“No Centro Hípico da Horta de Todos temos vários objetivos, tanto com a hipoterapia, como com a atrelagem. Imaginemos uma pessoa numa cadeira de rodas, que tem
sempre uma perspetiva do mundo visto de baixo para cima e que, de repente, ao subir,
seja para a atrelagem, seja diretamente para cima de um
cavalo, ganha uma perspetiva completamente diferente.
Uma sensação de um poder que raramente possui, que é olhar os outros e o mundo de cima para baixo”.
Uma imagem muito expressiva, emotiva talvez, assente numa experiência
de mais de duas décadas de trabalho, diremos de missão, de um professor,
um técnico, que diariamente, pelo desporto, e através do desporto e de
outras terapias, ajuda, motiva, aumenta e valoriza competências, gera
inclusão e acrescenta felicidade a pessoas portadoras de deficiência. Um
homem que, com uma incomensurável simplicidade, confessa: “Acho que a
vida nos conduz aos sítios onde temos de estar. É mesmo isso, calha
assim, mas ao mesmo tempo sinto muito prazer em estar aqui com este
objetivo, esta missão”.
João Garcia, de 43 anos, nascido e criado em Beja, teve um percurso académico transversal às instituições de ensino público da sua cidade, antigo liceu e antiga escola secundária, até se licenciar em Educação Física na Escola Superior de Educação de Beja. Jogou futebol nos escalões de formação do Despertar Sporting Clube. Mais tarde especializou-se em natação, modalidade que lecionou naquele clube e nas piscinas de Vidigueira. O mestrado em Ensino Especial está pendente da conclusão do trabalho de final de curso.
Conta, com uma certa graça, que o primeiro contacto com o Centro de Paralisia Cerebral de Beja (CPCB), instituição onde trabalha há 20 anos, foi na qualidade de “cliente”: “Jogava futebol nos juniores do Despertar, tive uma lesão, fui operado e vim aqui para recuperar, às tantas estava como voluntário e, entretanto, com o passar dos anos, convidaram-me para aqui trabalhar”. Um trabalho com especial complexidade? Não! João Garcia garante que “é um trabalho muito menos complexo do que realmente aparenta”. E justifica: “Somos todos complexos e eles são iguais a nós. Cada indivíduo é um indivíduo, nós temos é que adaptar as coisas consoante as necessidades e as capacidades dessas pessoas, e isso até torna o trabalho apetecível a quem o executa”.
O Centro Hípico da Horta de Todos, a cerca de um quilómetro da sede do CPCB, é uma espécie de seu quartel-general, mas empenha-se noutras áreas, noutras competências, através de diferentes atividades desportivas, afinal, “o desporto é para todos” e todos somos capazes. A equipa de futsal adaptado do CPCB, diz João Garcia, “é um espetáculo! É 100 por cento verdadeira no desportivismo. Nós até festejamos os golos que sofremos”. O professor sublinha também: “Na hipoterapia e na atrelagem temos vários objetivos, inicialmente utilizamos a atrelagem, antes do contacto direto com o cavalo, porque é um contacto mais distante e temos algumas pessoas que têm um certo receio do toque aos animais”. E pormenoriza os benefícios desta terapia: “O movimento tridimensional do cavalo dá um estímulo ao cérebro como se a pessoa estivesse a andar. Trabalham-se muito bem os equilíbrios, tanto estáticos como dinâmicos, há uma série de situações que se conseguem trabalhar e que se atingem com a hipoterapia e com a equitação”.
O CPCB tem, intramuros, um antigo campeão de boccia, Luís Belchior, um praticante ímpar deste desporto: “O Luís foi campeão europeu, campeão paraolímpico, ganhou sete ou oito vezes o campeonato nacional mas, infelizmente, devido aos custos que a competição nos trazia, tivemos que deixar de competir. Mas esperamos regressar em breve, através de um novo projeto que se chama CPC/IP-Beja”.
Um projeto abrangente, pensado através de parcerias com o Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), Câmara Municipal de Beja e o movimento associativo local. Uma ideia assente na necessidade de “trabalhar a inclusão através do desporto” e porque “o CPCB sente a necessidade de competir novamente ao mais alto nível”, assumiu João Garcia, revelando: “O IPBeja abraçou o projeto, estamos nesta altura, digamos, a concluir esse abraço, e falo na verdadeira inclusão porque, por exemplo, tenho um nadador que está a fazer uns tempos espetaculares, temos atletas na atrelagem com grande capacidade para a praticar ao mais alto nível e o objetivo será fazermos parcerias com os clubes locais, onde os atletas treinem com o apoio de uma equipa do CPCB e de estagiários do IPBeja”.
Todos os dias a felicidade, a motivação, a inclusão, brilham no léxico de João Garcia: “Acima de tudo a inclusão, porque esse é um dos nossos objetivos finais”. Mas não é trabalho de um homem só: “Temos sempre uma equipa multidisciplinar, desde médicos, psicólogos, terapeutas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala e professores”. Ou não fosse o lema do CPC Beja, “Unidos somos esperança”.
Texto e Foto Firmino Paixão
Fonte: Facebook de Firmino Paixao e do Diario do Alentejo
João Garcia, de 43 anos, nascido e criado em Beja, teve um percurso académico transversal às instituições de ensino público da sua cidade, antigo liceu e antiga escola secundária, até se licenciar em Educação Física na Escola Superior de Educação de Beja. Jogou futebol nos escalões de formação do Despertar Sporting Clube. Mais tarde especializou-se em natação, modalidade que lecionou naquele clube e nas piscinas de Vidigueira. O mestrado em Ensino Especial está pendente da conclusão do trabalho de final de curso.
Conta, com uma certa graça, que o primeiro contacto com o Centro de Paralisia Cerebral de Beja (CPCB), instituição onde trabalha há 20 anos, foi na qualidade de “cliente”: “Jogava futebol nos juniores do Despertar, tive uma lesão, fui operado e vim aqui para recuperar, às tantas estava como voluntário e, entretanto, com o passar dos anos, convidaram-me para aqui trabalhar”. Um trabalho com especial complexidade? Não! João Garcia garante que “é um trabalho muito menos complexo do que realmente aparenta”. E justifica: “Somos todos complexos e eles são iguais a nós. Cada indivíduo é um indivíduo, nós temos é que adaptar as coisas consoante as necessidades e as capacidades dessas pessoas, e isso até torna o trabalho apetecível a quem o executa”.
O Centro Hípico da Horta de Todos, a cerca de um quilómetro da sede do CPCB, é uma espécie de seu quartel-general, mas empenha-se noutras áreas, noutras competências, através de diferentes atividades desportivas, afinal, “o desporto é para todos” e todos somos capazes. A equipa de futsal adaptado do CPCB, diz João Garcia, “é um espetáculo! É 100 por cento verdadeira no desportivismo. Nós até festejamos os golos que sofremos”. O professor sublinha também: “Na hipoterapia e na atrelagem temos vários objetivos, inicialmente utilizamos a atrelagem, antes do contacto direto com o cavalo, porque é um contacto mais distante e temos algumas pessoas que têm um certo receio do toque aos animais”. E pormenoriza os benefícios desta terapia: “O movimento tridimensional do cavalo dá um estímulo ao cérebro como se a pessoa estivesse a andar. Trabalham-se muito bem os equilíbrios, tanto estáticos como dinâmicos, há uma série de situações que se conseguem trabalhar e que se atingem com a hipoterapia e com a equitação”.
O CPCB tem, intramuros, um antigo campeão de boccia, Luís Belchior, um praticante ímpar deste desporto: “O Luís foi campeão europeu, campeão paraolímpico, ganhou sete ou oito vezes o campeonato nacional mas, infelizmente, devido aos custos que a competição nos trazia, tivemos que deixar de competir. Mas esperamos regressar em breve, através de um novo projeto que se chama CPC/IP-Beja”.
Um projeto abrangente, pensado através de parcerias com o Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), Câmara Municipal de Beja e o movimento associativo local. Uma ideia assente na necessidade de “trabalhar a inclusão através do desporto” e porque “o CPCB sente a necessidade de competir novamente ao mais alto nível”, assumiu João Garcia, revelando: “O IPBeja abraçou o projeto, estamos nesta altura, digamos, a concluir esse abraço, e falo na verdadeira inclusão porque, por exemplo, tenho um nadador que está a fazer uns tempos espetaculares, temos atletas na atrelagem com grande capacidade para a praticar ao mais alto nível e o objetivo será fazermos parcerias com os clubes locais, onde os atletas treinem com o apoio de uma equipa do CPCB e de estagiários do IPBeja”.
Todos os dias a felicidade, a motivação, a inclusão, brilham no léxico de João Garcia: “Acima de tudo a inclusão, porque esse é um dos nossos objetivos finais”. Mas não é trabalho de um homem só: “Temos sempre uma equipa multidisciplinar, desde médicos, psicólogos, terapeutas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala e professores”. Ou não fosse o lema do CPC Beja, “Unidos somos esperança”.
Texto e Foto Firmino Paixão
Fonte: Facebook de Firmino Paixao e do Diario do Alentejo
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