Texto Firmino Paixão
Hugo Carvalho nasceu na cidade de Porto Amboim, em Angola,
há 39 anos. No primeiro ano de vida chegou a Santo Aleixo da
Restauração e, por contingências da profissão itinerante da progenitora,
professora, viveu noutras terras alentejanas antes de a família rumar a
Lisboa. Na infância, recorda, gostava de praticar desporto: “Andava de
bicicleta, jogava à bola na rua, praticava karaté, participava nos
corta-matos escolares, mas nunca fui um assíduo praticante de atletismo.
Enfim… tive uma infância feliz”.
Quando concluiu o 12º ano teve uma
experiência profissional como carteiro, em Benfica, até que, em 2001,
ingressou no serviço militar, tendo sido colocado em Santarém. E é nessa
altura que começa a praticar desporto de forma mais assídua. “Fiz
corrida e orientação, corta-mato, e pentatlo militar”. Quando estava no
Ribatejo concorreu à Guarda Nacional Republicana (GNR). “Sempre gostei
da vida militar. Quando estive no exército adquiri toda aquela
disciplina, o gosto por um contacto próximo com a natureza, de modo que
não me via com uma profissão que não implicasse a vida no exterior e o
contacto com as pessoas”.
Voltou
ao Alentejo, agora à cidade de Portalegre, ao Centro de Formação da
GNR, para adquirir novos conhecimentos em áreas como o direito, Código
da Estrada, entre outras, mais específicas para a conclusão do curso.
Colocado numa unidade territorial mais a sul, e agora em Beja, começa a
olhar para a corrida mais a sério. “A primeira prova da Associação de
Atletismo de Beja em que participei realizou-se em 2013. Competi, como
atleta individual, na Escalada de São Gens, em Serpa”. E confessa,
“sempre a observar, com grande admiração, os atletas do Beja Atlético
Clube (BAC), onde já tinha um amigo, João Cruz, o atual presidente. Não
vou dizer que não tinha vontade de me juntar a esta equipa, mas não me
sentia com a forma física dos atletas que lá estavam. Eles ‘voam’ nas
nossas estradas e estradões, mas não baixei os braços e tudo isso
motivou-me a treinar mais e melhor”.
Com esta vontade e sendo amigo pessoal do
presidente do clube, não demorou a envergar a camisola do BAC com a
qual esta época, abruptamente interrompida, conquistou no seu escalão
títulos como o de campeão distrital de estrada, de corta-mato longo e de
montanha, campeão do Alentejo de estrada e de corta-mato longo e um
décimo lugar no nacional de corta-mato curto, na Figueira da Foz.
Noutro nível, revela ter participado
sempre selecionado, nos campeonatos nacionais militares de atletismo.
“São provas muito competitivas, com atletas que representam as várias
instituições militares, todos com um nível muito alto no nosso panorama
nacional”. Quanto ao BAC, único emblema que representou, revela estar
“muito feliz” na equipa: “Existe um ambiente familiar, estou rodeado de
pessoas que gostam do que fazem e ajudam sempre no que podem com
conselhos, dicas, sempre muito prestáveis e que acolhem muito bem os
novos elementos”. Foi ali, também, que “trocou” de treinador. Antes,
dizia que a esposa era a sua “massagista, nutricionista, apoiante número
um e treinadora”, mas “perdeu esse cargo (risos). Tenho de lhe tirar o
chapéu por todo este apoio”, adianta o atleta, agora treinado pelo
colega de equipa (e de profissão) Carlos Papacinza.
Hugo Carvalho é um atleta todo o terreno.
“Gosto de todas as disciplinas, todas me fascinam, por querer andar
cada vez mais rápido e estar mais forte, mas gosto dos corta-matos com
lama, duros de fazer. Custa quando lá andamos no meio, mas quando se
finaliza é uma satisfação enorme”.
No horizonte tem o sonho de correr uma
maratona, mas outro dos desafios que já enfrentou foi a participação no
Ironman 70.3, em Cascais. “Gostava de realizar um triatlo, tinha isso em
mente, nunca pensei que fosse tão cedo e a estreia foi logo numa prova
do circuito mundial de ‘ironman’. Uma experiência que vou guardar para a
vida. Valeu a pena todo o empenho e sacrifício pessoal e familiar que
implicou, pois antes, durante e após a prova, somos invadidos por um
misto de sensações. Só quem a corre será capaz de perceber”.
Avalia-se como um atleta mediano mas com
vontade de evoluir, sem que isso interfira no meio familiar, embora
sinta que a esposa, Cátia Caldeira, e os dois filhos são os seus maiores
fãs. Foi assim, por exemplo, no último Campeonato do Alentejo. “Tinha
uma claque de luxo, a minha esposa e os meus filhos a assistirem. Quando
eles lá estão a carga psicológica ainda é maior, acresce a ‘obrigação’
de uma ter boa prestação. Já que lhes roubo muitas horas da minha
companhia, é uma maneira de os compensar. Mesmo quando não estão
presente, não corro sozinho. Os três, esposa e filhos, estão sempre no
meu pensamento”.
O balanço da carreira é positivo, está
feliz e confessa-se orgulhoso pelas várias prestações da equipa em
campeonatos nacionais. “Temos conseguido estar no ‘top 10’ nacional, ao
lado de equipas com outro poder e sinto-me feliz porque estive lá a
ajudar a que o Beja Atlético Clube, coletivamente, fosse superior a
muitas outras equipas com mais e melhores recursos e maiores apoios”.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt/
Sem comentários:
Enviar um comentário