sábado, 23 de julho de 2022

Bola de trapos, edição de 22/07/2022, no Diário do Alentejo

José Saúde
Futebol de salão
A estonteante velocidade do tempo, tempo este que não tem limites, leva-nos a enveredar por caminhos onde outrora fomos meros atores em noites escaldantes e de infindáveis prazeres desportivos. Sim, naquele tempo, já longínquo, o futebol de salão era uma modalidade puramente amadora e predestinada a jovens, embora muitos deles fossem meninos de tenra idade, mas homens feitos face às circunstâncias da vida, pois já tinham encontrado emprego, sendo que em cada final de semana lá levavam para casa a maquia da jorna. Um conjunto de moços uniam-se à volta de uma equipa onde os nomes das formações assentavam em quiméricas opiniões que reunissem consenso de toda a malta. Naquelas noites de verão o jardim público Gago Coutinho e Sacadura Cabral, de Beja, assumia-se como anfitrião de um mar de gentes. Os ventos vindos do Sul traziam uma aragem fresca e a rapaziada, e outras pessoas já entradotes na idade, refrescavam-se com a aragem da noitada. No coreto ouvia-se a banda de música da Capricho e a esplanada, pertencente ao quiosque, não tinha mãos a medir para servir uma clientela que preenchia por completo aquele espaço. Outros, estendiam as pernas nos bancos feitos em madeira. O rinque, principalmente, reunia uma multidão de indivíduos que não perdiam a oportunidade para assistir a mais uma jogatana de futebol de salão. Sob a arbitragem do saudoso Manuel Ferreira, vulgo “Pé de Ginja”, as equipas entravam alinhadas e a população desde logo entrava em êxtase. Na minha já usada memória subsistem momentos de inolvidáveis jogos, onde a luta pela vitória se apresentava magistralmente divinal. Em julho do ano de 1968, se a mente não me falha, um grupo de rapaziada oriundos de clubes de Beja, Despertar e Desportivo, mas que, entretanto, se haviam fixado em grandes emblemas nacionais, sobretudo nos escalões de formação, resolveram entrar na competição, formando uma turma na qual se inseriam o Vaz Lança (Sporting), Caetano (Belenenses), Cano Brito (Benfica), Saúde (Sporting) e Zé Manel Serrano (Despertar). Face aos nomes apresentados no quinteto tudo levava a crer que eram favas contadas e que não existia adversário, à altura, para levar de vencida o “poderoso” time. Mas, conclui-se, logo no primeiro jogo, que os nomes eram coisa de somenos importância. Os então “ases” da bola defrontaram uma equipa jovem, mas fundamentalmente valiosa. Orientados pelo experiente Ildo (Carlos Venâncio), essa turma juvenil era alimentada por preciosas promessas que, mais tarde, fizeram furor no futebol nacional, sendo os casos mais evidentes o de Vítor Madeira e Zé António. Perdemos (3-1), é verdade, só que o jogo não chegou ao fim, visto que tudo desabou para amargos de boca dos “craques” que se viram em desvantagem e quando nada o fazia prever. Resta cortejar a saudade que hoje nos invade alma dessas noites quentes de futebol de salão.
Fonte: Facebook de JOse saude

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