O Clube Desportivo de Beja vai ter, na próxima época desportiva, duas equipas femininas a praticar futebol. Uma no escalão Sub/19, para competir a nível nacional, e outra Sub/14, para competir a nível regional.
Texto Firmino Paixão
É uma novidade. Nada de inédito, porém, porque, em tempos idos, o clube já acolheu o futebol no feminino. Na próxima época, o projeto que existia sob bandeira da Associação Cultural e Desportiva do Penedo Gordo descolou daquele emblema e vai desenvolver-se na cidade de Beja. E já tem rostos: Margarida Gomes, ex-jogadora do Castrense, será a coordenadora da secção e Carolina Silva, antiga internacional Sub/17 e Sub/19, será a treinadora da equipa Sub/14, mantendo a sua ligação ao projeto inicial; Jorge Delgado treinará a equipa Sub/19 e todos reportarão ao responsável pelo departamento de formação do Clube Desportivo de Beja, Francisco Agatão.
Margarida Gomes explicou ao “Diário do Alentejo” todo o processo. “Eu e a Carolina demos o pontapé de saída, na época passada, no Penedo Gordo. Queríamos promover o futebol feminino e a prática desportiva das raparigas, esse foi sempre o nosso principal foco. O processo vinha a ser preparado há cerca de cinco anos e achámos que estava na altura de avançarmos com o futebol feminino na época certa. Dada a impossibilidade de nos mantermos naquele clube e, pelo que nos tem sido dado observar, entendemos que o Clube Desportivo de Beja era o clube certo para prosseguirmos, é o clube que mostrou muita vontade em querer apoiar as atletas, dar-lhes as condições que são necessárias, e isso permitiu-nos continuar com a evolução do projecto, com o especial significado de que duplicaremos o número das equipas, de uma época para a outra”.
Para que o projeto mantenha o seu crescimento, as bases de recrutamento são fundamentais, anuiu a técnica. “Temos que perceber exatamente quais são os primeiros indicadores que levam a jovem atleta a querer entrar no futebol ou, até mesmo, a querer desistir. O treinador é uma pessoa muito importante, o clube e os transportes também são essenciais, e não é difícil motivar o interesse da rapariga. Nós temos é que quebrar algumas barreiras e tabus, essa é a principal dificuldade. A própria rapariga quer integrar-se numa equipa de raparigas. Temos que trabalhar isso com alguma sensibilidade, as pessoas acham que é simples, mas não é, e depois, também, outras das principais características é a integração dos pais no processo desportivo da jovem atleta, para que possamos ter resultados e ela não desista”.
O projeto é, naturalmente, ambicioso, por isso Margarida Gomes realçou que “uma coisa importante no desporto é que nós queremos sempre ganhar, como é óbvio, e é isso também que nos caracteriza, a competitividade e o desportivismo, portanto, queremos ter uma boa representatividade, queremos levar o Desportivo de Beja e a equipa Sub/19 a bons resultados nacionais”. Lembra, contudo, que “antes de irmos para a competição é importante também trabalharmos a nossa formação e não esquecer esse foco, porque será isso que nos dará continuidade, no futuro, para mantermos a equipa de Sub/19. Queremos ter igualmente bons resultados com a nossa equipa Sub/14. Estamos a trabalhar as nossas equipas técnicas para que, no início da época, estejamos a 100 por cento e a ambição é essa, termos representatividade nacional, merecemo-lo, o Desportivo de Beja também, e tem capacidade para isso, aliás, termos mais atletas e mais escalões competitivos passa também pelas nossas prioridades”.
Recordando a existência de uma outra representação a competir a nível nacional, o Ourique Desportos Clube, questionámos o pacifismo da coexistência dos dois projectos, face à exiguidade de recursos, ao que Margarida Gomes replicou que: “A minha filosofia é que temos que ter em conta que, quando apostamos no futebol feminino nesta região, não podemos ser adversárias. Temos que dar as mãos, porque se uma equipa desaparecer, será menos uma que teremos na região. Não é esse o nosso objetivo, pois temos uma missão para a região e para as pessoas desta região”. E adiantou que “o que nós procuramos é mais raparigas que nunca tenham jogado à bola e que queiram experimentar, porque o futebol, como outra modalidade, também é para as raparigas, não promoveremos nenhum tipo de concorrência, antes pelo contrário. Toda a gente será bem bem-vinda. Começaremos a nossa época em setembro e queremos que ela seja um espaço aberto a todas as raparigas que gostem de praticar futebol”, rematou.
Francisco Agatão, coordenador do Departamento de Formação do clube, revelou que: “Fui consultado e, imediatamente, dei o meu acordo a que pudéssemos acolher uma estrutura que, de alguma forma, estava montada no Penedo Gordo e que, por factores que não nos interessa estar a escalpelizar, provavelmente iria deixar de existir, e nós acolhemo-la com todo o gosto, com toda a satisfação e com o desejo de permitirmos que essas jovens continuem a fazer aquilo que mais gostam, que é jogar futebol e proporcionar-lhes todas as condições para que isso aconteça”. Agatão reconheceu que “o Desportivo de Beja acolheu o projeto com a maior satisfação possível e quero acreditar que a massa associativa do clube também o irá fazer com todo o gosto e orgulho”, fazendo notar que “é essencial que a presença dos pais seja uma realidade, espero que falem connosco, que nos deem sinais de colaboração, aspetos que teremos em linha de conta, porque este será mais um desafio enorme para todos nós, mais para mim, porque será uma novidade, mas será aliciante trabalhar com pessoas que sabemos, porque já o demonstraram, que têm qualidade e com as quais contamos para erguermos cada vez mais o nome do Clube Desportivo de Beja, um clube histórico e secular que, desta forma, terá ainda mais visibilidade”, concluiu.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt/
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