domingo, 11 de abril de 2021

Como se conquista a motivação numa equipa como o Beja Atlético Clube

 

Voltamos ao tema da motivação, do ânimo, da resiliência, tão necessárias todas elas se têm revelado para contrariarmos, senão, vencermos, os nossos medos, os nossos estados de ansiedade e de incerteza quanto à forma, e ao conteúdo, das estratégias para melhor encararmos o futuro.

 

Texto Firmino Paixão

 

A tempestade parece amainar, mas não é certo que lhe suceda a bonança. Aliás, este é um tempo em que não existem certezas de coisa nenhuma. Estamos a passar por um período de aprendizagem, de dúvidas, tudo, para além do momento que vivemos, agora e aqui, é desconhecido. Como se sairá disto? Como podemos encarar o amanhã, se até os que falam em nome da ciência dizem hoje uma coisa e amanhã o inverso? O primeiro caso de covid-19 em Portugal foi diagnosticado no dia 2 de março de 2020. Cerca de 13 meses depois, como estamos? Com economia quase em recessão, com o turismo, o desporto e a cultura em suspenso, o desemprego galopante, num processo de desconfinamento tímido, pelas tais incertezas do amanhã, com as escolas sem alunos, com os campos de futebol desertos e com as modalidades individuais à espera de retoma.

 

O Beja Atlético Clube, clube de topo deste distrito, na modalidade de atletismo, será talvez o emblema que mais afetado foi por esta pandemia, pelo vírus que além de ter atingido alguns dos seus atletas também limitou os objetivos e, sabe-se lá, impediu a concretização de alguns sonhos. Um ano depois, recupera-se lentamente a normalidade, mas, pelo caminho, certamente que ficaram algumas perdas, alguns momentos de possível glória que já não são possíveis de reversão.

 

O diretor desportivo do clube, Bento Palma, também ele um antigo atleta, deixa aqui uma síntese da sua visão dos acontecimentos: “Há um ano o impensável aconteceu. Tudo parou! Tudo se transformou num novo normal. Sem competições agendadas, começaram a surgir os primeiros sinais de desânimo entre os nossos atletas”. A seguir vieram as consequências que o dirigente aqui relata: “O desânimo trouxe a incerteza, a dúvida, a desmotivação a ansiedade, estávamos (e ainda estamos) perante um novo mundo, o mundo do desconhecido”.

 

Surgiram os primeiros sinais da crise emocional. “Alguns atletas até se questionaram com a sua continuidade na modalidade. Era e é difícil planear, metodicamente, o treino sem uma calendarização das competições”. O atletismo é, e Bento Palma sabe do que fala, uma “aprendizagem” para toda a vida. “Viver é renovarmo-nos a cada dia, reinventarmo-nos de todas as maneiras possíveis, superar os nossos próprios limites. Viver é arriscar, cair, levantar, prosseguir e nunca, mas nunca desistir”.

 

Já o dissemos, a desistência de metas, o abandono de perseguir o sonho, foi algo inevitável, um sentimento assim caracterizado por Bento Palma: “Corria o mês de março de 2020 quando o mundo e as competições desportivas fecharam portas, muitos atletas desistiram dos seus objetivos. O atletismo não foi, não é e nunca será uma modalidade fácil de praticar. O atletismo tem associado o sentimento de dor e todo o atleta sabe que a vai sentir no seu treino diário. Este desporto é para ‘guerreiros’ que se propõem vencer o seu próprio cansaço, os seus próprios medos e os seus próprios limites”.

 

Com a sua experiência adquirida no terreno, o diretor do clube acrescenta: “Todo o atleta é possuidor de características muito específicas, nomeadamente, a disciplina, a determinação e um espírito de sacrifício inabalável, associados a uma enorme paixão pelo atletismo, pelo amar correr e desfrutar da corrida. De entre as muitas restrições impostas por força da pandemia de covid-19, a legislação permitiu a prática do exercício físico, embora de forma isolada. O atletismo é uma modalidade que, na sua essência, é praticado individualmente”.

 

Por isso, foi delineada uma primeira estratégia. “Perante esta característica da modalidade, jogámos com os fatores intrínsecos, designadamente, dando continuidade ao treino regular, tendo sempre presente que, a partir do momento em que existisse algum tipo de competição estaríamos aptos a enfrentá-la”.

 

Ainda assim, houve que incentivar os atletas. “Para que este princípio permanecesse houve a necessidade de transmitir aos nossos atletas o espírito de resiliência, a fim de se superarem diariamente nas suas unidades de treino. Procurou-se sempre incutir-lhes a ideia de que deveriam de ser eles os adversários de si próprios, na busca da sua melhor versão, visto que é necessária muita coragem e determinação para eles conquistarem as metas, às quais se propuseram. O esforço é um investimento a longo prazo”.

 

Contudo, adianta Bento Palma, “por mais estranho que possa parecer há algo que os nossos atletas têm bem presente na sua mente: nada dura para sempre e, neste âmbito, integram-se as vitórias e as derrotas. Tudo acaba por mudar, por passar, eventualmente esta pandemia. O atleta, somente, precisa de acreditar, treinar e nunca desistir, pois quando há vontade, quando se acredita, tudo é possível e os sonhos tornam-se mais reais e passíveis de materializar. A persistência, a determinação, a superação ir-se-ão sobrepor a todo o sofrimento no processo evolutivo”.

 

A motivação, o estímulo, está dentro do próprio atleta, parece dizer o dirigente do clube. “Os atletas terão de encarar as dificuldades somente por aquilo que elas significam, ou seja, momentos difíceis, mas necessários, momentos de crescimento e aprendizagem e, muitas vezes, também oportunidades para mudar o que não estará bem quer na vida, quer no treino. Perante isto podemos afirmar que o treino é muito mais do que resistência, ele é também determinação, superação e resiliência que ajuda a desenvolver uma força inabalável e uma confiança indestrutível, acreditando sempre que sem sacrifício não poderão existir vitórias”. Mas há também os mais jovens, porque o Beja Atlético Clube tem uma enorme franja de meninos e meninas nas suas fileiras. Bento Palma conta que a escola de formação praticamente parou. “Esta é a situação que, de momento, consideramos mais preocupante, visto que é urgente agir, a fim de recuperar e desenvolver todo o potencial existente no Clube. Todavia, o clima de incerteza envolvente impede-nos de fazer qualquer programação a curto, médio e longo prazo”.

 

“Resta-nos, portanto, esperar o evoluir da situação epidemiológica e, certamente, quando estiveram reunidas as condições de saúde pública favoráveis para o regresso, tomaremos as decisões ajustadas ao momento. Porém, paira no ar o receio daquilo que muitos já apelidam de uma geração perdida”, conclui.

Fonte: https://diariodoalentejo.pt/

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