sábado, 27 de março de 2021

Irmãos Machado, dois futebolistas da ‘cantera’ mourense

 

Texto Firmino Paixão

 

O que terão em comum as camisolas do Moura Atlético Clube com o número um, e o número 90 estampados nas costas? Têm tudo o que se possa imaginar! São símbolos da notável ‘cantera’ mourense, têm o odor à prata da casa, são ‘jerseys’ que cobrem um incomensurável amor ao clube e serão, talvez, exemplo de como potenciar e estruturar um emblema com um historial enorme, que vai a caminho dos honoráveis 80 anos de existência. Mas há mais. São as duas camisolas atribuídas aos irmãos Ricardo e Gonçalo Machado, filhos da terra, ainda que, ocasionalmente, nascidos na cidade de Évora. Mas são mourenses dos quatros costados.

 

O Ricardo, camisola 90, nasceu no primeiro dia de fevereiro de 2000. Vimo-lo jogar no miolo do terreno, mas o jovem define-se como um jogador polivalente: “Tanto posso jogar no meio, como a lateral direito. Essas são as posições em que me sinto mais confortável, mas jogarei onde o treinador achar melhor”.

 

Sobre os seus tempos de infância recorda que “passávamos os dias inteiros a jogar á bola até sermos interrompidos pela nossa mãe para irmos jantar. Às vezes, tinham que nos ir buscar, porque não queríamos ir para casa… era divertido passar o dia na rua com os nossos amigos”. “Sempre gostei muito de jogar á bola, quando era criança andava com a bola de um lado para o outro, não a largava nem por nada”, lembra Ricardo Machado. Por isso, nunca praticou outras modalidades. “A minha paixão sempre foi o futebol, era isso mesmo o que eu queria e acabou por acontecer”.

 

Completados 10 anos, ala que se faz tarde, e aí vai a caminho do campo de futebol. “Foi uma decisão minha, era uma coisa que eu queria muito e os meus pais fizeram-me a vontade, deixaram-me ir e sempre me apoiaram”. Fez todo o seu percurso formativo no clube onde ainda hoje se mantém e onde, provavelmente, continuará. “Fui campeão distrital de iniciados, campeão distrital de juniores e de sub-23, ganhei a Taça Melo Garrido, a Taça Dr. Covas Lima e a Taça de Honra I Divisão da Associação de Futebol de Beja”. É obra, não é?

 

Quando fala dos treinadores que o ajudaram a crescer, não tem dúvidas de que “todos” o marcaram, cada um à sua maneira, todos foram importantes e contribuíram para a sua evolução enquanto jogador e enquanto pessoa. Enumera Bruno Gomes, Domingos Gonçalves, António Infante, José Oliveira, Francisco Guerreiro, Henrique Marta, Carlos Ventura, João Portela e José Luís Cavaco, todos protagonistas no seu percurso formativo. Entretanto, chegou ao topo, atingiu a equipa sénior, se calhar um dos maiores sonhos que alimentava: “Sim! Era um dos objetivos e até acabou por acontecer mais cedo do que estava à espera, na altura ainda era júnior de primeiro ano”. A par do futebol, sim, porque existe um outro lado da vida que não se deve descurar, Ricardo Machado tem o seu percurso académico definido: “Concluí o secundário no ano letivo anterior, mas a ideia é continuar os estudos e ir para a universidade”. Já enquanto futebolista confessa que o objetivo passa por ir “melhorando dia após dia, o resto logo se vê”. Quanto às oportunidades, “isso cabe ao treinador decidir, da minha parte posso prometer que vou continuar a trabalhar no máximo todos os dias”.

 

A época não tem corrido bem à equipa, “são contas de outro rosário”, mas Ricardo Machado sente que tem sido uma época difícil: “As coisas não nos têm corrido bem. Temos um plantel com muita qualidade, os resultados não têm aparecido, por esta ou por aquela razão, mas vamos continuar a trabalhar para honrar a camisola do Moura e conquistar o máximo de pontos possíveis, sabendo que o Campeonato de Portugal é muito competitivo”.

 

Mas o Ricardo também sabe que quando não consegue “matar” os lances a meio campo, lá atrás, entre os postes, está o seu irmão Gonçalo Machado, mais jovem, com 19 anos feitos em outubro passado. Seguiu os bons exemplos do irmão, no que toca à atividade física, praticou outras modalidades, mas diz que “o futebol sempre falou muito mais alto” e sempre foi o desporto que mais gostou de praticar: “Até saía de casa muito cedo, só para ir jogar à bola para a rua com os meus amigos, foi assim que comecei a dar os primeiros toques e assim nasceu esta grande paixão pelo futebol”. Assume que não foi influenciado pelo irmão – “na altura já gostava de jogar futebol e sempre foi por opção minha” – e pormenoriza que quando jogava com os meus amigos, na rua, já era ele que ia para a baliza. Hoje ainda retém na sua memória um momento que elege como importante no seu percurso desportivo: “Quando fui pela primeira vez campeão da Taça Dr. Covas Lima, em infantis, com o ‘mister’ António Infante”. Mas teve outros mestres, ou seja, outros místeres. “Sempre tive treinadores que acreditaram muito no meu trabalho e quero mencionar aqui os nomes, o António Ventura, o José Luís Cavaco, o João Portela e o Bruno Ribeiro”.

 

Fora do campo, Gonçalo Machado conta com o imprescindível apoio da família, algo que considera muito importante: “Sempre tive quem me acompanhasse para todo o lado e agradeço muito a toda a minha família mas, principalmente, aos meus pais e ao meu irmão mais novo”.

 

O guarda-redes é sempre o último a ultrapassar, por isso, talvez a responsabilidade seja maior e Gonçalo sabe-o bem: “Por vezes é ingrato, mas faz parte do jogo, estou ali por vocação, sempre gostei de jogar à baliza”. O seu ídolo é Ederson Moraes, jogador do Manchester City, por isso, promete “trabalhar dia após dia para evoluir em todos os aspetos e chegar ao topo”, confessa o aluno da Escola Secundária de Moura (curso profissional).

 

Chegada a altura de eleger o mais talentoso dos irmãos, ainda que joguem em lugares distintos, Gonçalo diz que ambos têm qualidades “mas sim, o meu irmão tem mais experiência”. Já Ricardo lembra que tiveram um percurso idêntico: “Sem dúvida que sou o mais talentoso dos dois, pelo menos com os pés, com as mãos e entre os postes, ele é melhor do que eu”. Ambos, e em uníssono, convergem no sentimento de que “é um orgulho” vestir a camisola do Moura: “É um grande clube, foi o único onde jogámos até hoje, e jogarmos juntos ainda torna as coisas mais especiais. Esperamos que aconteça muitas vezes”.

Fonte:  https://diariodoalentejo.pt/

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