JOSÉ SAÚDE
Crê-se, historicamente, que a cidade de Beja existe desde os 400 anos a.C. e foi erigida pelo povo celta. Mais tarde o imperador Augusto ter-lhe-á atribuído o nome de Pax Julia aquando o burgo esteve sob o domínio da soberania romana, um desígnio que permanece vivo nas gentes bejenses. No século V, a urbe, após a queda do império latino, albergou as tribos dos alanos e suevos, sucedendo-lhes os visigodos. De 714 a 1162 a cidade foi posse dos árabes. Num vaguear permanente pelas criptas documentadas, descobre-se que o cosmos desportivo há muito que exalta a denominação de Pax Júlia. Revejo o primeiro clube da capital sul alentejana que em janeiro de 1923 adotou o título de Pax Júlia Atlético Clube. O jogo da bola estava no auge e o tempo era de afirmação. Uma dissidência no Glória ou Morte, um outro grupo existente na cidade, levou Doroteo Flecha e os seus irmãos Manuel e Ângelo, de entre outros companheiros como Joaquim Monte, Emerim Velez, Silva Dias, os irmãos Marujo e Alfredo Barradinhas, a fundarem o Pax Júlia. Sabe-se que a sua existência foi efémera. Resta a certeza que a agremiação, em agosto do ano da sua origem, viajou até Cadiz, Espanha, a expensas do endinheirado Doroteo Flecha, onde disputou um torneio de futebol em que participaram as equipas do Espanhol de Cadiz, do Britãnnia FC, Andaluzia, uma seleção de Gibraltar e a turma alentejana. A saga Pax Júlia renasceu nos anos de 1940, melhor, a 1 de outubro de 1946, com a fundação de uma nova versão do Pax Júlia Atlético Clube, um grémio que apostou no futebol juvenil e que teve como principal instigador uma das velhas glórias do futebol bejense, Manuel Trincalhetas. Desse grupo de moços sobressaíram o Zezé, o Tita Sanina, o Zé Passinhas, o Fernando Pratas, o Carlos Casimiro e o Valadas, nomeadamente. O périplo fecha-se com o Clube Atlético Pax Júlia, fundado a 14 de setembro de 1979, já inativo, restando a dúvida se futuramente uma outra agremiação Pax Júlia surgirá à luz do dia no palco do prodígio desportivo citadino. É óbvio que este cruzar de gerações, onde o desporto foi e é rei, deixa saudades, tendo em conta que o nome de Pax Júlia se apresentará sempre como um dos ícones da urbe. Para trás fica a saudade de homens que no antigamente esboçaram numa tela, pintada a preto e branco, inolvidáveis verdades, sendo a força dos seus idealismos uma arma de arremesso que transportaria gerações vindouras para o engrandecimento do fenómeno futebolístico. Agora, olhamos para a presente realidade, onde as infraestruturas para os atletas foram paulatinamente formatando novas opções e damos conta que, por ora, reina o silêncio nas nossas competições, particularmente nos escalões de formação. Deseja-se que tudo passe rapidamente e que os nossos jovens voltem a dar alegrias aos mais velhos. Um dia voltará a competição juvenil à velha Pax Júlia anfitriã de múltiplos convívios, onde as liberdades das crianças serão sempre perpetuadas.
Fonte: Facebook de Jose Saude
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