivo, Zezinho fala de
alguns craques com os quais partilhou o balneário: “Osvaldinho,
Fernandes, Pena, Palma, Suarez, irmãos Madeira, Mário Nunes, Quinito,
Alves, de entre tantos outros”. Mais tarde regressou ao Desportivo como
diretor. Curvado pelo peso dos seus 78 anos, cruzo-me esporadicamente
com ele na urbe bejense e revejo a sua pujança física nos velhos tempos
da bola.
Fonte: Facebook de Jose saude.
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