28 de novembro 2019 - 16:15
“Serei
um exemplo, em termos de visibilidade, só mesmo nas provas, porque, em
termos de treino, como vou correr às seis e meia da manhã, encontro
pouquíssima gente na estrada. Nessa altura, portanto, não sou muito um
exemplo, a não ser que as pessoas comecem também a correr a essa hora.
Às vezes, nas consultas, quando as pessoas dizem que não têm tempo,
sugiro: ‘Olhe, às seis e meia da manhã, pode encontrar-me na ciclovia, a
correr’. A questão do tempo é sempre relativa”.
Texto e foto Firmino Paixão
Coordenador, há sete anos e meio, da Unidade de Saúde Familiar Alfa Beja, órgão da estrutura da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, que tem por missão a promoção da saúde e a prevenção da doença, o médico Luís Coentro tem o hábito de cuidar de si física e mentalmente, através de uma programada e recorrente atividade física.
Nasceu em Lisboa, em 1974, mas está há 20 anos na cidade de Beja. “Comecei aqui o meu internato e fiz a especialidade em Serpa. Desde 2006 que trabalho em Beja”. O ‘refúgio’ no Alentejo foi uma escolha própria: “A minha opção era, basicamente, sair de Lisboa. Acabei por escolher o Baixo Alentejo, por uma questão, na altura, de facilidade de alojamento e de condições que o hospital nos oferecia. As outras alternativas seriam o Alentejo Central ou, eventualmente, os Açores, mas eu o que queria, essencialmente, era fugir de Lisboa”.
Médico por vocação, a área da Medicina Geral e Familiar também foi escolha sua, apesar das diversas especializações necessárias a um bom desempenho na área dos Cuidados de Saúde Primários. “Nós vemos, basicamente, todo o tipo de doentes, desde a infância até ao idoso, passando pelos cuidados de saúde maternos, planeamento familiar e doenças crónicas”.
Sente-se bem na região, tem sido alvo da tradicional hospitalidade alentejana, mas também conhece o diagnóstico que se faz da saúde nesta região e as carências que por cá existem, nomeadamente, na área das especialidades. Por isso, reconhece: “Toda a região do Baixo Alentejo carece, desde há muito tempo, de várias especialidades, sendo que a situação tem-se agravado nos últimos tempos devido ao envelhecimento de uma geração de médicos que estão à beira da reforma, e isso tem complicado a situação atual. É uma questão que há de ter alguma solução a médio prazo, quando entrar toda uma nova geração de médicos que venha substituir estes. Até lá, não há soluções fáceis”.
Mas viremos a página, para a forma com o médico Luís Coentro prescreve, a si próprio, o receituário para os hábitos de vida saudável. Ele que nunca praticou desporto. “Nenhum. Nada, mesmo. Sou de Alverca do Ribatejo e as condições que existiam eram, apenas, para a prática de futebol, que eu não gosto, e pouco mais. Também, por razões pessoais, porque sou preguiçoso por natureza, portanto, nunca pratiquei qualquer tipo de desporto para além daquele que fazíamos na escola”.
E agora? O que é que o faz correr, doutor? “A saúde mental. É uma forma de nós, às vezes, cuidarmos de nós próprios. Comecei quando vim para o Alentejo. Inicialmente fazia caminhadas, porque a pressão do trabalho também é alguma e, se a gente não tomar conta de nós, teremos, depois, o colega da Psiquiatria a tomar conta de nós”.
Tem uma presença muito discreta nas várias corridas em que participa, mas não corre atrás de prémios, nem de notoriedade. “Corro para cuidar da forma física e da saúde mental, como disse. Comecei esta prática com alguma irregularidade e, como também nunca pratiquei desporto na adolescência, tenho, naturalmente, rendimentos relativamente baixos, comparados com outras pessoas. Normalmente, corro às seis e meia da manhã, antes de vir para o trabalho”.
Saúde física e saúde mental. Mas, afinal, qual é a relação? “São duas áreas perfeitamente ancoradas, muito mais do que a gente pensa, porque muito mais do que fazer bem à saúde física faz, antes de mais, à saúde mental”.
A sua participação em provas é tida como um exemplo de boas práticas. Já o treino madrugador nem tanto, ainda assim, já tem sentido algum retorno. Prefere provas com distâncias entre os 10 e os 15 quilómetros em estrada, pela bondade do piso.
Luís Coentro aconselha: “Quem faz desporto de competição deve, claramente, fazer uma avaliação prévia, ou periódica, das condições de saúde, especialmente, em termos cardiorrespiratórios”. Já para quem pratica de forma informal ou faz uma simples caminhada não é exigível: “A simples caminhada é sempre melhor do que estar parado. Sabemos qua a atividade física para pessoas que não têm problemas de saúde é, à partida, mais saudável do que ficar parado, à espera que as coisas aconteçam”.
Cuidados alimentares? É óbvio, deixa claro até que “a alimentação deve ser cuidada para qualquer pessoa”. “Confesso que não sou a pessoa com maiores cuidados, sei o que devo fazer, vou tendo alguns cuidados e evitando alguns excessos mas, de vez em quando, também temos o nosso dia”.
Recordando que sempre houve recomendações médicas informais para a prática desportiva, Luís Coentro assinala: “Agora surgiu uma estrutura mais organizada e com recomendações formais ao nível da Direção-Geral da Saúde para a prática do exercício físico. Precisamos de mais coisas dessas. Precisamos de aprofundar isso, mas também acho que seria necessária formação dos profissionais de saúde nessa área. Temos formação em áreas como a diabetes, a hipertensão, doença pulmonar obstrutiva crónica mas, em termos de promoção de estilos de vida saudável, acho que falta alguma formação para os próprios profissionais”.
Então, até à próxima corrida…
Fonte: https://diariodoalentejo.pt
Texto e foto Firmino Paixão
Coordenador, há sete anos e meio, da Unidade de Saúde Familiar Alfa Beja, órgão da estrutura da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, que tem por missão a promoção da saúde e a prevenção da doença, o médico Luís Coentro tem o hábito de cuidar de si física e mentalmente, através de uma programada e recorrente atividade física.
Nasceu em Lisboa, em 1974, mas está há 20 anos na cidade de Beja. “Comecei aqui o meu internato e fiz a especialidade em Serpa. Desde 2006 que trabalho em Beja”. O ‘refúgio’ no Alentejo foi uma escolha própria: “A minha opção era, basicamente, sair de Lisboa. Acabei por escolher o Baixo Alentejo, por uma questão, na altura, de facilidade de alojamento e de condições que o hospital nos oferecia. As outras alternativas seriam o Alentejo Central ou, eventualmente, os Açores, mas eu o que queria, essencialmente, era fugir de Lisboa”.
Médico por vocação, a área da Medicina Geral e Familiar também foi escolha sua, apesar das diversas especializações necessárias a um bom desempenho na área dos Cuidados de Saúde Primários. “Nós vemos, basicamente, todo o tipo de doentes, desde a infância até ao idoso, passando pelos cuidados de saúde maternos, planeamento familiar e doenças crónicas”.
Sente-se bem na região, tem sido alvo da tradicional hospitalidade alentejana, mas também conhece o diagnóstico que se faz da saúde nesta região e as carências que por cá existem, nomeadamente, na área das especialidades. Por isso, reconhece: “Toda a região do Baixo Alentejo carece, desde há muito tempo, de várias especialidades, sendo que a situação tem-se agravado nos últimos tempos devido ao envelhecimento de uma geração de médicos que estão à beira da reforma, e isso tem complicado a situação atual. É uma questão que há de ter alguma solução a médio prazo, quando entrar toda uma nova geração de médicos que venha substituir estes. Até lá, não há soluções fáceis”.
Mas viremos a página, para a forma com o médico Luís Coentro prescreve, a si próprio, o receituário para os hábitos de vida saudável. Ele que nunca praticou desporto. “Nenhum. Nada, mesmo. Sou de Alverca do Ribatejo e as condições que existiam eram, apenas, para a prática de futebol, que eu não gosto, e pouco mais. Também, por razões pessoais, porque sou preguiçoso por natureza, portanto, nunca pratiquei qualquer tipo de desporto para além daquele que fazíamos na escola”.
E agora? O que é que o faz correr, doutor? “A saúde mental. É uma forma de nós, às vezes, cuidarmos de nós próprios. Comecei quando vim para o Alentejo. Inicialmente fazia caminhadas, porque a pressão do trabalho também é alguma e, se a gente não tomar conta de nós, teremos, depois, o colega da Psiquiatria a tomar conta de nós”.
Tem uma presença muito discreta nas várias corridas em que participa, mas não corre atrás de prémios, nem de notoriedade. “Corro para cuidar da forma física e da saúde mental, como disse. Comecei esta prática com alguma irregularidade e, como também nunca pratiquei desporto na adolescência, tenho, naturalmente, rendimentos relativamente baixos, comparados com outras pessoas. Normalmente, corro às seis e meia da manhã, antes de vir para o trabalho”.
Saúde física e saúde mental. Mas, afinal, qual é a relação? “São duas áreas perfeitamente ancoradas, muito mais do que a gente pensa, porque muito mais do que fazer bem à saúde física faz, antes de mais, à saúde mental”.
A sua participação em provas é tida como um exemplo de boas práticas. Já o treino madrugador nem tanto, ainda assim, já tem sentido algum retorno. Prefere provas com distâncias entre os 10 e os 15 quilómetros em estrada, pela bondade do piso.
Luís Coentro aconselha: “Quem faz desporto de competição deve, claramente, fazer uma avaliação prévia, ou periódica, das condições de saúde, especialmente, em termos cardiorrespiratórios”. Já para quem pratica de forma informal ou faz uma simples caminhada não é exigível: “A simples caminhada é sempre melhor do que estar parado. Sabemos qua a atividade física para pessoas que não têm problemas de saúde é, à partida, mais saudável do que ficar parado, à espera que as coisas aconteçam”.
Cuidados alimentares? É óbvio, deixa claro até que “a alimentação deve ser cuidada para qualquer pessoa”. “Confesso que não sou a pessoa com maiores cuidados, sei o que devo fazer, vou tendo alguns cuidados e evitando alguns excessos mas, de vez em quando, também temos o nosso dia”.
Recordando que sempre houve recomendações médicas informais para a prática desportiva, Luís Coentro assinala: “Agora surgiu uma estrutura mais organizada e com recomendações formais ao nível da Direção-Geral da Saúde para a prática do exercício físico. Precisamos de mais coisas dessas. Precisamos de aprofundar isso, mas também acho que seria necessária formação dos profissionais de saúde nessa área. Temos formação em áreas como a diabetes, a hipertensão, doença pulmonar obstrutiva crónica mas, em termos de promoção de estilos de vida saudável, acho que falta alguma formação para os próprios profissionais”.
Então, até à próxima corrida…
Fonte: https://diariodoalentejo.pt
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