Histórias do mundo da bola
No futebol existe uma infinidade de adereços que o atleta ao longo de
um jogo utiliza e que deixa o apaixonado da modalidade vergado a um
inquestionável deslumbramento. Ora é a vírgula, ora é o túnel, ora é o
chapéu, ora é o frango, ou o peru, quando o guarda-redes resolve elevar a
sua asneira a um poleiro mais alto do galinheiro derrapando o disparate
para gáudio de uma assistência que se envolve integralmente no
espetáculo. Contextualizando o rol de gestas em que o futebol é fértil,
faço uma viagem no tempo e revejo a época de 1969/1970, a minha primeira
como sénior, onde integrei, com 18 anos, a equipa principal do
Desportivo de Beja. Nesses tempos proliferava no grémio bejense o
profissionalismo, sendo o 11 maioritariamente constituído por atletas
com nomes já firmados no palco futebolístico nacional, logo o Desportivo
era um conjunto que impunha respeito ao mais afoito adversário. Tendo
como jogador/treinador o espanhol Suarez, as aquisições dessa época
foram as seguintes: Saul, Zeca, Rodrigues Pereira e Júlio, todos
originários do Vitória de Setúbal, Brito, ex-Lusitano de Vila Real de
Santo António, Palma, ex-Benfica, Pancada, ex-Loures e Saúde,
ex-Sporting. Relativamente à componente profissional é com toda a
justiça que friso o endiabrado extremo direito Zé Baiôa, um companheiro
com o qual tive o prazer em partilhar a asa direita daquele que foi o
símbolo maior do futebol sul-alentejano. Estávamos no dia 21 de dezembro
de 1969 e fomos jogar a Évora contra o Juventude no seu reduto,
ganhámos 1-0 e o Baiôa, rápido e felino, antecipou-se a um lance onde eu
iria intervir, só que do embate resultou um pé partido para o meu
ilustre amigo. A data que acima indico foi precisamente o dia do
casamento do nosso condiscípulo João Caixinha. No final do desafio
resolvemos efetuar uma ida a Santa Clara do Louredo, Quinta do Visconde,
onde decorria a boda com o intuito de oferecermos a vitória ao nosso
confrade. É óbvio que a chegada da maralha não passou despercebida aos
convivas. Bebemos, comemos e o Baiôa, mesmo coxo, envergando a sua
célebre gabardine branca, mirou um peru assado no forno, que por acaso
estava intocável, enamorou-se da sumptuosidade da ave e toca a
“arrumá-lo” debaixo do adorno que vaidosamente envergava. Para o Zé o
vulto que o passarinho apresentava foi coisa de somenos importância,
pois, perante uma eventual circunstância de intempestivas perguntas que
porventura lhe endossassem, o que sucedeu, o homem de Mértola, com ela
já na manga, respondeu com altivez: “O peru é para um petisco com todo o
plantel do Desportivo na próxima terça feira”. Resumindo: não houve
petisco e o Baiôa consolou-se a digerir o delicioso peru mas,
solitariamente. Histórias do mundo da bola de um passado onde a
filosofia de vida do Baiôa fora imensuravelmente inigualável.
Fonte: Facebook de Jose saude.
Fonte: Facebook de Jose saude.
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