José Saúde
Legados desportivos
Desafiando as agrestes
escarpas que incidem sobre ciclos de vidas celestiais, viajo pela
faustosa máquina do tempo e jubilo com acontecimentos que marcaram
épocas onde o futebol se afirmava numa sociedade rodeada de
imprevisíveis receios. O fenómeno cooperativista era um tema que
restringia avanços seguros em moços que sonhavam com o mundo da bola. O
sistema político não dava tréguas, logo pequenos grupos de criaturas
requeriam um prévio cuidado. Caminho por veredas que paulatinamente se
foram aniquilando e revejo narrativas herdadas de homens que
brilhantemente ousaram desafiar as amarras dos pânicos e se lançaram na
construção de agremiações desportivas que glorificaram aquilo que se
assemelhava a inimagináveis utopias. Reproduzindo legados desportivos
desses velhos tempos, recorro a narrativas deixadas e evoco histórias
contadas que nos causam colossais emoções. Na cidade de Beja, década de
1920, deram à estampa clubes que se afirmariam determinadamente no palco
futebolístico “paxjuliano”. Vivia-se a prática desportiva com elevado
deslumbramento. Além dos clubes, que entretanto se fundaram, existiam,
ainda, os chamados grupos populares que integravam jovens que se
dedicavam ao prazer do “vício do jogo da bola” e que atuavam em
jogatanas aos fins de semana, sendo os palcos dos dérbis as eiras
existentes na orla da urbe. Recordando esses legados desportivos,
detenho- -me perante o “Botana” e o “Botanoide”. O “Botana” era dirigido
pelo Dr. António Fernando Covas Lima e o “Botanoide” tinha como mentor
João de Melo Garrido, irmão do antigo diretor do “Diário do Alentejo”,
Manuel Inácio Lopes de Melo Garrido, sendo o João o homem que provocou
uma cisão no primeiro grupo e o levou a formar o segundo. A curiosidade
pelo futebol dessas eras, expressam os contemplados arautos desportivos
com dignidade e honradez, que o Dr. António Fernando Covas Lima foi,
ainda, jogador do “Glória ou Morte”, de Beja. A sua sina estava traçada,
uma vez que, mais tarde, assumiu a presidência da Associação de Futebol
de Beja (1936- 1938; 1946-1947; 1952/1960), abrindo as portas para que o
seu filho, Dr. João Manuel Covas Lima, o conhecido “Dr. Nana”, um dia
se consagrasse como dirigente da emblemática corporação. É óbvio que
tudo é passado, registando-se, porém, que estes majestosos feitos
tiveram como protagonistas proeminentes personagens que deram passos
gigantes para que o cosmos desportivo atingisse o ‘boom’ por ora
observado. Atualmente constatamos que em Beja, assim como na
generalidade do distrito, a maravilha desportiva atingiu patamares
outrora impensáveis. Hoje, presenciamos uma infinidade de coletividades,
geridas por gentes que humildemente se entregam “de alma e coração” à
arte de bem servir o seu povo, bem como muitos milhares de atletas que
desenvolvem a sua condição física no emblema que orgulhosamente defendem
e onde proliferam excelentes infraestruturas. Ficam assinalados os
exímios primórdios de legados que originaram tamanha evolução.
Fonte: Facebook de Jose Saude
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