sexta-feira, 21 de junho de 2019

Paulo Guerra: Embaixador de ética pelo Instituto do Desporto


Texto e Foto Firmino Paixão

Quatro vezes campeão europeu de corta-mato (Alnwick, no Reino Unido, em 1994 e 1995, Velenje, na Eslovénia, em 1999, e Malmo, Suécia, em 2000), medalha de bronze no mundial de corta-mato, em Belfast, Irlanda do Norte, em 1999, Paulo Guerra, nascido em Barrancos há 48 anos, é hoje um dos “embaixadores” do Plano Nacional de Ética no Desporto, do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e técnico do Programa Nacional de Marcha e Corrida.

O atletismo corre-lhe nas veias, tal e qual o sangue que é vital para a vida humana. “Sem dúvida”, confessou Paulo Guerra. “Já lá vão 35 anos que abracei o atletismo, sempre com uma grande paixão e, felizmente, esta pós-carreira também me tem proporcionado uma forte ligação à modalidade, de uma maneira um pouco diferente, como é evidente, mas sempre com uma ligação muito intensa ao atletismo e agora, sim, numa vertente mais de pôr a população de Lisboa e arredores a ganhar hábitos de vida saudável, assentes na corrida”.

Sabendo que são cada vez mais as pessoas que optam pela prática desportiva, Paulo Guerra garante: “É um fenómeno que veio para ficar, não é nada momentâneo, cada vez há mais pessoas optando por esta modalidade que é transversal, não tem idades nem géneros, nem exige grande condição física, qualquer pessoa pode fazer uma caminhada e já está a fazer atividade física”.

Com uma agenda cheia de solicitações para apadrinhar corridas por todo o País, sinal da sua notoriedade, o antigo atleta faz questão de deixar um agradecimento público aos organizadores e recorda: “Os pontos de referência são sempre importantes. Quando me iniciei na atividade desportiva, sempre que estava perto do Carlos Lopes e do Fernando Mamede ganhava uma energia e uma motivação extra”.

Na verdade, quando ainda jovem começou a correr, em nenhum momento imaginou que seria possível chegar ao nível a que chegou. “Claro que não. Mas eu nunca dei um passo maior do que podia dar, nem nunca pensei em sonhos que não eram realizáveis, isso esteve sempre patente no meu comportamento ao longo da vida. Eu tive sempre um sonho, é evidente que o sonho comanda a vida e simboliza aquele objetivo que está no horizonte. Temos uma meta que nos faz levantar todos os dias e trabalharmos para lá chegar, faz com que pensemos – eu tenho de treinar, eu tenho de cumprir o meu plano diário, para conseguir atingir esse objetivo, esse sonho”.
“Será difícil eleger um momento de excelência na minha carreira. Tive dois momentos que foram especiais. Um foi a segunda vez que revalidei o título de campeão da Europa, outro foi a medalha de bronze que ganhei no campeonato do mundo de corta-mato. Acredito que se tivesse de escolher, optaria por esse terceiro lugar no mundial, porque havia muitos anos que um atleta não africano não entrava no pódio. Aconteceu em 1999, esteve para se repetir nos anos seguintes, em que fui quarto e quinto, mas esse terceiro lugar foi o momento mais alto”.

O seu sonho, que assume como contido, foi realizado, afinal, queria lutar com os africanos por um lugar de topo num campeonato do mundo. Conseguiu. Venceu essa batalha. Porque lutou, porque sonhou que o conseguiria. Mas venceu outras batalhas, embora tivesse de renunciar às corridas mais cedo do que teria projetado. “Quando me foi diagnosticado um cancro na pele, tive de abandonar. Para quem corre, a exposição solar é muito grande e eu segui os conselhos médicos, que eram para abandonar a alta competição, podendo fazer a minha manutenção, mas com todos os cuidados que um atleta de alta competição não tem: o uso de boné, óculos, camisola de manga comprida, protetor fator 50, coisas que não são compatíveis quando a performance de um atleta, às vezes, se mede ao segundo ou ao centésimo de segundo, mas eu estava com 38 anos e estaria na reta final da carreira. Mais um ano, se calhar, abandonaria, por isso, digo que foi um abandono ligeiramente prematuro, mas na altura certa”.

Paulo Guerra lamenta que o Alentejo seja a região do País em que a população faz menos atividade física: “As pessoas criam condicionantes, ou porque está muito calor, ou porque o inverno é rigoroso, mas são desculpas, a atividade física não se faz unicamente ao ar livre, temos um longo caminho a percorrer para eliminar esse sedentarismo”.

O barranquenho nunca se arrependeu de ter abraçado o atletismo como profissão, porque considera a modalidade fascinante, e embora exija muito sacrífico, ele é compensado quando se corta a meta nos lugares cimeiros.

Mas só há uns tempos a esta parte, 11 anos após a retirada, Paulo Guerra sente o reconhecimento por tudo quanto deu ao País: “Estive esquecido durante quatro ou cinco anos. Eu e outros ex-atletas que passaram pelo mesmo. Alguns deles tiveram até de sair do País porque ninguém os reconhecia. Estive cinco anos a fazer coisas noutros países porque, aqui, as portas fecharam-se, nomeadamente, no Brasil e na Polónia. Em Portugal não havia portas abertas”.

Agora sim, sente essa gratidão: “Felizmente foi criado o Programa Nacional de Marcha e Corrida e eu voltei para desenvolver esse programa. Depois, também o reconhecimento do IPDJ, porque sou um dos ‘embaixadores’ do Plano Nacional de Ética no Desporto. Abracei esse projeto há cerca de dois anos e sou, talvez, o embaixador mais ativo, o que mais anda pelo País a fazer essa sensibilização”.
Nos intervalos Barrancos é o seu porto de abrigo. “As recordações são mais do que muitas e eu continuarei sempre muito ligado à minha terra”.
Fonte:  https://diariodoalentejo.pt

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