sexta-feira, 7 de junho de 2019

Bola de trapos, edição no Diário do Alentejo de 7 de junho de 2019

José Saúde
Pombos correios
A ciência prova que a orientação dos pombos correios se cinge a mistérios que o homem jamais ousou desvendar. O conhecimento do voo é um vazio completo quando o ser humano tenta deslindar as coordenadas aéreas traçados pelos alados. Estudiosos sobre esta ave, uma ave oriunda de uma variedade do pombo das rochas que identifica o seu pleno habitat no mundo selvagem, recaem sobre performances inatas quando se coloca a questão do retorno ao pombal. O pombo correio ao longo do percurso de uma solta depara-se com alguns riscos e as aves de rapina não dão tréguas ao voador. Não fui columbófilo mas vivi de perto a azáfama quotidiana da circunstância. Conheci a labuta como o tratador preparava o “atleta” para a prova seguinte, quer ela fosse de velocidade, meio fundo ou fundo. O detalhe do voo na viuvez, o mostrar o macho à fêmea no momento do encestamento, ou o jogo dos ninhos e dos borrachos, tudo isto me foi permitido observar, não obstante a parte oculta que o columbófilo intimamente escondia. Um outro dado curioso passa pela forma como apurar as potencialidades do volátil pássaro para a componente distância. Cada pombo correio tem as suas características, logo o saber determina o estudo apurado de fatores para a exausta seleção dos pássaros existentes na colónia. No que concerne ao trabalho intenso que a columbofilia carece, subscrevo que os métodos usados antigamente são hoje meras ficções. Para trás ficaram os tempos em que o praticante passava horas a fio a joeirar as sementes, ou limpar a preceito os bebedoiros, tendo em linha de conta a condição física da ave para o próximo concurso. Somos do tempo em que a rapaziada carregava os cestos à mão pelas ruas da cidade, sendo o transporte dos pombos através de carruagens do caminho de ferro e antes procedia-se à colocação de anilhas nas patas das aves que identificavam o pombo na prova. Atraente era algazarra da malta na altura dos disparos dos antiquados relógios e o subsequente recurso às fitas que determinava a hora da chegada de cada concorrente. Recordo, também, o momento da constatação das classificações e, logicamente, das pequenas querelas constatadas que passavam por pormenores que nem sempre eram atendíveis por parte de quem se achava espoliado. Atualmente a columbofilia regesse-se pela modernização, ou seja, as soltas e as chegadas são cronometradas ao ínfimo pormenor. Os registos são computorizados. O columbófilo trabalha, é verdade, mas a sua missão está simplificada e possui outros adornos. Presentemente, a base da alimentação do pombo correio tem outras nuances e envolve-se noutros adornos. Preservo, porém, a convicção que o enigma de orientação do pombo correio permanece como uma autêntica incógnita para o influente cultor de uma modalidade que paulatinamente tem perdido algumas das suas enormes referências do passado.
Fonte, Facebook de Jose saude.
 

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