sexta-feira, 5 de abril de 2019

Bola de trapos, edição de 5 de abril de 2019 no Diário do Alentejo

José Saúde
Mário Alves
O universo da arbitragem no futebol traçou ao longo da sua existência caminhos por onde transitaram excelentes árbitros, sendo Beja uma referência quando numa incursão ao passado damos conta que Mário Alves, Rosa Santos e Veiga Trigo atingiram o patamar supremo como internacionais num meio onde prosperavam juízes de campo oriundos de associações com dimensões antagónicas àquelas a que o trio pertencia. Mário Gomes Alves nasceu em Beja a 18 de fevereiro de 1930 e foi árbitro pela influência de Melo Garrido e Armando Nascimento que lhe propuseram frequentar um curso. Tinha 25 anos, mas o seu olho de lince para analisar e julgar o desenrolar de uma jogada ditou que o futuro lhe seria literalmente jubiloso. A ascensão foi rápida. Dos campeonatos regionais aos nacionais foi um passo. Na época de 1961/1962 subiu à terceira divisão nacional, três anos depois já pertencia ao quadro de arbitragem de primeira e na temporada de 1969/1970 foi promovido a internacional. Numa viagem pela periferia das calendas que a móbil questão já suscitava, Mário Alves recorda as “panelinhas” que nesses tempos ditavam seriação nos bastidores: “Quando subi à primeira divisão os árbitros foram, pela primeira vez, obrigados a prestar provas. Informado que a “panelinha” estava feita para beneficiar alguém, enviei uma carta ao presidente recusando-me marcar presença em Lisboa. Houve movimentações para apurar a verdade, a carta não teve resposta, sendo depois informado que tudo fora cumprido e que nas nove vagas eu estava em 5º lugar”. Seguiu-se uma carreira que terminou aos 45 anos. “Havia a possibilidade que permitia aos árbitros irem até aos 50, mas aos 43 informei a Comissão Central da minha retirada quando atingisse os 45. No dia 13 de fevereiro de 1975 fiz o meu último jogo num Atlético-Sporting. Aliás, o Rafael Rodrigues na semana seguinte ainda me nomeou para um Porto-Guimarães, mas atempadamente avisei que não arbitraria esse jogo”. Mário Alves, como internacional, estreou-se num jogo entre o Leeds e o Norkopin. Raúl Sequeira, Manuel Valente, Viriato Agatão, Joaquim Rosa, Jorge Porta Nova, Acácio Caraça e José Fernandes são alguns dos nomes que o antigo árbitro teve com fiscais de linha. Após 20 anos ao serviço de uma causa onde acolheu radiosos conhecimentos, Mário Alves enveredou pelo cosmos do dirigismo. Foi o sucessor de Armando Nascimento da Arbitragem na AF Beja, mas no dia 19 de janeiro de 1979 jogou a toalha ao chão por não concordar com o futuro traçado o um clã pelo qual sempre lutou. “A arbitragem em Portugal sofreu um duro golpe ao ser integrada na Federação Portuguesa da Futebol e como não concordei retirei-me”. Contudo, o bichinho do apito corria-lhe nas veias e posteriormente foi delegado técnico e instrutor de árbitros na FPF. Hoje, com 89 anos, está no Lar da Cruz Vermelha, em Beja.
Fonte: Facebook de José Saude.

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