“Sou
filho único de um grande homem, uma pessoa incansável para o trabalho.
Todos os dias, desde as 5 da manhã, por vezes até à meia-noite, vendia
carvão e petróleo pelas ruas, com um carro e uma mula. Regressava a casa
e ainda se ocupava na criação de animais, como vacas, porcos ou
ovelhas. A minha mãe também foi uma grande mulher que servia na casa da
grande família, pois vivíamos em comunhão com os meus tios, primos,
avós, tipo matriarcado, mas a minha avó era a grande líder”.
Texto e foto: Fírmino Paixão
Manuel Ranhola nasceu em Beja, na véspera de São Pedro, o último dos Santos Populares, no longínquo ano de 1952. Por questões legais foi registado em Portel, a terra natal do progenitor. Tem 67 anos, a maior parte deles dedicados à pesca desportiva, como praticante e dirigente. Desde há 15 anos que preside à Associação Regional do Baixo Alentejo de Pesca Desportiva, organismo de que foi cofundador. Cresceu na antiga Quinta d’El Rei, contígua ao bairro da Conceição, territórios que conheceu como poucos. “Fiz o ensino primário na escola do bairro e os tempos livres eram ocupados com o que hoje se chama de jogos tradicionais e que os jovens de agora pouco conhecem. Eram jornadas que entravam pela noite e que, por vezes, terminavam com algumas palmadas dos meus pais, pelo atraso no regresso a casa”. Os compromissos escolares foram, no entanto, bem-sucedidos: quarta classe terminada e exame de admissão ao secundário. Então, venha daí essa prenda, a recompensa pela dedicação: “O meu pai ofereceu- -me uma espingarda de pressão e, a partir de então, passava os dias à caça de pequenos pássaros, com que fazíamos petiscos inolvidáveis. Por essas alturas, comecei também a ir, no verão, com o meu pai e os meus tios, às ribeiras apanhar buinho, junco e atabuas, para tapar as serras de palha que anualmente eram necessárias para a alimentação dos animais e que o meu avô possuía na quinta”. Com esta ligação à natureza adivinhava- se que o fascínio pela pesca estava a germinar. “Sim, foi a partir daí, que começou a despertar em mim esse gosto pelo campo, pelas ribeiras, onde, acompanhado pelos meus tios, apanhávamos pardelhas, barbos, espanhóis ou achigãs, que era um peixe novo nas nossas águas”. Com o ‘bichinho’ a crescer, havia que alimentá-lo. “Foi de tal forma que eu e o meu tio Jeremias ansiávamos pelo fim de semana, para irmos, de automotora, até o rio Guadiana. Ficávamos em Quintos ou no apeadeiro da ponte de Serpa.
Foram dias inesquecíveis, sempre a pescar. Almoçávamos o peixe que capturávamos ou, apenas, uma linguiça ou um bocado de toucinho assado. Fartos de bem-estar e de alegria, regressávamos, ao fim da tarde, no mesmo transporte”. Não admira que Manuel Ranhola recorde que o fascínio pela pesca era tal que, mesmo nas férias, “não sentia necessidade de ir à praia”. “Queria juntar-me com os amigos e, apenas com as artes da pesca, uma manta às costas e uma frigideira à cintura e lá íamos para os moinhos do Guadiana passar semanadas”, refere. Mais adiante, começou a frequentar o Clube Bejense de Amadores de Pesca Desportiva, então na rua da Cadeia Velha, e a pesca de lazer virou competitiva. “O primeiro concurso em que participei foi na Barragem da Daroeira. Capturei 37 barbos e uma carpa. Ganhei uma pequena taça que me marcou para o resto da vida”. Começa aí, também, a sua dádiva ao movimento associativo, como dirigente daquele clube. Mas recordamo- -nos do Manuel Ranhola também na organização dos Jogos Populares do Trabalho, em 1975, evento que classifica como “uma as maiores manifestações desportivas e culturais que algum dia aconteceram no Alentejo”. “Fui convidado a integrar a comissão organizadora desses jogos que tiveram um impacto avassalador”. No ano seguinte surgiram os II Jogos organizados pelo CCD do Hospital de Beja, de que Manuel Ranhola tinha sido cofundador. E recorda ainda a realização de uma terceira edição, com organização conjunta do CCD do Hospital de Beja e do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços. “O êxito e a grandiosidade destes eventos devem ter atemorizado outras vontades, que não mais tiveram coragem para lhes dar continuidade”, lamenta.
Os anos passavam, mas a pesca desportiva continuava a ser a “menina dos olhos” de Manuel Ranhola. “Foi assim que, em 2003, em conjunto com outros amigos, com grande dificuldade mas com vontade férrea, fundámos a Associação Regional do Baixo Alentejo de Pesca Desportiva, desenvolvendo a partir daí um elo entre os vários clubes do Baixo Alentejo e do Alentejo Litoral, integrando também a pesca de mar, que rapidamente teve um incremento superior à pesca de rio”. Preside à associação há quinze anos e, argumentando que os anos não perdoam, “ameaça” abandonar no final de 2020. Por inerência deste cargo integra o conselho técnico da Federação Portuguesa de Pesca Desportiva, assumindo ainda funções de treinador, juiz e coorganizador de várias provas nacionais e internacionais que decorreram na jurisdição da Arbapd. No palmarés, já inscreveu títulos em representação de imensos clubes do Baixo Alentejo, nas áreas de água doce e de mar. Nessa medida confessa que toda a sua dedicação a esta causa o enche de orgulho: “Jamais acharei que foi tempo perdido em prol de um grande ideal”. Por isso promete “continuar por aí, enquanto as forças me permitirem e a vista me ajudar a encontrar uma vereda que me leve à pesca”.
Fonte: https://diariodoalentejo.p
Texto e foto: Fírmino Paixão
Manuel Ranhola nasceu em Beja, na véspera de São Pedro, o último dos Santos Populares, no longínquo ano de 1952. Por questões legais foi registado em Portel, a terra natal do progenitor. Tem 67 anos, a maior parte deles dedicados à pesca desportiva, como praticante e dirigente. Desde há 15 anos que preside à Associação Regional do Baixo Alentejo de Pesca Desportiva, organismo de que foi cofundador. Cresceu na antiga Quinta d’El Rei, contígua ao bairro da Conceição, territórios que conheceu como poucos. “Fiz o ensino primário na escola do bairro e os tempos livres eram ocupados com o que hoje se chama de jogos tradicionais e que os jovens de agora pouco conhecem. Eram jornadas que entravam pela noite e que, por vezes, terminavam com algumas palmadas dos meus pais, pelo atraso no regresso a casa”. Os compromissos escolares foram, no entanto, bem-sucedidos: quarta classe terminada e exame de admissão ao secundário. Então, venha daí essa prenda, a recompensa pela dedicação: “O meu pai ofereceu- -me uma espingarda de pressão e, a partir de então, passava os dias à caça de pequenos pássaros, com que fazíamos petiscos inolvidáveis. Por essas alturas, comecei também a ir, no verão, com o meu pai e os meus tios, às ribeiras apanhar buinho, junco e atabuas, para tapar as serras de palha que anualmente eram necessárias para a alimentação dos animais e que o meu avô possuía na quinta”. Com esta ligação à natureza adivinhava- se que o fascínio pela pesca estava a germinar. “Sim, foi a partir daí, que começou a despertar em mim esse gosto pelo campo, pelas ribeiras, onde, acompanhado pelos meus tios, apanhávamos pardelhas, barbos, espanhóis ou achigãs, que era um peixe novo nas nossas águas”. Com o ‘bichinho’ a crescer, havia que alimentá-lo. “Foi de tal forma que eu e o meu tio Jeremias ansiávamos pelo fim de semana, para irmos, de automotora, até o rio Guadiana. Ficávamos em Quintos ou no apeadeiro da ponte de Serpa.
Foram dias inesquecíveis, sempre a pescar. Almoçávamos o peixe que capturávamos ou, apenas, uma linguiça ou um bocado de toucinho assado. Fartos de bem-estar e de alegria, regressávamos, ao fim da tarde, no mesmo transporte”. Não admira que Manuel Ranhola recorde que o fascínio pela pesca era tal que, mesmo nas férias, “não sentia necessidade de ir à praia”. “Queria juntar-me com os amigos e, apenas com as artes da pesca, uma manta às costas e uma frigideira à cintura e lá íamos para os moinhos do Guadiana passar semanadas”, refere. Mais adiante, começou a frequentar o Clube Bejense de Amadores de Pesca Desportiva, então na rua da Cadeia Velha, e a pesca de lazer virou competitiva. “O primeiro concurso em que participei foi na Barragem da Daroeira. Capturei 37 barbos e uma carpa. Ganhei uma pequena taça que me marcou para o resto da vida”. Começa aí, também, a sua dádiva ao movimento associativo, como dirigente daquele clube. Mas recordamo- -nos do Manuel Ranhola também na organização dos Jogos Populares do Trabalho, em 1975, evento que classifica como “uma as maiores manifestações desportivas e culturais que algum dia aconteceram no Alentejo”. “Fui convidado a integrar a comissão organizadora desses jogos que tiveram um impacto avassalador”. No ano seguinte surgiram os II Jogos organizados pelo CCD do Hospital de Beja, de que Manuel Ranhola tinha sido cofundador. E recorda ainda a realização de uma terceira edição, com organização conjunta do CCD do Hospital de Beja e do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços. “O êxito e a grandiosidade destes eventos devem ter atemorizado outras vontades, que não mais tiveram coragem para lhes dar continuidade”, lamenta.
Os anos passavam, mas a pesca desportiva continuava a ser a “menina dos olhos” de Manuel Ranhola. “Foi assim que, em 2003, em conjunto com outros amigos, com grande dificuldade mas com vontade férrea, fundámos a Associação Regional do Baixo Alentejo de Pesca Desportiva, desenvolvendo a partir daí um elo entre os vários clubes do Baixo Alentejo e do Alentejo Litoral, integrando também a pesca de mar, que rapidamente teve um incremento superior à pesca de rio”. Preside à associação há quinze anos e, argumentando que os anos não perdoam, “ameaça” abandonar no final de 2020. Por inerência deste cargo integra o conselho técnico da Federação Portuguesa de Pesca Desportiva, assumindo ainda funções de treinador, juiz e coorganizador de várias provas nacionais e internacionais que decorreram na jurisdição da Arbapd. No palmarés, já inscreveu títulos em representação de imensos clubes do Baixo Alentejo, nas áreas de água doce e de mar. Nessa medida confessa que toda a sua dedicação a esta causa o enche de orgulho: “Jamais acharei que foi tempo perdido em prol de um grande ideal”. Por isso promete “continuar por aí, enquanto as forças me permitirem e a vista me ajudar a encontrar uma vereda que me leve à pesca”.
Fonte: https://diariodoalentejo.p
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