Se existem clubes que têm lugar reservado na história do futebol alentejano, o Ferróbico é um deles. Pelo seu prestígio, pela sua mística, pelas suas conquistas e pelas estórias que soube associar ao seu historial.
Texto Firmino Paixão
O Clube Recreativo e Desportivo de Cabeça Gorda foi fundado, apenas, em 1976, mas não há quem, em tão curta existência e tendo tão pouco, tenha conquistado tanto protagonismo. As estórias são muitas, mas sobressai o tal golo de Pepe que, naquela tarde de janeiro de 1981, eliminou o Penafiel (de António Oliveira e Zandinga) da Taça de Portugal. Os tempos são outros, as gerações rodam e os clubes rejuvenescem. Sérgio Jacinto, atual presidente do Ferróbico, é filho do primeiro presidente do clube, o histórico dirigente Manuel do Sacramento Jacinto. Há três anos, a saída prematura do treinador José Luís Prazeres e a debandada de jogadores que o acompanharam para Serpa levaram os dirigentes do Cabeça Gorda a fecharem as portas ao futebol sénior, mantendo-se apenas na formação. O regresso, tão desejado por sócios e simpatizantes, acontece já na próxima época desportiva. “Sejam bem-vindos”. Sérgio Jacinto justifica aqui o que motivou esta decisão.
A novidade é o regresso do Ferróbico ao futebol sénior na próxima época. E esta é a altura ideal para o fazerem?
Sim, nós suspendemos a atividade há três ou quatro anos, por termos entendido que não tínhamos condições para continuarmos com o futebol sénior. Agora percebemos que existem condições para retomarmos a atividade. O clube tem um peso importante na freguesia e na região. Mantivemos o futebol de formação e já temos dois ou três miúdos capazes de jogar pelos seniores. Entretanto, conseguimos resolver alguns problemas que existiam em termos da sede, e decidimos que estava na altura de avançar de novo com o futebol sénior. Surgiu a pandemia que obrigou ao encerramento de algumas coletividades mas, se calhar, ao reequilíbrio de muitas outras, porque, pelos vistos, além de nós, regressarão muitos outros clubes.
Face ao historial deste clube, a inexistência de uma equipa de seniores, fazia pouco sentido?
Claro. As pessoas da nossa freguesia, quer sejam os residentes, e até os ausentes no estrangeiro e noutras partes do País, estavam sempre a questionar sobre o regresso do futebol sénior. As equipas de formação geram algum interesse, mas o futebol sénior é o que gera aquela paixão que entusiasma os adeptos e os orgulha por pertencerem a este clube. Como o clube é muito conhecido, as pessoas interessam-se muito.
É o futebol sénior que leva os adeptos ao campo de jogos José Agostinho de Matos…
O nosso intuito em manter o futebol sénior e apostar nos jogadores da terra tem muito a ver, também, com aquele ambiente familiar que se vivia ali no campo de futebol e que foi ganhando força através dos tempos. Estava ali a família do Ferróbico, que também dava muita dinâmica à freguesia, e isso é muito importante do ponto de vista social.
A equipa técnica será formada pelo Luís Lebre e pelo Francisco George, dois homens que conhecem os cantos da casa…
No ano em que suspendemos o futebol sénior, e antes de essa decisão ser tomada, tínhamos convidado o Luís Lebre para comandar uma possível equipa, projeto que depois não se concretizou. Por isso, agora, entendemos que ele deveria ser a primeira pessoa a ser convidada. Ele aceitou e ficou feliz com o convite. O Francisco George também foi nosso atleta, foi capitão de equipa, achámos que seria a pessoa ideal para dar uma ajuda ao Luís Lebre e formámos uma dupla que conhece bem o clube e sabe com o que poderá contar da nossa parte.
O que lhe foi pedido em termos desportivos?
Tudo indica que o campeonato será muito competitivo. Muitas equipas estão a reforçar-se bem e até com outro poder financeiro. Nós não queremos enveredar por esse caminho e o que pedimos foi que a equipa fosse competitiva e que entrasse em todos os jogos para vencer. O clube tem um nome e um passado a defender, e o nosso objetivo é atingir a segunda fase do campeonato e chegar o mais longe possível na Taça de Honra e na Taça Distrito.
E o plantel? Quase todos os dias têm apresentado jogadores. São todos reforços porque a equipa será nova…
Formar um plantel para a II Divisão é sempre diferente do que fazê-lo para a I Divisão. O nosso intuito foi convidar todos os jogadores da terra e os que tinha passado por cá noutras épocas… e partirmos daí. Muitos jogadores da terra, que estavam dispersos por alguns clubes, incentivaram-nos a avançarmos com a equipa, prometendo que regressariam ao clube. Portanto, queremos ter o maior número de atletas aqui da terra, isso faz todo o sentido. Depois, “atacámos” alguns que já foram nossos jogadores e que foram referenciados pelo ‘míster’, e o plantel está praticamente fechado. Mas tentamos ter uma relação cordial com os outros clubes, sem promovermos qualquer tipo de sangria nos seus plantéis.
A aposta na formação vai manter-se?
Sim, já fizemos uma ação de captação e faremos ainda mais duas até final do mês, para percebermos com o que poderemos contar, porque nós trabalhamos sobretudo com miúdos da Cabeça Gorda e da nossa vizinha Salvada, ou de Quintos. Temos que perceber por onde poderemos avançar, mas queríamos, pelo menos, fazer equipas em dois escalões.
A população da Cabeça Gorda está a reagir bem a esta atual dinâmica do clube?
Sim, reagiram maioritariamente bem, somos uma freguesia pequena, temos cerca de 1500 habitantes, mas existe um grande interesse e carinho pelo associativismo e a atividade desportiva faz parte da rotina das pessoas. Os treinos, os jogos, os convívios na sede, têm uma função social importante e as pessoas ficaram felizes com este regresso do futebol sénior. Temos também a secção de BTT, que tem uma dinâmica própria e promove iniciativas de que as pessoas também gostam muito, mas a pandemia não lhes tem permitido organizar as suas habituais provas. E também temos a columbofilia, modalidade que está a criar uma aldeia columbófila junto ao campo de futebol.
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