domingo, 24 de janeiro de 2021

As dificuldades da Zona Azul em tempo de pandemia

 

Os tempos não correm de feição para o movimento associativo que tem vocação e prevalência na área da formação. Um dos exemplos vem da Associação Recreativa e Cultural Zona Azul, de Beja, um clube que, à semelhança de muitos outros, se esforça para sobreviver a esta pandemia.

 

Texto Firmino Paixão

 

“Pensar em desistir ou em fechar a porta é algo que nunca foi, nem será, equacionado na Zona Azul”, garante Vasco Cordeiro, presidente da direção. Em entrevista ao “Diário do Alentejo”, o dirigente relata as grandes dificuldades do clube, as contrariedades com a suspensão da atividade formativa e, claro, o impacto financeiro negativo que está a penalizar o movimento associativo. No plano desportivo, o clube disputa o nacional de andebol da III Divisão, em seniores masculinos. Se calhar, com objetivos moderados mas, assegura Vasco Cordeiro, “o ADN do clube leva-nos a tentar ganhar todos os jogos, embora com a consciência de algumas limitações, em diversos níveis”.

 

Como é que a comunidade desportiva da Zona Azul tem estado a viver (ou a sobreviver a) esta crise epidemiológica da covid-19?

A Zona Azul, como a maioria dos clubes e outras coletividades, nesta altura da pandemia, está a sobreviver da melhor forma possível, porque, quer em termos desportivos, quer em termos económicos, nada está igual.

 

Todos fomos obrigados a alterações comportamentais, a criar novos hábitos e, sobretudo, a sermos mais criativos no nosso dia-a-dia.

Sim, com o aparecimento desta crise pandémica todos tivemos que nos reinventar, e a Zona Azul não fugiu à regra, quer em termos desportivos, quer em termos do espaço de lazer e convívio da sede, quer no atendimento administrativo aos sócios. São os treinos dos escalões de formação no andebol que estão limitados no número de pessoas presentes, sem mistura de grupos etários, de técnicos, dirigentes e sem assistência dos pais e com o distanciamento possível. Nas atividades aquáticas as turmas estão reduzidas a metade. Na secretaria, só quando possível é que se faz atendimento presencial… é o gel desinfetante, são as máscaras, são os acrílicos. No bar da sede, além das máscaras, dos acrílicos e do gel desinfetante foi reduzida lotação da presença de sócios.

 

O movimento associativo tem sido fortemente penalizado, indiretamente pela crise económica, mais diretamente pelas restrições e suspensão das competições…

Como é público, cerca de 80 por cento dos orçamentos da Zona Azul têm por base receitas próprias, nomeadamente a quotização, rendas, as comparticipações dos nossos atletas na sua formação, em todas as nossas modalidades. Nos restantes 20 por cento incluímos a publicidade que afixamos no pavilhão e a dos equipamentos dos atletas, quer do andebol, quer da natação, e também as verbas institucionais, os subsídios. Tudo isto sofreu um corte substancial, com impacto negativo nas verbas que entram na Zona Azul, o que teve, além de outras consequências, o cancelamento da prestação profissional dos técnicos com contrato de trabalho, contribuindo ainda para o aumento do desemprego na nossa região.

 

Os seniores estão a competir no Campeonato Nacional da III Divisão, provavelmente com uma gestão muito cuidada do seu plantel?

A Zona Azul tem, neste momento, um plantel mais curto, com atletas de idades diferenciadas, mas com a mesma responsabilidade do que é praticar uma modalidade competitiva como o andebol em plena pandemia, pois todos temos família, amigos, colegas de trabalho, todos vamos às compras, nunca sabemos o que nos poderá acontecer.

 

Não receia que, um dia quando a pandemia for debelada, a Zona Azul tenha que começar tudo de novo?

Esperemos que não seja do zero, porque existe a vontade de continuar de muitos dos nossos jovens, dos nossos técnicos e dirigentes, até porque o desporto na nossa cidade e na região precisa de clubes formadores de atletas, e formadores de homens e de mulheres, como a Zona Azul. Clubes que consigam fazer ver às diversas entidades que o desporto não deve ser o parente pobre da sociedade.

 

Abdicaram do nacional da II Divisão de seniores e do nacional da I Divisão de juvenis. O clube vivia acima das suas possibilidades?

Convém esclarecer que não declinámos a participação na I Divisão de juvenis. A Federação de Andebol de Portugal, no seu planeamento para as épocas seguintes, decidiu acabar com as divisões fixas nos escalões de formação, pelo que todos os clubes iriam iniciar a sua participação a nível regional ou inter-regional culminando numa fase nacional. Em relação ao nacional da II Divisão de seniores, aí sim, abdicámos de participar, devido a uma conjugação de fatores, nomeadamente à possibilidade de termos alguma dificuldade em manter alguns atletas que iriam estudar para longe de Beja, equipa técnica e fatores económicos, nomeadamente com as deslocações às ilhas, decisão que foi duramente criticada por alguns ex-atletas que, não sabendo, nem procurando saber o que se passava, nos “deram” forte e feio mas, como sempre estivemos cá para os bons momentos, também estivemos para tomar as decisões difíceis. Sempre de consciência tranquila.

 

Mas um dia destes o Vasco Cordeiro terá que passar o testemunho?

O Vasco Cordeiro tem uma vida, cerca de 40 anos, ao serviço da Zona Azul, nas suas diversas funções, dirigente de modalidade, presidente do conselho fiscal e presidente da direção. Há mais de 10 anos que anda a dizer que é só mais um mandato, este termina no próximo mês de março e é realmente o último, pois a minha vida familiar, neste momento, não me permite continuar a dar o meu contributo ao clube. Apelo a todos os nossos associados para que se mobilizem e se disponham a fazer uma renovação no dirigismo do nosso clube. Com novas ideias e, com certeza, com o apoio dos dirigentes veteranos, levaremos mais longe o nome da nossa Zona Azul.

Fonte:  https://diariodoalentejo.pt/

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